Crianças e adolescentes já são cidadãos hoje — não vão se tornar parte da sociedade apenas no futuro, quando forem adultos (Alistair Berg/Getty Images)
Bússola
Publicado em 24 de novembro de 2021 às 13h36.
Última atualização em 24 de novembro de 2021 às 13h48.
Por Maria Carolina Cristianini*
Faz 13 anos que trabalho produzindo conteúdo jornalístico para crianças e adolescentes. Durante esse período, uma das coisas que eu só vi crescer entre o público jovem é a preocupação com o meio ambiente. Existe, na geração que é criança hoje, uma consciência sobre a importância da preservação da natureza que não havia em mim e nos meus amigos durante a infância.
No contato que tenho atualmente com leitores do Joca, jornal infantojuvenil em que sou editora-chefe, nunca param de chegar sugestões de pauta para discutir as mudanças climáticas, casos de jovens que se envolvem com iniciativas pela preservação da natureza e convites para conversar com eles sobre o tema. Um dos mais recentes foi para bater um papo sobre a COP26 com turmas do ensino fundamental 1 de uma escola na capital paulista.
A conversa, realizada por uma das repórteres do jornal, aconteceu enquanto o restante de nossa equipe apurava os acontecimentos da conferência sobre as mudanças climáticas para a reportagem que estávamos preparando. Foi nesta pesquisa que encontrei o seguinte: “Não há mais como achar que a natureza vai esperar nós. (...) Não há como achar que a juventude vai pensar nisso como algo distante dela. Não. Está no dia a dia. A pressão é real. E essa pressão significa dizer que, em 2030, esses jovens tomarão decisões possivelmente. Esses jovens, hoje com 18, 19 ou 17 anos, estarão com 30. Estarão nesse mundo tomando decisões. Então, têm de trazer o futuro do presente e começar a agir”, Izabella Teixeira, co-presidente do Painel de Recursos Naturais da Organização das Nações Unidas (ONU), em declaração ao site da ONU.
“Trazer o futuro do presente e começar a agir”. Essa frase veio ao encontro de minhas reflexões sobre a importância do jornalismo para crianças e adolescentes. Muitas vezes, é isso o que o noticiário acaba fazendo — e não é diferente quando o público é jovem: traz para o presente aquilo que o futuro está nos reservando, por meio de pesquisas, projeções, expectativas noticiadas sobre os mais diversos temas. Não há como planejar um futuro melhor se as consequências dos atos de hoje não forem pensadas pela perspectiva do médio e longo prazo. É por isso que, quando falamos sobre conteúdo jornalístico para os jovens, também precisamos pensar em presente e futuro caminhando juntos.
Futuro porque, como disse Izabella Teixeira, da ONU, as crianças e adolescentes de hoje logo serão os adultos, tomando decisões que interferem na vida de todos. Não há caminho melhor para a formação dos que serão líderes do que a bagagem e o repertório construído em cima da informação de qualidade, trazida pelo jornalismo profissional, que conduzirá os jovens à formação do senso crítico.
E presente porque essas crianças e adolescentes já são cidadãos hoje — não vão se tornar parte da sociedade apenas no futuro, quando forem adultos. Eles já integram o mundo no agora. Não há por que esperar que os jovens passem a se informar a partir do jornalismo apenas quando a preocupação com as atualidades vier nos preparativos para o Enem, por exemplo. Dar a eles a oportunidade de compreender os principais fatos do Brasil e do mundo neste momento — e aos poucos, no contato frequente com as notícias — é colaborar para que se preparem para as próximas décadas. Isso também é trazer o futuro para o presente.
Presente e futuro, como eu disse acima, caminham juntos. Ainda mais quando as mudanças climáticas estão em pauta. Convido a você, adulto, que assuma o papel responsável frente às crianças e adolescentes de sua convivência. A responsabilidade de dar a eles a oportunidade de ter, em mãos, informação de qualidade sobre a COP26, o aquecimento global, a preservação da natureza e tudo o mais que, no presente, afeta o futuro de todos. A recomendação do caminho a seguir para isso? O jornalismo infantojuvenil.
*Maria Carolina Cristianini é editora-chefe do jornal Joca, para crianças e adolescentes, e Jornalista Amiga da Crianças
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