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O futuro: resolve-me ou te devoro

Se pularmos de hoje direto para 2023, veremos pela frente um futuro desafiante aos brasileiros; o que esperar?

Há cobrança por mudanças de rumos na administração da coisa pública (TSE/Divulgação)

Há cobrança por mudanças de rumos na administração da coisa pública (TSE/Divulgação)

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Publicado em 16 de dezembro de 2021 às 21h00.

Por Márcio de Freitas*

Se pularmos de hoje direto para 2023, veremos pela frente um futuro desafiante aos brasileiros. Um presidente começando novo mandato, embalado pela votação popular de milhões de expectativas, e uma montanha de problemas aguardando respostas. A montanha, sem muita paciência, grita: resolve-me ou te devoro.

Quem quer que seja o eleito não terá muito tempo para solucionar os dramas do cotidiano, até porque eles já estão aí sob as marquises dos prédios das principais cidades do país, à vista de todos: milhões de brasileiros empobrecidos durante a pandemia, sem emprego, sem lar e sem comida. A urgência ronca no grande vazio dos estômagos.

O desafio de atender às complexas demandas nacionais será exigência não só para o nome escolhido para comandar o país, mas a toda equipe que vier a integrar o futuro governo. Experiência parece ser um quesito que o eleitor busca identificar nos candidatos. É natural.

É curiosa ainda a cobrança por mudanças de rumos na administração da coisa pública — e um cansaço jurássico das práticas desbotadas da política congressual do dá-cá-que-é-meu. Anseia-se por mudança, mas também por experiência comprovada. É o avanço para uma evolução gradual, lenta e segura. Sem grandes emoções, o eleitor racionaliza as escolhas no momento da crise e das cobranças por eficiência.

O diagnóstico certo nem sempre permite um julgamento correto dos nomes. O eleitor sabe o que quer, tem consciência, mas chegar ao nome perfeito nem sempre é um processo em que o cérebro escolhe a reta mais curta para chegar ao objetivo. As escolhas racionais em eleições têm como componente fundamental a emoção.

As curvas decisórias fazem esse trajeto da escolha mais sinuoso do que gostariam os analistas políticos. Alguns de nós podemos derrapar numa delas e acabar capotando nas previsões, arranhados na arrogância. Por isso o método é acompanhar com cuidado a velocidade das mudanças de humor dos excelentíssimos eleitores, diante de erros e acertos dos candidatos.

O escolhido terá demandas de toda sorte a atender, mas terá o azar de ter um orçamento limitado para manejar. A começar pela pequena margem fiscal, suprimida de vários lados pela fome do Congresso em assumir o papel de poder discricionário na destinação dos parcos recursos à disposição do poder público. Essa será a primeira briga entre o eleito e os eleitos para a Câmara, 513, e para o Senado, 81 (a renovação será só de um terço em 2022).

Será briga de foice sem a luz da Eletrobras, empresa a ser privatizada em 2022, mas ainda aguardando aval do Tribunal de Contas da União, corte cada vez mais político e com maior ingerência na gestão pública e na política. Os ministros do TCU não são eleitos por voto popular, mas acabaram no Olimpo da administração a não ter que prestar muita conta das contas que julgam… Estranha síndrome que tornou esse órgão de assessoramento do Poder Legislativo num novo centro de poder para permitir implementação de políticas públicas ou soterrar o governo com acordãos restritivos, alguns sob interesses nem sempre os mais transparentes.

Há ainda o Poder Judiciário, propriamente togado. Esse é ainda mais sinuoso e complexo. Fechado em copas, mas aberto em mídias de espada disparadas aleatoriamente de cada uma de suas turmas, plenário e individualidades. Nos últimos anos, foi um poder que julgou empresários, deputados, senadores, presidentes… condenou e inocentou com o mesmo rigor os mesmos personagens, com a devida coerência de fazer corar lombadas de Pontes de Miranda em algumas das melhores estantes advocatícias nacionais. Súmula vinculante desses tempos tem sido a vinculação política de alguns ministros, mais políticos que magistrados.

Aberta ao horizonte, a Praça dos Três Poderes pode se converter em corredor polonês se o sujeito, eleito, não souber caminhar pelos corredores intrincados de Brasília que unem ministros, presidentes e parlamentares. Será um desafio atender ao povo, compartilhando a demanda desses poderes com suas corporações na procissão que segue o cortejo.

E, de fora a parte, ainda há o sistema financeiro, os empresários, o agronegócio, as multinacionais, os outros governos estaduais, a Opep, os Estados Unidos e a China… Quando tudo corre bem, os índices até ficam no azul, mas qualquer escorregão aqui, a bolsa vai pro vermelho, o dólar sobe, a gasolina dispara…

Afinal, depois de imaginar um cenário desses, é difícil saber por que algum ser humano comum, em sã consciência, ainda quer dormir nos cômodos soturnos do Palácio da Alvorada… para dar tantos presentes, só alguém de coração tão generoso quanto Papai Noel.

*Márcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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