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O que esperar em 2022 para o relacionamento entre startups e empresas?

A busca pelo relacionamento entre startups e grandes empresas focou em soluções para CX, inteligência de dados e eficiência em processos internos

Veja cinco tendências para se observar (e agir) neste contexto no próximo ano (99Jobs/Divulgação)

Veja cinco tendências para se observar (e agir) neste contexto no próximo ano (99Jobs/Divulgação)

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Publicado em 29 de dezembro de 2021 às 15h02.

Última atualização em 29 de dezembro de 2021 às 15h44.

Os últimos dois anos foram pautados por uma crise que exigiu mudanças rápidas e significativas em diferentes setores e que, apesar dos impactos negativos, resultaram em saldo bastante positivo para o mercado de inovação aberta, principalmente por conta da rápida necessidade de digitalização das empresas, que viram na inovação aberta uma alternativa para a sobrevivência dos seus negócios.

Diante desse cenário de grandes transformações, a conexão com startups tornou-se uma ferramenta para que grandes corporações conseguissem encontrar soluções rápidas e eficientes, o que impulsionou os investimentos nesses novos negócios. A demanda por novas tecnologias fez com que, somente no primeiro semestre de 2021, mais de 288 bilhões de dólares fossem investidos em startups pelo mundo, segundo dados da plataforma Crunchbase. Isso significa um aumento de 61% em relação ao último recorde, que registrou 179 bilhões de dólares investidos no segundo semestre de 2020. Quando comparado ao mesmo período de 2020, a alta é de 95%.

Especializada na conexão e geração de negócios entre empresas e startups, e responsável pelos principais programas de inovação aberta do país, a plataforma de inovação aberta Liga Ventures, também sentiu um impacto positivo no número de negócios gerados no último ano. De acordo com um levantamento com base nas operações da empresa, somente no ano de 2021, mais de 35 grandes empresas construíram programas e relacionamentos estruturados e recorrentes com startups, um número 130% maior que em 2020.

Para Raphael Augusto, sócio-diretor de produtos e inteligência de mercados da Liga Ventures, “o mercado já entendeu que se relacionar com startups para explorar oportunidades é condição para uma evolução estratégica dos negócios. O grande desafio agora é transformar estas intenções em ações estruturadas e recorrentes, Inovação não é uma foto, mas um processo recorrente e com profundidade para que os resultados possam ser colhidos.”

A busca por este relacionamento com as startups já não é mais prioridade de um único setor, sendo buscado por empresas de saúde, alimentos, varejo e até RH. Foi o caso de empresas como a grupo Cia de Talentos, Bndes, Hospital Moinhos de Vento, Banco do Brasil, Banco Carrefour, Mercedes-Benz, Suvinil, Porto Seguro, entre outras, focadas em discutir e entregar inovação e eficiência aos seus negócios por meio do relacionamento com as startups.

Para Sofia Esteves, presidente do conselho do grupo Cia de Talentos e da startup Bettha.com, o CT Labs, nome dado ao programa de inovação aberta da empresa, foi importante também para impactar também a cultura interna. “O que percebemos ao longo do programa é que conseguimos fazer entregas de qualidade ajustando algumas questões para ganhar velocidade. Começamos a refletir se podemos mudar parte de um processo interno para ter uma tomada de decisão mais veloz, como podemos flexibilizar sem comprometer a nossa excelência e como, na nossa estrutura atual, conseguimos incorporar um pouco mais desse espírito das startups”.

Para atender a todas estas empresas, o número de startups inscritas, avaliadas e apresentadas também deu um salto, segundo a Liga Ventures. Só até este momento em 2021, mais de 5.000 startups fizeram suas inscrições para demonstrar seus interesses em fazer negócios com as corporações e mais de 400 foram apresentadas diretamente para elas com o objetivo de atender uma dor ou oportunidade específica, um crescimento de 120% comparado com o de 2020.

Além disso, a plataforma de inovação também levantou que entre os meses de janeiro e novembro de 2021, foram desenvolvidos mais de 50 grandes projetos com foco na expansão de oportunidades, envolvendo as soluções apresentadas por startups e os desafios e espaços abertos no mercado. Desta forma, empresas e startups se conectaram para dar vazão a negócios inovadores e resolver possíveis gargalos em diferentes setores. Entre as soluções mais buscadas nesse período estão aquelas que tratam os temas customer experience, inteligência de dados e eficiência em processos internos.

Para Marcos Sirelli, diretor de tecnologia da informação da Porto Seguro, “sem dúvida, o melhor ganho de interagir com startups é continuarmos aprendendo sempre sobre o mercado e sobre tecnologias”. Na Porto Seguro, a frente de relacionamento com startups chamada Oxigênio existe desde 2015 e já criou relacionamento e projetos com mais de 100 startups neste período.

