A cidade de São Paulo (StockLapse/Getty Images)
Plataforma de conteúdo
Publicado em 24 de outubro de 2025 às 15h00.
Por Rogério Rigato
O Ministério das Cidades publicou, em setembro, a portaria MCid 1.012, considerada um marco importante para impulsionar a inovação e o uso estratégico de tecnologias no planejamento e gestão urbana em todo o país.
A iniciativa apoia os municípios brasileiros na estruturação de políticas públicas que promovam o uso de soluções tecnológicas para proporcionar melhores resultados para a sociedade e o crescimento econômico sustentável.
A medida se faz ainda mais relevante dado ao fato que a complexidade da administração municipal no país ainda é marcada por processos manuais e um grande volume de dados e sistemas isolados.
Essa fragmentação impede o compartilhamento eficaz de informações entre departamentos ou sistemas, reduzindo a precisão e a agilidade nas tomadas de decisão.
A superação de desafios como a manutenção reativa, a falta de visibilidade sobre o desempenho dos serviços e a ausência de indicadores em tempo real depende da adoção de plataformas unificadas.
Essas plataformas funcionam como o centro da gestão urbana, conectando todos os componentes e garantindo o fluxo constante de informações.
Com isso, é possível automatizar processos, responder rapidamente a ocorrências e minimizar os custos de manutenção, além de reduzir as interrupções nos serviços públicos, tornando o controle mais seguro e confiável.
A tecnologia tem um papel fundamental na melhoria da eficiência operacional e da otimização de recursos da zeladoria urbana.
A manutenção de vias, praças e equipamentos públicos, que antes era reativa, passa a ser proativa com o uso de dados acionáveis e aplicativos móveis.
A digitalização dos processos de campo permite que as equipes recebam ordens de serviço com todos os detalhes necessários.
Um exemplo de uma gestão eficiente é o sistema de monitoramento remoto de Obras de Arte Especiais da Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras de São Paulo (SIURB).
Trata-se de uma das soluções de software mais inovadoras da América Latina, e única no Brasil, que atualmente possibilita o monitoramento de 940 aparelhos viários na cidade de São Paulo, como pontes, túneis, viadutos e passarelas.
A tecnologia utilizada pela SIURB permite o acompanhamento de indicadores estruturais críticos, agregando dados de diversas fontes para prevenir riscos e garantir a segurança da população.
A plataforma integra e processa, em um único sistema de informações geográficas, diversas fontes de informação.
Inclui dados de radares satelitais para detectar deformações nas superfícies das estruturas viárias e seus entornos, imagens de câmeras que aproveitam analíticos de vídeo para verificar anomalias como trincas e rachaduras, monitoramento de notícias publicadas em mídias sociais, e ainda levantamentos por drones e equipamentos de escaneamento a laser para gerar gêmeos digitais que informam intervenções preventivas mais eficazes.
A mobilidade urbana é outro setor, dentre outros da governança urbana, que se beneficia da integração tecnológica.
O trânsito é um dos maiores gargalos das cidades, e soluções baseadas em dados em tempo real podem otimizar o fluxo de veículos.
O uso de semáforos inteligentes pode levar a uma redução de 30% das paradas e de 10% na emissão dos gases de efeito estufa.
Esses índices são atestados no Rio de Janeiro e nas cidades paulistas Campinas e São Caetano do Sul, que aderiram ao sistema Green Light, do Google, que usa Inteligência Artificial com informações do Google Maps para otimizar os semáforos.
No âmbito global, o mercado de cidades inteligentes vem se desenvolvendo rapidamente.
Segundo o relatório da empresa norte-americana Grand View Research, publicado em maio deste ano, o setor deve atingir aproximadamente US$ 57,9 bilhões até 2030, crescendo a uma taxa constante de 29,4% de 2025 a 2030.
Esse crescimento pode ser atribuído a iniciativas governamentais rápidas e favoráveis em todo o mundo e à rápida adoção de tecnologias emergentes como a Inteligência Artificial, segurança cibernética, big data e Internet das Coisas.
Longe de ser uma promessa futurista, o conceito de cidade inteligente é hoje uma realidade operacional. Uma nova era é impulsionada por plataformas que integram infraestrutura, dados e pessoas, pilares de um novo modelo de administração pública.
Elas capacitam os gestores a tomarem decisões mais inteligentes, otimizam os serviços e, consequentemente, criam ambientes urbanos mais eficientes e agradáveis para se viver. O futuro das cidades brasileiras passa, inexoravelmente, por esse caminho.
*Rogério Rigato é geógrafo e gerente da Smart Sky, hub de tecnologia aplicada à cidades inteligentes.