No caso da carne bovina, a adoção de certificações confiáveis estimula frigoríficos e produtores a aperfeiçoarem seus sistemas de rastreabilidade (Mohssen Assanimoghaddam/Getty Images)
Diretor-geral da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 24 de outubro de 2025 às 10h00.
Conforme reportado recentemente pelos colegas do portal Capital Reset, recentemente, a Tianjin Meat Association, relevante importadora chinesa de carne bovina, se comprometeu a comprar pelo menos 50 mil toneladas de carne de frigoríficos brasileiros até junho de 2026, desde que comprovadamente livre de desmatamento. O movimento é um sinal que merece ser lido com atenção.
Mais do que uma transação comercial, o acordo simboliza o papel crescente do consumo consciente e engajado como força de mudança — especialmente em um contexto no qual políticas públicas por vezes se mostram insuficientes ou até caminham na contramão do interesse público.
O compromisso será monitorado por meio do sistema de certificação Beef on Track (BoT), lançado pelo Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola (Imaflora).
Trata-se de um mecanismo de mercado que alia transparência, rastreabilidade e credibilidade para verificar se a carne exportada está, de fato, livre de desmatamento.
O BoT é um exemplo de como ferramentas robustas de certificação podem facilitar o consumo consciente — ao permitir que compradores internacionais e consumidores finais tenham segurança de que estão apoiando cadeias produtivas responsáveis.
Selos e certificações consistentes e transparentes funcionam como pontes de confiança entre produtores, empresas e consumidores.
Ao traduzirem compromissos ambientais em critérios técnicos verificáveis, elas tornam possível alinhar interesses econômicos e ambientais em escala global.
No caso da carne bovina, a adoção de certificações confiáveis estimula frigoríficos e produtores a aperfeiçoarem seus sistemas de rastreabilidade, controle de origem e monitoramento de fornecedores indiretos, criando incentivos reais para a transição sustentável no setor.
A iniciativa mostra que a pressão por responsabilidade socioambiental está se tornando um componente estrutural do comércio internacional.
O fato de um importante ator do mercado chinês condicionar parte de suas compras à comprovação de boas práticas ambientais sinaliza que a sustentabilidade deixou de ser um diferencial reputacional para se tornar requisito competitivo.
Ao fazê-lo, a entidade contribui para elevar o padrão de toda a cadeia de valor da carne brasileira.
Em um cenário de fragilidade institucional e inconsistência regulatória no mundo, o mercado pode exercer um papel complementar ao do Estado.
Se alguns governos relaxam regras ambientais ou falham na fiscalização, o poder de compra de consumidores e empresas conscientes pode responder direcionando recursos para quem atua de forma responsável.
Nessa lógica, sistemas de certificação confiáveis são mecanismos de governança que traduzem o interesse público em critérios objetivos e verificáveis.
É fundamental, porém, que esse poder de mercado venha acompanhado de transparência e rigor técnico.
A proliferação de selos superficiais ou de práticas de greenwashing compromete a credibilidade das iniciativas legítimas.
Certificações como o Beef on Track mostram que é possível construir confiança e efetividade ao combinar ciência, verificação independente e participação de diferentes atores da cadeia.