demaerre - Inteligência artificial não é capaz de dar os saltos característicos da criatividade humana (demaerre /Getty Images)
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Publicado em 3 de outubro de 2025 às 15h00.
Última atualização em 3 de outubro de 2025 às 15h11.
Por Graziela Mônaco, Diretora de Criação da Make ID*
O avanço da inteligência artificial tem transformado práticas profissionais em diferentes setores, especialmente no campo criativo.
A discussão sobre até que ponto a tecnologia substitui ou veio para potencializar o trabalho humano, vem sendo fomentada em diversas escalas mundo afora.
No ano passado foi tema de destaque em um dos maiores festivais de inovação e cultura do mundo - o SXSW 2024 - em Austin, nos Estados Unidos. Na ocasião, uma frase se repetia durante todo o evento:
A mensagem resumia a sensação de urgência em adotar a tecnologia como ferramenta indispensável. Para muitos, no entanto, a experiência também trouxe uma espécie de “ressaca”: A impressão de que a tecnologia havia se tornado maior do que as pessoas.
Um ano depois, na edição europeia do festival, em Londres, a abordagem foi distinta. O debate ganhou tons mais humanos, menos centrados nas tecnologias. Em uma das palestras, uma frase chamou a atenção: “A questão não é quão inteligente podemos tornar um dispositivo, mas quão humana podemos tornar a experiência.”
O contraste entre os dois eventos expõe um dilema central: enquanto a IA se mostra eficiente em tarefas de repetição e previsão, a criatividade depende de saltos inesperados e conexões improváveis, onde somente um humano é capaz de fazer.
Em ambientes profissionais, o “choque” já é realidade. Profissionais da publicidade e do design relatam que em alguns processos, diferentes equipes chegam a soluções praticamente idênticas ao usar ferramentas de IA, reflexo de um processo que tende a reforçar padrões e reduzir a imprevisibilidade.
Em um caso do setor, duas duplas criativas trabalharam em paralelo, sem qualquer troca entre si, e chegaram a propostas quase idênticas, não equivocadas, mas previsíveis e pouco originais.
Ele é um ciclo em que as soluções não geram novidade, apenas se redescobrem em versões semelhantes. Neste cenário, apenas a capacidade humana de dar saltos mentais, cruzando territórios distantes e provocando o inesperado, pode romper a previsibilidade.
Especialistas afirmam que o risco não está na tecnologia em si, mas na forma como é usada. A IA pode agilizar tarefas, ampliar repertórios e liberar tempo para que pessoas explorem ideias mais ousadas. No entanto, quando se torna apenas um atalho, tende a produzir o óbvio.
O desafio, portanto, não é abandonar a IA, mas compreender que sua força está em potencializar a capacidade humana de pensar criticamente, criar narrativas originais e desafiar o óbvio.
A criatividade continua sendo um processo essencialmente humano, que depende de coragem crítica e olhar singular para transformar informações em algo novo.
*Graziela Mônaco é Diretora de Criação da Make ID, agência criativa e estratégica que transforma marcas por meio de branding, comunicação integrada e experiências de impacto.