Estamos prontos para dar esse passo e reimaginar o futuro, apostando no potencial de quem ainda não teve a oportunidade de brilhar (Marilyn Nieves/Getty Images)
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Publicado em 12 de dezembro de 2024 às 10h00.
Por Cecilia Ivanisk*
Não é a primeira vez que falo aqui sobre o impacto transformador de se conectar com nossas habilidades. Nesse sentido, neurociência e linhas da psicologia caminham juntas defendendo que o florescimento humano está diretamente relacionado à identificação e uso dos nossos talentos.
Agora, o que isso tem a ver com mentoria para meninas de baixa renda?
Bem, sabemos das barreiras sociais enfrentadas por essas jovens que, infelizmente, costumam ter menos chances e incentivos para explorar seus talentos e, pior, acreditar neles! Além disso, têm menos acesso a redes de apoio e pouco contato com modelos inspiradores que poderiam ajudá-las a enxergar um futuro diferente – papel essencial de um(a) mentor(a).
A ausência de estímulos positivos e de um ambiente que promova o crescimento e o aprendizado pode fazer com que internalizem uma visão limitada de suas capacidades. Isso porque nosso cérebro responde aos estímulos recebidos, sejam eles de progresso ou de estagnação.
Quando somos incentivados a experiências que validam nossos potencial, o cérebro libera dopamina, um neurotransmissor que atua na motivação, no prazer e no aprendizado. Isso desencadeia um ciclo virtuoso: cada conquista, por menor que seja, reforça a confiança, aumenta a disposição para superar desafios e motiva a busca por novos objetivos.
Ao superarem barreiras individuais, essas meninas podem, ainda, se tornar modelos inspiradores para outras e, porque não, agentes de mudança em suas comunidades - um efeito em escala de transformação social.
Pesquisas do projeto Girl Effect mostram que meninas que participaram de programas de mentoria social com foco em desenvolvimento de habilidades pessoais e profissionais tiveram mais chances de terminar seus estudos e entrarem no mercado de trabalho. Além disso, ao se sentirem reconhecidas e valorizadas, elas desenvolveram habilidades socioemocionais, como empatia, criatividade e liderança.
Já estudos da organização internacional Plan International revelam que programas de mentoria ajudaram a reduzir índices de evasão escolar e estimularam que jovens mulheres passassem a ocupar papéis de liderança comunitária.
A outra boa notícia é que o investimento nessas jovens desperta um motor econômico benéfico. Um estudo do Banco Mundial demonstra que incluir mais mulheres no mercado de trabalho poderia impulsionar a riqueza do mundo em até 20 pontos percentuais do PIB global. Isso acontece porque mulheres investem mais em suas casas e filhos, criando um efeito cascata de desenvolvimento. E por que isso é urgente?
Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), 129 milhões de meninas estão fora da escola em todo o mundo.
Além disso, estudos da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que meninas são mais propensas do que meninos a abandonar os estudos para assumir tarefas domésticas ou cuidar de familiares.
Isso impacta diretamente suas chances de obter empregos formais e bem remunerados, perpetuando a pobreza intergeracional.
Os programas de mentoria social podem ser pontes transformadoras de novas realidades, não apenas para quem recebe o apoio, mas também para quem escolhe contribuir. Esse ato de transformação, em sua essência, conecta-se a uma das necessidades mais elevadas do ser humano: a necessidade de transcendência.
O psicólogo americano Abraham Maslow, em sua "Teoria da Hierarquia das Necessidades", destacou que a vontade de contribuir para algo maior do que si mesmo é o ponto mais elevado do desenvolvimento humano. Ao ajudar outras pessoas e impactar positivamente o mundo, encontramos realização, alinhando propósito individual a mudanças coletivas.
Estamos prontos para dar esse passo e reimaginar o futuro, apostando no potencial de quem ainda não teve a oportunidade de brilhar? Sem dúvidas, esse movimento pode ser o início de uma grande revolução!
*Cecília Ivanisk é fundadora da Learn to Fly
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