Caso do Louvre ensina uma lição valiosa (Getty Images)
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Publicado em 21 de novembro de 2025 às 15h00.
*Por Alexandre Paoleschi, CEO da Fenix DFA e KYMO Investment.
Quando uma auditoria revelou que a senha do sistema de segurança do Museu do Louvre era simplesmente “Louvre”, o mundo reagiu com espanto. Como uma das instituições culturais mais prestigiadas do planeta — guardiã de obras inestimáveis e símbolo da história humana — podia confiar a proteção de seus dados e acervos a uma senha tão óbvia?
O episódio é simbólico e profundamente revelador. E, detalhe, ele não é sobre o Louvre, mas sobre como ainda negligenciamos o básico quando o assunto é segurança digital e proteção de ativos críticos.
Por trás de firewalls robustos e tecnologias sofisticadas, muitas organizações continuam vulneráveis por causa de decisões humanas previsíveis, protocolos ultrapassados e uma perigosa sensação de invulnerabilidade.
Na era digital, a ameaça não vem apenas de hackers, mas da nossa própria complacência. Dados recentes mostram que 69% das empresas não confiam em sua capacidade de recuperação após um ataque cibernético, enquanto o custo médio global de uma violação de dados já ultrapassa US$ 4,45 milhões.
Mesmo assim, muitas ainda acreditam que um backup simples ou um antivírus atualizado são suficientes para garantir proteção. A realidade é mais complexa.
Em segurança digital, uma vulnerabilidade pode existir por semanas ou até meses — mas, se identificada e corrigida antes de ser explorada, o incidente é evitado. Já no universo do backup, não há a mesma margem para erro.
Um ponto de recuperação perdido, um job suspenso há meses ou uma falha não tratada representam momentos no tempo e no espaço que não podem ser recriados. E, ainda assim, empresas continuam adiando ações corretivas por anos.
Assim como a cibersegurança requer mais do que firewalls e antivírus, a proteção de dados exige mais do que um bom software de backup.
É preciso gestão inteligente da operação, com monitoramento contínuo, visibilidade, governança, compliance e validação de recuperação. Segurança digital não é um produto: é um processo constante de vigilância, prevenção e aprendizado.
Casos como o do Louvre têm valor pedagógico inestimável. Eles escancaram o elo mais fraco de qualquer sistema: o fator humano. Estudos indicam que menos de 10% das falhas de backup detectadas são efetivamente tratadas pelas equipes responsáveis.
Não é a tecnologia que falha, mas a forma como a utilizamos — e, principalmente, como a monitoramos. Senhas fracas, processos manuais, ausência de autenticação multifator e backups sem auditoria tornam empresas de todos os portes alvos fáceis.
Mais do que nunca, é preciso compreender que a era digital exige mais do que um “plano B”. Exige gestão estratégica da informação. A diferença entre uma empresa resiliente e uma vítima está na capacidade de antecipar riscos, e não apenas reagir a eles.
Nesse contexto, investir apenas em barreiras ou senhas complexas é insuficiente. As empresas precisam de soluções que assegurem resiliência e recuperação inteligente dos dados.
A verdadeira segurança digital não está em evitar falhas a qualquer custo, mas em garantir continuidade operacional mesmo diante do imprevisto — seja uma invasão, um erro humano ou uma falha de infraestrutura.
Hoje, sistemas de backup automatizados, replicação em nuvem e planos de restauração validados representam o divisor entre paralisar e reagir com maturidade em meio à crise.
Se a senha do Louvre nos ensina algo, é que o descuido digital pode custar muito mais do que uma falha operacional. Pode comprometer reputações, legados e patrimônios inteiros. E, quando isso acontece, não há tecnologia capaz de restaurar a confiança perdida.