Soluções só virão por meio de atuações colaborativas e muitas parcerias (Manusapon Kasosod/Getty Images)
Bússola
Publicado em 24 de fevereiro de 2022 às 14h43.
Última atualização em 24 de fevereiro de 2022 às 14h46.
Por Renato Krausz*
Alguém pode estar se perguntando porque falo outra vez sobre filantropia nesta coluna de ESG, pois esse alguém diz ter aprendido em vários textos por aí que ESG não tem a ver com filantropia. O motivo é que aprendeu errado. Uma coisa pode não ser igual à outra, mas as duas estão intimamente ligadas e caminhando juntas.
O ESG avalia riscos e oportunidades de investimentos que tragam retorno financeiro a quem os faz. E a filantropia, desvinculada da necessidade de retorno financeiro, investe em projetos que beneficiam as pessoas e/ou o meio ambiente, o que, no fim das contas, é quase tudo o que importa para diminuir os riscos e aumentar as oportunidades das atividades econômicas. Sem falar que a filantropia também mexe em ponteiros diretamente relacionados aos aspectos ESG das corporações, como a reputação.
Feito o preâmbulo, vamos ao tema da coluna. O Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social) publicou o relatório “Perspectivas para a Filantropia no Brasil — 2022”, com oito tendências desta atividade para este ano, que começou outro dia e amanhã mesmo já chegou no Carnaval.
Em resumo, a filantropia tende a ser cada vez mais estratégica, direcionada a terceiros (já explico), colaborativa, centrada em grandes causas, com foco em soluções nas comunidades e mais engajamento das empresas e dos jovens.
Vamos lá. Uma das tendências trata do impasse entre o investimento de longo prazo e as emergências. A filantropia tende a ser cada vez mais estratégica, buscando soluções definitivas para problemas sistêmicos que atravancam o desenvolvimento de muita gente. Porém eis que a todo momento aparecem situações emergenciais que demandam ações imediatas para que várias pessoas possam continuar vivendo.
O exemplo mais notório, claro, é a pandemia. E agora, em curso, temos o caso de Petrópolis e seus mais de 200 habitantes que lá sucumbiram soterrados ou afogados.
Em 2020, devido à crise sanitária e econômica, a assistência social pulou de oitavo para terceiro lugar entre as áreas que mais receberam doações, segundo a pesquisa BISC 2020 (Benchmark do Investimento Social Corporativo). E o investimento explodiu. Foram R$ 5,3 bilhões ao todo, com Itaú (R$ 1,8 bi) e Vale (R$ 1,1 bi) à frente.
Com o arrefecimento da crise sanitária, o montante diminuiu em 2021 para R$ 4,2 bilhões. Contudo, 60% das empresas doadoras pretendem manter ou aumentar o total de investimento social em 2022 e 2023
Outra tendência diz respeito ao destino do dinheiro, mais precisamente se ele vai para iniciativas próprias, geridas pelo doador, ou para organizações da sociedade civil dedicadas a solucionar problemas complexos. Historicamente a alocação no primeiro grupo chegava a ser mais que o dobro do aporte em iniciativas de terceiros. A distância ficou bem menor em 2018 e, em 2020, o cenário se inverteu.
O foco em grandes causas, como equidade racial, combate às mudanças climáticas e acesso à tecnologia e conectividade, só tende a crescer entre os filantropos.
E uma tendência muito bacana de se ver é o engajamento dos jovens na filantropia. Já escrevi aqui algumas colunas sobre a inconformada Geração Z. Fato é que, afirma o relatório do Idis, essa juventude não esperará ter patrimônio ou receber uma herança para se jogar na filantropia. E mais: 45% dos jovens com idade entre 18 e 29 anos consideram as ONGs muito responsáveis pela solução dos problemas sociais e ambientais do país. Na população em geral, esse percentual cai para 34%.
A melhor forma de investir demandará cada vez mais uma visão estratégica. Diz o relatório: “As sociedades se tornaram mais complexas, assim como seus problemas. E o desafio enfrentado pelos filantropos, que querem gerar o maior impacto possível com suas doações, cresceu consideravelmente”.
É isso. Nossos problemas são intrincados. As soluções só virão por meio de atuações colaborativas e muitas parcerias. E precisam envolver todo mundo: governos, empresas, ONGs e a sociedade em geral. E, obviamente, dinheiro.
*Renato Krausz é sócio-diretor da Loures Comunicação
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.
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