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Pandêmicos: em defesa dos escritórios

Podem me acusar de velho cringe, já estou acostumado mesmo

Foco excessivo nas relações online nos fará perder uma parte importante do que nos torna humanos (Luis Alvarez/Getty Images)

Foco excessivo nas relações online nos fará perder uma parte importante do que nos torna humanos (Luis Alvarez/Getty Images)

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Publicado em 4 de agosto de 2021 às 19h20.

Última atualização em 4 de agosto de 2021 às 19h56.

Por Rodrigo Pinotti*

Nunca achei que fosse escrever isso algum dia na minha vida, mas vamos lá: não podemos deixar os escritórios morrerem. Depois da experiência forçada que foi o home office pandêmico, creio que tenha ficado claro que essas selvas corporativas habitadas por uma fauna diversa e regada por rios de café funcionam, ao mesmo tempo, como uma espécie de cimento social e balança da vida adulta, ajudando a equilibrar o trabalho e a vida pessoal mais ou menos em seus respectivos espaços.

Estou falando da média das pessoas, obviamente. É claro que, para alguns, é melhor trabalhar de casa para sempre, pela personalidade ou pela natureza da atividade — ou ambos. Para o conjunto dos trabalhadores de escritórios, por outro lado, ter um obstáculo obrigatório entre a vida pessoal e o trabalho pode trazer mais benefícios do que perdas.

Durkheim fundou as bases da sociologia em O Suicídio defendendo que um nível baixo de integração social normalmente resulta em desorganização e desespero, enquanto que integração em excesso leva as pessoas a destruir as próprias vidas para escapar ao controle em demasia. No microcosmo corporativo, o ambiente corporativo de um escritório ajuda nesse balanceamento, embora encontrar esse equilíbrio sempre tenha sido uma das grandes questões da carreira corporativa. Extremos são sempre ruins, em qualquer área.

Sem um espaço onde todos (ou grande parte) fiquem juntos ao mesmo tempo (ou pelo menos em um modelo híbrido, como tanto tem se falado), é extremamente difícil criar e manter coesa uma cultura corporativa que reflita o que se passa ali, sem entrar no mérito sobre se boa ou ruim. Também é mais difícil criar amizades, ou gerar companheirismo, afinidade ou mesmo fidelidade, características extremamente relevantes para o dia a dia das equipes e das organizações.

Eu me lembro bem do dia em que embrulhamos o computador de um colega em jornal usando um quilo de fita adesiva, para em seguida vê-lo entrar falando com um cliente ao celular e admitir que não tinha como mandar aquela planilha de preços naquela hora porque, afinal, alguém tinha embrulhado o seu computador em jornal (acho que poucas vezes ri como naquele episódio). Alguns de meus amigos mais próximos, conheci no escritório. Eu me casei e tive dois filhos com alguém que conheci no escritório — dizem que jornalistas só se reproduzem em cativeiro, e imagino que isso acabe valendo para outras profissões também.

No meio de tudo isso, ainda encontramos tempo para trabalhar — ou, talvez exatamente por isso, pelas relações que se criam, é que podemos alcançar o nosso potencial. O ser humano é um animal social, e os laços que criamos nos impulsionam, nos ajudam a ser mais criativos e a aprender com as experiências dos outros.

Podem me acusar de ser velho ao defender isso. Justo. Podem dizer também que o trabalho online permite essa interação toda. Discordo. Podem também argumentar que ficamos bem mais próximos da família, ideia com a qual concordo e aprecio, e de fato poder acompanhar melhor o crescimento dos filhos, por exemplo, tem um valor incalculável. Mas sinto que, no longo prazo, um foco excessivo nas relações online nos fará perder uma parte importante do que nos torna humanos. Vamos pensar nisso para entender como fazer isso funcionar daqui para a frente.

*Rodrigo Pinotti é sócio-diretor da FSB Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da revista.

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