Sem encontrar acolhida nos candidatos favoritos, a elite nacional procura um poste para adotar (Cris Faga/Andressa Anholete/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 6 de maio de 2021 às 19h32.
Por Márcio de Freitas*
Em política, poste é um candidato pesado e difícil de carregar que só tem luz porque recebe energia de outro fornecedor, a verdadeira fonte de poder. Algumas vezes, as tentativas de construção de postes geram curto circuito, sem nada iluminar. Hoje há expressivo setor da sociedade que não quer extremos nem de direita, nem de esquerda. E aposta no surgimento de uma alternativa centrista, um poste, para carregar em 2022.
O establishment gostaria de ter um nome seu para embalar um projeto próprio de país que mude tudo para tudo continuar como está. Afinal, as reclamações não são preenchidas por um programa de transformação real da estrutura do estado e da sociedade. Quando muito, só há discussão sobre como contemplar melhor certos segmentos para obter um melhor ambiente para seus ganhos e lucros. O que é sempre natural, mas carregado de uma tentativa autocentrada de concentração financeira e de poder. E que sofre oposição de outros setores que acham que financiam esses lucros.
No caso atual, essa leopardina criação exigiria que a elite soubesse construir um poste atrativo para uma relativa maioria do eleitorado. Saber com que matéria-prima se faz candidato, para vencer a polarização desenhada para a eleição presidencial entre Lula e Jair Bolsonaro, é tarefa de gênio. Pouco crível que, numa conjuntura onde há falta de insumos básicos no país, existam componentes humanos disponíveis para garantir o sucesso da empreitada. Além do que, muitos que hoje buscam essa alternativa, ajudaram a criminalizar a política faz pouco tempo.
Em outros momentos históricos houve tentativas de vencer um líder com a fabricação alternativa. Em 1950, buscou-se barrar o caminho de Getúlio Vargas com o brigadeiro Eduardo Gomes e com o mineiro Cristiano Machado. O ex-presidente foi solenemente ignorado, em sua campanha, pela mídia de Rio de Janeiro, então capital federal, e São Paulo, já o centro financeiro. Vargas ganhou, mas sob o signo da ameaça de Carlos Lacerda: não deve ser candidato; candidato não deve ganhar; vencedor não deve tomar posse; no cargo deve-se derrubá-lo.
O final dessa história de radicalismo é a conhecida tragédia em que Vargas deixa a vida para entrar na história com um tiro no peito. As elites falharam depois em sequência: contra JK e, mesmo na vitória, perderam com a renúncia de Jânio Quadros, eleito para mudar os rumos do país de acordo com o credo do establishment. Tiveram de se impor pela força em 1964. Após redemocratização, Fernando Henrique Cardoso foi uma empreitada exemplar de sucesso. Mas Lula o sucedeu, contra as elites.
A eleição de 2022 deverá ter esses dois grandes comunicadores na disputa: Lula e Bolsonaro. O petista hoje caminha em conversas aceleradas para o centro político, passeando em Brasília nesta semana como quem já sonda se as avenidas que levam ao Palácio do Planalto estão liberadas. Não repetiu ainda o momento de 2002, quando evoluiu para o centro empresarial ao atrair para sua chapa José Alencar, o rico mineiro do setor têxtil que lhe amenizou as relações com o patronato.
Bolsonaro tem o Palácio do Planalto nas mãos, e não quer abrir a porta para Lula entrar. Trouxe o Centrão para perto de si na Câmara, mas enfrenta um desarranjo com a CPI da Pandemia no Senado Federal. O agronegócio e o setor de exportações de commodities ganham muito com a demanda internacional, que deverá aumentar ainda mais com a imunização que se espalha pelo mundo. Os Estados Unidos e a China já sugam diretamente dos portos brasileiros vários produtos. Bolsonaro conta com esse cenário e o fim da pandemia para se recuperar.
Só que, hoje, Bolsonaro deixou de fazer brilhar os olhos dos empresários, que viram nele em 2018 um líder liberal para governar o país com uma agenda reformista pró-capital. O peso das corporações entranhado no governo e o viés ideológico passaram a incomodar quem necessita de um ambiente de estabilidade para fazer negócios e atrair investidores com carteiras Louis Vuitton.
Sem encontrar acolhida plena nos candidatos favoritos, a elite nacional ainda procura um poste para adotar. Até vislumbrou alguns com potencial, é fato. Mas não tem a mínima ideia de como fazer chegar, nestes que estão disponíveis, a energia para iluminar uma campanha presidencial. Essa tecnologia ainda não está à venda no mercado.
*Márcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação
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