Se engaje de forma permanente como um aliado e agente de transformação na causa antirracista e pela equidade racial (Caio Chagas/Reprodução)
Bússola
Publicado em 27 de janeiro de 2022 às 16h14.
Por Leizer Pereira*
As recentes expressões de racismo no Brasil e o evento da morte de George Floyd nos Estados Unidos fizeram com que a temática racial ganhasse mais holofotes e passasse a fazer parte de vários espaços de discussão nas redes sociais e nos programas de televisão. Muita gente aderiu à versão brasileira de Black Lives Matter (Vidas negras importam) e a frase da filósofa norte-americana Angela Davis “Não basta não ser racista, é preciso ser antirracista” ecoou pelos quatro cantos, tanto que hoje durante minhas palestras as perguntas mais frequentes são O que são essas atitudes antirracistas? O que é letramento racial?
Eu acredito na capacidade de uma pessoa branca de se indignar com as injustiças cometidas contra a população negra, durante os 350 anos de escravidão e os 133 anos de exclusão no Brasil; contudo também tenho absoluta certeza que essa pessoa branca, por mais que seja bem intencionada e até mesmo aliada da causa, não consegue se despir dos privilégios de ser branco numa sociedade estruturada pelo racismo.
Ninguém tem que se sentir culpado, mas autorresponsável pela mudança e combate a cultura do racismo tão enraizada na nossa sociedade. Essa luta contra o racismo é de todos e todas, negros e não negros, e não conseguiremos dar um salto civilizatório sem enfrentar esta batalha.
Um primeiro passo é o letramento racial, uma espécie de antídoto contra o cancelamento da contribuição dos negros no desenvolvimento socioeconômico brasileiro e envenenamento da cultura afro-brasileira. O objetivo maior do letramento é um despertar do indivíduo para atitudes antirracistas, e melhorar as relações de trabalho e pessoais.
O que se ganha com o letramento racial?
O letramento proporciona um mergulho revelador no racismo “estrutural e institucionalizado” que permite entender a existência das hierarquias raciais que são culturalmente aceitas, como o racismo permeia todas as áreas da vida, e se reproduz nas atitudes mais cotidianas.
Será possível se informar sobre o preconceito detectado em processos, comportamentos, vieses conscientes e inconscientes, que geram discriminação;
Entender as várias faces do racismo: institucional, ambiental, velado, recreativo e linguístico.
Permite usar um novo óculos para enxergar melhor a negritude, ter mais curiosidade de saber sobre o que os autores negros têm pra dizer, e maior desejo de se tornar culturalmente mais inteligente ao conhecer melhor as histórias, heranças, tradições das culturas africana e afro-brasileira.
Dar um basta no negacionismo da existência do racismo e o mito da democracia racial.
Abertura para diálogo, para ouvir, refletir, aprender, ressignificar crenças, desconstruir códigos e práticas racistas internalizados em você, descobrir o seu lugar de fala.
Domínio do vocabulário racial, principalmente do não uso de palavras de cunho pejorativo (denegrir, lista negra, a coisa tá preta, mulata, etc).
Ser um exemplo no combate ao preconceito velado no ambiente de trabalho, que se manifesta diariamente na forma de piadas, comentários ou insultos raciais.
Se engajar de forma permanente como um aliado e agente de transformação na causa antirracista e pela equidade racial, utilizando do seu tempo, energia, recursos, espaço de poder e privilégios.
*Leizer Pereira é palestrante, professor, empreendedor, e consultor especialista em estratégias para promoção de diversidade e inclusão nas empresas. É fundador e diretor executivo da Empodera, Startup de RH com propósito de servir as empresas na reparação para jornada de mudança de cultura para inclusão e valorização da diversidade como fator estratégico para o negócio
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