Andamento das obras no Parque da Cidade, em Belém, que sediará a COP30 (Cássio Matos/Agência Pará/Reprodução)
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Publicado em 4 de setembro de 2025 às 06h00.
Por Bruno Barata*
A confirmação de Belém do Pará como sede da COP30, em 2025, não é apenas um marco diplomático para o Brasil; é um chamado para liderarmos a conversa mais crítica do nosso tempo: a transição energética global. Vivemos um momento definidor, onde as decisões tomadas nos próximos anos determinarão a habitabilidade do planeta e a arquitetura da economia mundial. Neste cenário, o Brasil se encontra em uma encruzilhada estratégica, com potencial para ser o grande protagonista da nova economia verde, mas enfrentando desafios complexos que exigem diálogo urgente e soluções inovadoras.
A matriz energética global está passando por uma transformação tectônica. A urgência climática, antes vista como uma pauta exclusivamente ambiental, agora é reconhecida como o principal vetor de risco econômico e de segurança nacional. A instabilidade geopolítica recente, marcada por diferentes conflitos, expôs as vulnerabilidades de um sistema ainda excessivamente dependente de combustíveis fósseis. Em paralelo, a corrida por minerais críticos – essenciais para baterias e tecnologias limpas – redesenha alianças e cria novas tensões internacionais. A transição, portanto, não é apenas sobre substituir fontes de energia; é sobre redefinir o poder global.
Nesse tabuleiro, o Brasil possui cartas únicas. Nossa matriz elétrica já é majoritariamente renovável, um ativo invejável em um mundo que busca desesperadamente a descarbonização. Temos uma história de sucesso com biocombustíveis, um setor de petróleo e gás que busca se reinventar e um potencial imenso para energia solar, eólica offshore e hidrogênio verde. O conceito de "reindustrialização verde" ganha força, prometendo aliar desenvolvimento econômico, geração de empregos e sustentabilidade.
Contudo, navegar essa transição exige mais do que potencial natural. Exige estratégia e responsabilidade. Como equilibrar a necessidade de segurança energética com as metas de descarbonização? De que forma garantiremos que a transição seja justa, combatendo a pobreza energética e assegurando que comunidades vulneráveis, na América Latina, na África e dentro do nosso próprio território, não sejam deixadas para trás? E, crucialmente, como financiar essa transformação trilionária, mobilizando capital público e privado de forma eficiente e transparente?
Essas questões demandam um debate robusto, que transcenda slogans e alinhe governos, setor produtivo, sistema financeiro e sociedade civil. A complexidade dos desafios – que vão desde a criação de mercados de carbono regulados e eficazes até as implicações crescentes do contencioso climático para as empresas – requer fóruns de alto nível que possam traduzir metas globais em ações locais concretas.
É nesse contexto que eventos preparatórios ganham relevância fundamental. Antes dos holofotes se voltarem para Belém, discussões estratégicas precisam acontecer. O Pre-COP30 Global Summit, organizado pelo Instituto New Law, e que ocorrerá nos dias 7 e 8 de novembro no Rio de Janeiro, surge como uma plataforma essencial para esse diálogo. Sob o tema "Transição Energética: Um Planeta, Uma Missão", o evento reunirá autoridades brasileiras, líderes internacionais, especialistas em geopolítica, investidores e representantes do setor energético para debater os nós críticos da transição.
Participar dessas discussões não é apenas uma forma de se antecipar às tendências, mas uma oportunidade de influenciar os rumos que o Brasil adotará. Serão abordados temas como a nova geopolítica da energia, o papel do financiamento climático, a cooperação entre a Europa e a América Latina, e os desafios sociais da transição. É o momento de consolidar uma visão nacional coesa e ambiciosa para apresentar ao mundo.
O caminho até a COP30 será pavimentado pelas decisões que tomarmos agora. O Brasil tem a oportunidade histórica de liderar pelo exemplo, demonstrando que é possível conciliar prosperidade e sustentabilidade. Mas isso requer que enfrentemos a complexidade da transição energética com coragem, inovação e, acima de tudo, um senso de missão compartilhada. O futuro do planeta depende disso, e o momento de agir é agora.
*Bruno Barata é advogado e CEO do New Law.