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O que é ‘financiamento verde’ e como ele pode garantir o futuro da infraestrutura digital do Brasil?

Entenda o conceito que potencializa o avanço sustentável do setor de infraestrutura digital no Brasil

Entenda o conceito de "green finance" (Galeanu Mihai/Getty Images)

Entenda o conceito de "green finance" (Galeanu Mihai/Getty Images)

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Publicado em 11 de setembro de 2025 às 14h36.

Por Victor Almeida*

A digitalização da economia está avançando a passos largos, impulsionada por tecnologias como Inteligência Artificial, computação em nuvem e big data. Essa transformação exige uma infraestrutura robusta de data centers, capaz de armazenar e processar volumes crescentes de informação em tempo real. 

No entanto, esse avanço não é isento de contradições: o setor é um dos mais demandantes em consumo energético e pode representar um desafio para as metas de descarbonização global. É nesse ponto que o financiamento verde desponta como alavanca fundamental para compatibilizar crescimento tecnológico com responsabilidade ambiental.

O que é ‘financiamento verde’, ou ‘green finance’?

O conceito de financiamento verde, ou green finance, abrange instrumentos financeiros que direcionam capital para projetos que promovem benefícios ambientais claros e mensuráveis, como a redução de emissões, eficiência energética e uso de fontes renováveis. No ecossistema de data centers, diversas ferramentas financeiras vêm sendo utilizadas para impulsionar projetos com menor impacto ambiental.

Entre elas, estão os green bonds, ou títulos verdes, que são emitidos por empresas ou governos para captar recursos exclusivamente destinados a iniciativas sustentáveis, como o uso de energia limpa ou a modernização de sistemas de resfriamento. Há o sustainability-linked bonds (SLBs), instrumento muito utilizado para financiar projetos com metas atreladas aos objetivos de ESG. 

Por fim, o blended finance combina recursos públicos (como bancos de fomento ou fundos climáticos) com capital privado, reduzindo riscos e atraindo investidores para projetos sustentáveis que, de outra forma, poderiam não sair do papel.

Um exemplo prático e impactos esperados

Na Piemonte Holding, investidor na área de infraestrutura digital, entendemos que esse é um caminho inevitável. Nossa investida, Elea Data Centers, já adota práticas de sustentabilidade como parte integrante de sua estratégia de crescimento.

Em sua emissão mais recente de R$ 790 milhões em debêntures sustentáveis (sustainability-linked bonds), terceira operação deste tipo e a quinta emissão da companhia, a Elea assumiu compromissos tendo especificamente metas vinculadas a elevar o índice de eficiência energética (PUE) e ao aumento da participação feminina em posições de liderança. Com isso, consolida seu protagonismo como a primeira do setor de infraestrutura digital a emitir debêntures sustentáveis na América Latina.

O Brasil e seu potencial para o futuro

O Brasil reúne uma combinação rara de atributos que o colocam em vantagem nessa agenda: uma matriz energética majoritariamente renovável, abundância de recursos naturais e uma base tecnológica em expansão. 

Iniciativas como o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial, que prevê R$ 500 milhões para fomentar data centers sustentáveis , e a proposta de incentivos fiscais condicionados ao uso de energia limpa são indicativos de uma direção promissora.

Mas ainda há espaço – e urgência – para ampliar a escala desses instrumentos. Segundo estudo recente do Bank for International Settlements (BIS), o mercado global de green bonds já se aproxima de US$ 3 trilhões em volume acumulado. Somente em 2024, as emissões somaram US$ 700 bilhões, ainda um valor modesto frente aos US$ 2 trilhões estimados como necessários anualmente para enfrentar a crise climática.

A demanda por instrumentos sustentáveis segue em alta, impulsionada pela ascensão da agenda ESG no setor financeiro global. Investidores institucionais, inclusive no segmento de gestão de reservas, tendem a favorecer títulos cujos impactos ambientais são devidamente certificados. 

Do lado da oferta, cresce a diversidade de emissores, que hoje inclui desde soberanos e municípios até bancos, empresas privadas e instituições financeiras multilaterais. Esse amadurecimento do mercado consolida os títulos verdes como ferramenta estruturante para a transição climática.

O setor de infraestrutura digital, por suas características de alto consumo energético e necessidade de modernização tecnológica, tem tudo para ser um dos protagonistas dessa nova fronteira de capital verde. A convergência entre transformação digital e sustentabilidade não é apenas desejável, é estratégica. 

A construção de uma infraestrutura resiliente, eficiente e de baixo carbono é o que permitirá ao Brasil se posicionar como um hub global de tecnologia limpa. O financiamento verde, nesse contexto, não é apenas um mecanismo de viabilidade; é uma ferramenta de liderança.

*Victor Almeida é diretor de Investimentos na Piemonte Holding.

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