Bússola

Um conteúdo Bússola

Para capturar o valor do ESG é preciso ir além das boas intenções

Empresas brasileiras precisam evoluir em suas práticas ESG e a base para isso deve ser o planejamento estratégico

“Hoje” é sempre o melhor dia para colocar em prática discursos e intenções sustentáveis (Roman Synkevych/Divulgação)

“Hoje” é sempre o melhor dia para colocar em prática discursos e intenções sustentáveis (Roman Synkevych/Divulgação)

B

Bússola

Publicado em 8 de fevereiro de 2022 às 12h39.

Por Danilo Maeda*

Ao menos entre a parcela mais bem informada do mercado, não há dúvidas: investir em boas práticas de gestão dos impactos socioambientais vale a pena. Como resumem Benoit Leleux e Jan Van Der Kaaij no excelente livro Winning Sustainability Strategies (Palgrave MacMillan, 2019, ainda sem tradução), existem quatro tipos de benefício em um business case da sustentabilidade em empresas: 1. Cortes de custos a partir de soluções eco eficientes, como redução no uso de água ou de energia; 2. Geração de receita por meio de inovações sustentáveis; 3. Melhoria de reputação e relacionamento com stakeholders como clientes, funcionários e investidores; 4. Redução de riscos com ações como a diminuição do custo de capital ou da dependência de recursos limitados ou não renováveis.

Por essas questões, segundo os autores, os investidores “não apenas aceitaram, mas incorporaram a sustentabilidade em seus produtos e estratégias. Esses não são filantropos, mas capitalistas que ‘jogam duro’, com um foco claro nos resultados. Se eles encontraram motivos para prestar atenção, há pouco espaço para que outros questionem a validade do tema”.

Se você acha que leu algo parecido recentemente, provavelmente teve contato com a carta anual de Larry Fink, CEO da BlackRock. Na edição 2022, ele declarou que “nos concentramos em sustentabilidade não porque somos ambientalistas, mas porque somos capitalistas e fiduciários para nossos clientes”.

Se a tese é indiscutível, a pergunta que importa é: como capturar valor e atrair investidores que cada vez mais associam performance financeira a boa gestão ESG? O primeiro passo é entender que neste tema não é possível ficar apenas no discurso. E esse é um grande desafio para mercados como o brasileiro.

No levantamento que realizamos com o Instituto FSB Pesquisa com empresas grandes e médias de todo o Brasil ficou evidente que precisamos amadurecer em termos de gestão da sustentabilidade. Por exemplo: a avaliação de materialidade, uma prática fundamental em gestão ESG, é adotada por apenas 19% das empresas, sendo que apenas 42% dessas contam com participação de stakeholders no processo (8% da amostra total).

Mesmo quando avaliamos questões aparentemente mais simples, como o comprometimento da principal liderança da empresa com o desenvolvimento sustentável, apenas 32% consideram que possuem nível alto ou muito alto de engajamento. O dado é consistente com o envolvimento dos CEOs: 33% afirmam participar das decisões mais relevantes e acompanhar resultados regularmente ou se envolver diariamente com o assunto.

Gestão de desempenho socioambiental, mecanismos de governança e transparência são outros desafios importantes. No Brasil, o acompanhamento dos temas ESG relevantes é feito por 22% das empresas grandes e médias. Já os relatórios de sustentabilidade foram publicados por 12% das pesquisadas e apenas 4% informam stakeholders externos sobre seu desempenho em assuntos materiais. Além disso, só 19% afirmaram possuir conselhos de administração com membros independentes.

Se está claro que empresas brasileiras precisam evoluir em suas práticas, a base para isso deve ser o planejamento estratégico. Além de fazer todo sentido em termos de gestão, os riscos socioambientais já estão presentes na estratégia de negócios em 70% das vezes e as análises de contexto social, ambiental e político são feitas em 63% dos casos. Ou seja, na maioria das companhias já existem processos para mapear temas ESG relevantes ao negócio. Falta transformar isso em práticas e estratégias que deem senso de direção para os esforços da empresa, de modo que se possa de fato adicionar valor a todos os stakeholders.

“Hoje” é sempre o melhor dia para colocar em prática discursos e intenções sustentáveis.

*Danilo Maeda é head da Beon, consultoria de ESG do Grupo FSB

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

Siga a Bússola nas redes: Instagram | LinkedInTwitter | Facebook | Youtube

Veja também

Acompanhe tudo sobre:SustentabilidadeEconomia verde

Mais de Bússola

Opinião: estamos chegando no limite do desenvolvimento das tecnologias digitais

Brasileiros acima dos 60 anos são os que mais reciclam, aponta pesquisa

‘ECA Digital’ entrará em vigor em seis meses. Como as empresas podem se preparar?

Como empresas estão fortalecendo a luta contra o câncer de mama no Outubro Rosa