Para as startups, este tipo de aproximação mais estruturada significa uma oportunidade real de desenvolvimento de negócios e evolução da própria empresa. “Entre mais de 200 startups, a Membran-i foi selecionada pela Mercedes-Benz do Brasil para o Quinto Ciclo de Aceleração do Programa Liga AutoTech. Dividido em duas frentes de trabalho: negócio e startup, o programa contribuiu de forma decisiva no desenvolvimento do projeto com a Estrela e, sobretudo, em nossos processos internos”, diz Florent Desidério, fundador e CEO da Membran-i. A parceria entre a startups e a Mercedes-Benz já aponta para uma redução, em média, de 7% no valor na aquisição de itens não produtivos e 5% no de itens produtivos para a fábrica.

“As mudanças dos últimos meses vieram para mostrar que o investimento em inovação aberta não é mais um diferencial, mas sim uma necessidade estratégica para quem quer se manter atualizado diante de um cenário de grandes e constantes transformações. Hoje, temos um ecossistema rico, com soluções maduras e essa parceria com startups torna-se cada vez mais fundamental, seja para corroborar para o crescimento do mercado, seja para atualizar ferramentas e processos internos, ou mesmo para sobreviver diante de um cenário de crise”, afirma Augusto.

A Softys, empresa líder no desenvolvimento de produtos em higiene pessoal e limpeza, iniciou seu relacionamento com startups neste ano, construindo uma esteira de apresentação recorrente de startups para a empresa ao longo de todo o ano. “Em 2021 iniciamos nossa jornada em aproximação ao ecossistema de Startups e soluções alternativas e ágeis para temas que demandam inovações na Softys. O suporte dado pelo time especialistas da Liga foi fundamental para iniciarmos esta transformação e principalmente engajar o público interno. Estamos somente no princípio de uma jornada que tem tudo para ser muito produtiva”, declara Thiago José Mazeto Garcia, diretor de estratégia e consultoria interna da Softys.

2022

Segundo o time de especialistas da Liga Ventures, o que vem se observando é cada vez mais empresas buscando criar ou ampliar seus portfólios de ações de inovação. Isto significa oportunidades que vão desde treinamentos internos, passando por programas estruturados de intraempreendedorismo, programas com startups e o amadurecimento da frente de investimentos.

De forma mais objetiva, listamos cinco tendências para se observar (e agir) neste contexto em 2022:

- A inovação aberta como estratégia: a essência da inovação aberta é abrir as fronteiras da sua instituição para que ela possa trocar inovações com o ambiente externo. Como resultado, a instituição ganha velocidade, oxigenação e eficiência nos seus processos de criação e transformação, conseguindo inclusive acessar capital humano e novos mercados para além da sua visão atual. Por isso, por mais que o conceito já esteja difundido, vale ressaltar que a sua prática não pode ser considerada estratégica quando isolada e pontual. Para que se consiga abrir novos espaços via inovação aberta, a empresa precisa praticar o exercício de montar um bom portfólio de ações, diversificado e com espaço para aprendizado, erros e acertos. Não existe bala de prata.

- Novas startups nascendo de demandas reais de empresas: por muitas vezes nos deparamos com o comentário de que aquela startup não resolve um problema relevante e, este ponto inclusive, é apontado como o principal motivador da morte das startups. Mas o que o outro lado está fazendo para ajudar a estimular um cenário de oportunidades mais eficiente? Quando unimos o conhecimento de mercado das empresas com o capital humano e tecnológico dos empreendedores, podemos acelerar e muito do “fit de mercado” e termos bem próximo um potencial novo grande negócio.

- A “fintechzação” dos negócios é apenas o começo: assim como as fintechs mostraram para o mercado tradicional que elas podem acessar seus clientes de outras formas e com outros objetivos, as tecnologias propostas pelas startups podem abrir muitas outras fronteiras e oportunidades para os negócios tradicionais. Observar e se aproximar  das tecnologias emergentes e como elas vêm sendo colocadas à prova pelas startups é importantíssimo para poder desenhar (e entender) o próximo grande passo do mercado.

- A corrida pelos investimentos e aquisições: os grandes números e cifras de investimentos em startups foram amplamente divulgados este ano. Na outra ponta, cada vez mais os investimentos menores e em estágios iniciais ganham corpo e investidores adeptos a assumirem mais riscos. Nesta equação, não existe uma resposta certa, mas sim uma variável a se atentar: o dealflow. Se a sua empresa ou você mesmo tem interesse em investir ou adquirir uma startup, se atente que você pode estar observando somente uma foto do cenário atual ou o que a “média” já viu. Manter uma visão monitorando constantemente o que está por vir e o que está nascendo é tão importante quanto “pescar onde já estão pescando”.

- Ações de inovação recorrentes e estruturadas: durante o período de crise, o que se mostrou evidente foi a diferença de velocidade na entrega de respostas entre umas e outras empresas. Muito deste movimento pode ser justificado pelo quanto a inovação estava já presente nos processos e estratégia das empresas. Empresas que já sabiam como se relacionar e tinham iniciativas estruturadas com startups saíram na frente. É preciso ter uma estratégia de inovação aberta consolidada para conseguir capturar valor sempre que preciso.

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