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O papel transformador do Corporate Venture Capital na inovação

Por meio do CVC a organização pode experimentar soluções transformadoras de maneira mais rápida, financeiramente diluída e com menores riscos organizacionais

O CVC é alternativa às necessidades de inovações disruptivas (Nuthawut Somsuk/Getty Images)

O CVC é alternativa às necessidades de inovações disruptivas (Nuthawut Somsuk/Getty Images)

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Publicado em 31 de outubro de 2022 às 16h30.

Última atualização em 31 de outubro de 2022 às 16h35.

Em um mundo de tecnologias exponenciais disponíveis e modelos de negócios cada vez mais disruptivos, as organizações enfrentam um enorme desafio: como se reinventar rápido o suficiente para continuarem relevantes? De fato, na década de 1960, a média de permanência das organizações na lista das 500 mais relevantes do mundo (S&P 500) era de cerca de 60 anos. Hoje, este número está abaixo dos 20.

Salim Ismail em um livro sobre organizações exponenciais descreve um tipo específico de empresas que surgiu após o advento das tecnologias exponenciais.

Elas possuem disponibilidade tecnológica para focar no desenvolvimento de ativos digitais ao invés de físicos e têm, por consequência, um custo marginal que tende a zero a cada novo usuário/cliente. Estas organizações possuem um crescimento acelerado, resultados que crescem exponencialmente e que não dão margem alguma de competição com organizações tradicionais, que são focadas em ativos físicos e com processos que, para escalar resultados, necessitam de escala de custos proporcionais. Como consequência, estas organizações acabaram por disruptar diversos mercados.

Como uma organização tradicional supostamente responderia a esta ameaça? A resposta fica ainda mais complexa à medida que todas as tecnologias exponenciais têm avançado e se combinado, gerando infinitas possibilidades. A antiga ideia de combater estas ameaças comprando empresas concorrentes ou tecnológicas, e internalizando neste contexto, também foi invalidada, pois quando essas novas organizações surgiram, o número de novas empresas nascendo também virou exponencial, impossibilitando obviamente a aquisição de todas elas.

Somado a isso, é sabido que inovações transformacionais e disruptivas quase nunca surgem da própria indústria ou dos próprios funcionários da empresa, devido aos vícios da antiga forma de fazer as coisas e as “verdades absolutas” decorrentes da longa experiência vivida.

Neste contexto, o Corporate Venture Capital (CVC) tem se apresentado como uma alternativa interessante na busca da inovação transformacional e da experimentação de soluções. Os dados da CB Insights mostram que, ao contrário do mercado de Venture Capital (VC) que retraiu, o CVC disparou nos últimos anos, atingindo em 2021 o recorde de crescimento de 142% em relação a 2020. Em artigo publicado em setembro de 2021 pela BR Angels e Innovation Latam, foi afirmado que metade das organizações brasileiras pretende abrir um braço de CVC nos próximos dois anos.

Mas qual o papel esperado do CVC neste intervalo? Diferentemente de um fundo de Venture Capital, que possui como meta primária o resultado financeiro através do capital de risco, o CVC possui como meta o resultado estratégico para a corporação mãe, com uma taxa interna de retorno média ficando na ordem de 10% a 15%.

Por meio do CVC a organização pode experimentar soluções com potencial transformador de maneira mais rápida, financeiramente diluída e com menores riscos organizacionais. Além disso, possui acesso a talentos e tecnologias que não seriam factíveis através de desenvolvimento interno de inovações e a um número de soluções que não poderiam ser completamente adquiridas via M&A. Em caso de disrupção ou soluções exponenciais, o CVC seria uma alternativa a spin-off de geração imensa de valor, seja pela solução em si, seja pelo ganho de valuation da investida.

Assim como qualquer nova tendência organizacional, é crucial, para o sucesso da iniciativa, o pleno entendimento dos requisitos, veículos, objetivos estratégicos e dos resultados esperados. Principalmente se tratando de uma tendência de proliferação tão veloz como tem sido o CVC.

Alguns pontos cruciais de atenção que destaco neste processo são: alinhar as expectativas quanto aos objetivos estratégicos do CVC em questão, definir uma tese de investimentos clara com verticais específicas e bem demarcadas, encontrar o veículo de investimentos mais adequado para a sua tese, realizar scouting proativo de soluções, buscando targets que façam sentido, gerir os riscos de maneira consciente, ter visão de longo prazo, especialmente em soluções mais transformacionais/disruptivas e construir reputação e credibilidade no ecossistema de inovação para atrair as melhores investidas para sua tese.

O CVC tem se mostrado uma alternativa interessante para a resposta das corporações às necessidades de inovações disruptivas e proliferação de infinitas possibilidades. Porém, uma vez que o acesso aos CVCs seja abundante, o que é uma tendência, o que diferenciava os melhores e mais atrativos investidores será a consistência e coerência de suas relações com o ecossistema e com os seus objetivos estratégicos.

*Glaucia Guarcello é professora do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC e sócia-líder de Inovação da Deloitte

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