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Pandemia de covid-19: quando a realidade é pior que qualquer previsão

Não há nada no horizonte que permita vislumbrar melhora nos indicadores, e segunda onda virou bomba-relógio no Brasil

 (Divulgação/Divulgação)

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André Martins

Publicado em 8 de março de 2021 às 12h53.

No início da semana passada, a Imperial College, universidade britânica que vem monitorando as estatísticas da covid-19 em todo o mundo, divulgou que a taxa de transmissão (Rt) da pandemia no Brasil havia crescido de 1,02 para 1,13 em uma semana, um aumento de 11%. Quando está acima de 1,0, a taxa indica aceleração da pandemia; quando está abaixo, mostra redução do contágio.

Na mesma previsão, os pesquisadores projetaram, no cenário mais pessimista, que a média móvel de mortes por coronavírus no país atingiria ontem 1.350 óbitos/dia.

A previsão parecia alarmante, mas a realidade foi ainda mais dura. Bem mais dura. A média de mortes diárias chegou neste domingo a inéditos 1.496, um recorde absoluto, conforme mostra o gráfico abaixo com dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (CONASS).

(Bússola/Reprodução)

 

Foi o primeiro domingo com mais de mil mortes registradas, 1.086, mais precisamente. Nas duas últimas semanas, a média móvel de sete dias deu um salto de 44%. Estamos há 46 dias consecutivos acima do patamar médio de 1.000 óbitos por dia. Para se ter uma ideia, durante a primeira onda da doença, que, no Brasil, durou entre o final de maio e o final de agosto, ficamos “apenas” 40 dias acima desse patamar.

A semana terminada ontem também foi a pior de toda a pandemia. Foram 10.469 vidas perdidas para a covid-19 entre segunda-feira passada e este domingo. Na semana anterior, haviam sido registrados 8.438 óbitos – até então a pior semana. Na primeira onda, a semana mais trágica havia ocorrido entre 20 e 26 de julho do ano passado, com 7.516 óbitos no período de sete dias terminados no domingo. Desde o início da pandemia, o Brasil acumula 265.411 vítimas.

E não há nada no horizonte que nos permita vislumbrar uma melhora nos indicadores da pandemia. Pelo contrário. O número de casos, por exemplo, também não para de crescer. Neste domingo, a média móvel de novos casos oficialmente diagnosticados atingiu 66.869, uma alta de 39% nas duas últimas semanas. O patamar também é recorde, e a tendência continua sendo de forte alta.

(Bússola/Reprodução)

À beira do colapso

Com mais casos, temos assistido em todo país à superlotação das UTIs, com filas de espera de dezenas de pessoas contaminadas pelo coronavírus. Dados divulgados pela Fiocruz, na última quinta-feira, mostram que as UTIs nunca estiveram tão cheias quanto agora.

São 19 estados em patamar crítico – sem incluir o estado de São Paulo, que neste fim de semana também ultrapassou a barreira dos 80% de ocupação.

Essa superlotação tem ocorrido não só porque há mais gente ficando doente, mas também porque as novas cepas indicam ser mais contagiosas – há cada vez mais jovens e pessoas sem comorbidades necessitando de auxílio hospitalar – e têm feito com que os doentes precisem de mais tempo de internação.

Bomba-relógio

Todos esses elementos ajudam a explicar porque a bomba-relógio da segunda onda estourou com tanta força no Brasil.

Diversos especialistas, entre eles os mais renomados infectologistas do país, têm defendido a adoção de lockdowns como a única forma de frear a contaminação. Restringir a circulação das pessoas por pelo menos 15 dias tem sido apontada como a única solução para controlar a doença no curto prazo.

Mas o que temos visto é justamente o oposto. Primeiro, porque parte dos governantes tem resistido a tais medidas. E nem mesmo nos estados ou municípios onde foram adotadas regras mais rígidas temos visto uma menor circulação de pessoas.

Um dos principais exemplos do que vem ocorrendo é a própria capital do país. Em Brasília, onde há uma semana o governo local decretou um lockdown – parcial, é bem verdade –, basta uma rápida andada pelas ruas para vermos lojas abertas, pessoas sem máscara (jovens, mas também idosos), aglomerações.

Em outras cidades não é diferente.

Ao que parece, cansada da pandemia, boa parte da população resolveu ao menos tentar levar uma vida mais normal. O problema é que quem também segue levando uma vida normal é o próprio coronavírus, que tem como função vital contaminar pessoas para se reproduzir.

Para piorar, o vírus não só não deixou de circular por aí, como se fortaleceu. Há pelo menos seis novas variantes em circulação no país, parte delas mais contagiante e, ao que parece, mais perigosa.

Se não há nada no horizonte que indique um refresco no quadro epidemiológico e boa parte da população parece não ter entendido a gravidade da situação atual, caberia aos governantes a adoção de uma política nacional uniforme, com medidas em todo o país e campanhas educativas – ou, porque não dizer, alarmantes.

Mas, infelizmente, sabemos que esse cenário também não está no horizonte. O que nos leva a apostar na piora dos números nas próximas semanas. Infelizmente, essa parece ser a trajetória atual da pandemia.

* Marcelo Tokarski é sócio-diretor do Instituto FSB Pesquisa e da FSB Inteligência

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