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O que fazer após sua empresa sofrer um ataque cibernético?

Mais do que tecnologia, estamos falando da necessidade de uma cultura de resiliência cibernética na Era Digital

Um plano de resposta pós-incidente precisa ser um processo vivo (Bill Oxford/Getty Images)

Um plano de resposta pós-incidente precisa ser um processo vivo (Bill Oxford/Getty Images)

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Publicado em 19 de setembro de 2025 às 15h00.

Por Eduardo Honorato*

Em conselhos e reuniões de diretoria, a pergunta não é mais “seremos atacados?”, mas “quanto conseguimos reduzir de downtime?”. Em setores críticos, como energia, saneamento, transporte e manufatura, uma hora de indisponibilidade pode significar não apenas milhões em perdas financeiras, mas também impactos à sociedade.

Um levantamento da Dragos e do Marsh McLennan Cyber Risk Intelligence Center mostra que violações em ambientes OT podem gerar até US$ 330 bilhões em perdas anuais, sendo mais da metade vinculada à interrupção de negócios. Para líderes empresariais, esse número traduz uma verdade incômoda: o impacto vai muito além da tecnologia, atingindo contratos, cadeias de suprimento, mercado e reputação.

Pense no impacto de um ataque cibernético em uma indústria de manufatura. Linhas de produção paradas, sistemas de controle inacessíveis, perda de dados críticos, atraso nas entregas e, consequentemente, queda de receita e de confiança no mercado. Mesmo empresas que contam com backups podem levar semanas para retomar a operação normal. E, em tempos de competição globalizada, esse intervalo é suficiente para comprometer margens, perder clientes e abrir espaço para concorrentes no market share.

O papel da liderança na recuperação

Diante de um incidente, a diferença entre um cenário controlado e um colapso operacional está diretamente ligada ao nível de preparação estratégica da alta gestão. Não basta delegar a resposta a times técnicos. É papel do board e da liderança executiva garantir que haja:

  • Planos de continuidade claros, previamente testados e alinhados ao core business;
  • Governança integrada, conectando cibersegurança à estratégia de risco corporativo;
  • Comunicação transparente, para manter o alinhamento e a confiança de acionistas, clientes, parceiros e reguladores.

Executivos que enxergam a cibersegurança apenas como custo precisam mudar de perspectiva. Em um mundo de ataques cibernéticos cada vez mais sofisticados, a cibersegurança é, antes de tudo, um investimento em resiliência do negócio, ou seja: um ativo que protege receita, preserva contratos e garante perenidade.

Etapas essenciais de um plano de resposta

Um plano de resposta pós-incidente precisa ser um processo vivo, constantemente revisitado, testado e integrado às operações críticas. Na prática, ele segue um ciclo que deve ser entendido pela liderança:

  1. Avaliação inicial: compreender a extensão do impacto, identificar sistemas comprometidos, documentar ações e coletar evidências para auditoria e conformidade;
  2. Isolamento e contenção:  impedir a propagação do incidente, desconectar máquinas comprometidas e proteger os ambientes ainda íntegros;
  3. Erradicação: remover malwares, fechar vulnerabilidades exploradas e reforçar barreiras de defesa antes da retomada;
  4. Recuperação: restaurar sistemas a partir de backups seguros, validar a integridade de dados e garantir a retomada confiável das operações críticas;
  5. Revisão pós-incidente:  analisar o que funcionou, o que falhou e atualizar planos, processos e treinamentos para elevar a maturidade da organização.

Checklist executivo para o pós-incidente

Para líderes de negócios, a tradução prática dessas etapas pode ser resumida em três perguntas-chave:

  • Quanto tempo levamos para retomar a operação crítica?
  • O que já estava previsto em nosso plano e o que precisamos incluir?
  • Quais mudanças de governança e processos serão implementadas para evitar reincidência?

Melhores práticas para elevar a maturidade

Empresas que tratam a recuperação pós-incidente como prioridade estratégica adotam um conjunto de práticas recorrentes:

  • Testar regularmente o plano de resposta, simulando cenários de ataque em ambiente controlado;
  • Manter backups redundantes e geograficamente distribuídos, garantindo que dados possam ser restaurados mesmo em incidentes de larga escala;
  • Integrar equipes de negócio e tecnologia no processo de resposta, evitando silos entre operações, segurança e compliance;
  • Cumprir requisitos regulatórios e normativos, assegurando que a empresa não sofra penalidades adicionais em meio à crise;
  • Capacitar continuamente executivos e colaboradores, para que saibam como agir e comunicar em um cenário de incidente.

Essas práticas não apenas reduzem o tempo de inatividade, mas transformam a cibersegurança em parte da governança corporativa e da tomada de decisão estratégica.

Resiliência como ativo estratégico

Hoje, atacantes já utilizam inteligência artificial (IA) para acelerar violações. Isso significa que a defesa não pode ser apenas reativa. Empresas precisam adotar práticas de Segurança por Design, unindo segurança, disponibilidade e continuidade operacional em todos os níveis da organização.

Mais do que tecnologia, estamos falando de uma cultura de resiliência cibernética na Era Digital: uma mentalidade em que líderes e equipes entendem que crises são inevitáveis, mas que o diferencial está em continuar entregando valor ao mercado, mesmo sob pressão.

Resiliência deixou de ser diferencial competitivo. Em ambientes críticos, é condição mínima para garantir a continuidade, confiança e sustentabilidade da operação.

*Eduardo Honorato é advisor estratégico, autor e especialista em Cibersegurança OT e Cultura de Resiliência Cibernética na Era Digital.

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