Antônio em Mussum, o Filmis (Globo Filmes/Reprodução)
Sócio e diretor-geral da Loures Consultoria - Colunista Bússola
Publicado em 11 de novembro de 2023 às 08h00.
Assisti a Mussum – O Filmis. Trabalho primoroso de Ailton Graça no papel do humorista em sua fase adulta. Ele carrega o filme – e isso não é desmerecer o restante, muito pelo contrário. Não à toa a produção levou os troféus de Melhor Filme no 51º Festival de Cinema, pelos júris oficial e popular.
Mussum é um caso interessante. Antônio Carlos Bernardes Gomes, seu nome, morreu em 1994, por complicações em um transplante de coração. Já são quase 30 anos de seu falecimento!
Na indústria musical, Mussum integrou o grupo Os Originais do Samba a partir de meados da década de 1960, com os nomes artísticos "Carlinhos da Mangueira" e "Carlinhos do Reco-Reco". É muito tempo atrás!
Mesmo em Os Trapalhões, seu mais conhecido trabalho, o auge foi na década de 1980.
Com todo esse espaço temporal, Mussum é ainda reverenciado pela cultura popular. E nessa última palavra creio que está seu segredo. Antônio Carlos sempre foi popular. Ele se assemelha ao fenômeno de Seu Madruga, do seriado Chaves, outro com essa característica (além do chapéu em formato parecido).
Mussum se celebrizou por expressões que satirizavam sua condição de negro, tais como "negão é o teu passádis" e "quero morrer prêtis se eu estiver mentindo", além de recorrentes piadas sobre bebidas alcoólicas. Também criou frases hilariantes que se popularizaram rapidamente, como "eu vou me pirulitazis (pirulitar)", quando fugia de uma situação perigosa, ou "traz mais uma ampola", pedindo cerveja ou o seu “mé” (cachaça).
Muitas de suas expressões e dos quadros dos Trapalhões seriam barrados ou criticados por inadequação hoje em dia. É a evolução da sociedade, aquela época era outra.
O filme recupera uma história de superação e traz fatos pouco conhecidos. Descobre-se uma pessoa que, pelo menos para os mais velhos, parecia ser já esmiuçada, e não era. O diretor Silvio Guindane vai liberando informações sobre a origem do apelido, a importância da mãe do protagonista, a separação dos Trapalhões (sim, existiu), o porquê de usar “is” no fim das palavras como “cacilda” (virando “cacildis”)... e por aí vai.
É preciso também ressaltar o filme tecnicamente. A qualidade do som, por exemplo, é um diferencial entre as produções nacionais.
O filme não é perfeito – e cobrar isso seria absurdo. Há personagens e passagens caricatos. É o resultado de um filme que é uma homenagem a um ícone.
Mussum foi o segundo negro a estrelar um programa na TV brasileira, informa o filme – após Grande Otelo, que tem participação decisiva em sua vida (e na produção). Seu legado está firme e o longa-metragem honra isso.
Seja na fase criança (Thawan Lucas), na juventude (Yuri Marçal) ou quando adulto (Ailton Graça), o Mussum que vê em tela é inspiração para que cada vez mais tenhamos estrelas pretas, pardas, amarelas, vermelhas, brancas na cultura brasileira – e agradecer por o país ter evoluído (ainda que com espaço para muito mais) neste quesito desde Os Trapalhões, com Antônio Carlos sendo crucial neste caminho.
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