Pessoas LGBTQIA+ aprendem desde cedo a esconder parte de si. (Javier Zayas Photography/Getty Images)
Bússola
Publicado em 1 de julho de 2021 às 19h17.
Por Andrea Fernandes e Felipe Piris*
Tive um mês daqueles que me enche de esperança e orgulho.
A ideia é que na coluna da semana passada eu trouxesse o depoimento de duas pessoas para falar sobre diversidade. Pedi para a Fa Pellegrino e para o Felipe Piris que escrevessem algo. Os dois textos tratavam de temas tão importantes e complementares que decidi separá-los – então a publicação de hoje é uma continuação da semana passada.
A decisão de chamar o Felipe para escrever algo aqui é muito óbvia para quem me conhece ou trabalha comigo. Ele é uma pessoa muito importante na minha vida. O Fe é uma daquelas pessoas que tem uma aura que atrai: sabe quando você entra na sala da Monalisa no Louvre e não consegue nem olhar pro lado? Eu não consigo lembrar quais outras obras estão expostas ali, e provavelmente, poucas pessoas conseguem. Com o Felipe é assim. Trabalhei com ele em outros projetos e sempre tento tê-lo por perto. Toda vez que ele abre o microfone, ele me surpreende. Tudo isso aos 27 anos. Hoje ele é um dos CEOs do Vipy e do Movimento Compre & Confie, empresas do T.Group.
Ao longo dos últimos anos, pude ver todo seu trabalho de introspecção, reflexão e amadurecimento, como líder e como amiga. Ele fala sobre um sentimento que me instigou muito em algumas de nossas muitas conversas.
Com vocês, meu querido amigo e brilhante profissional, Felipe Piris:
Nos meus 14 anos, descobri que o pai de uma amiga tinha um negócio de impressão de camisas que não andava bem. Decidi ajudar, então aproveitei o mês da biodiversidade para fazer uma camisa. Sem saber o que era, descobri meu espírito empreendedor, e acabei vendendo a camisa para a escola inteira.
Quando passei de sala em sala mostrando os modelos, ouvi uma criança no fundo, "Olha, ele quer ser estilista, ele é gay", enquanto o resto da sala ria. Essa experiência que poderia ser uma lição sobre empreendedorismo mudou minha vida. Com ela aprendi o que toda pessoa LGBTQIA+ aprende desde cedo: a esconder parte de mim e invisibilizar meu orgulho.
Essa "habilidade" que muitas pessoas diversas, as que podem e conseguem, desenvolvem, são parte de um instinto de sobrevivência, para terem direito ao afeto da família, manterem os amigos, e ocuparem os mesmos espaços profissionais.
A Rita Von Hunty, drag queen, do canal Tempero Drag, fez um vídeo no mês da diversidade chamado Recalque, Amor e Autenticidade. Nele, ela cita Freud e o conceito de recalcamento, processo onde nossa estrutura psíquica, nossa cabeça, nega alguma coisa e esconde lá no fundo do inconsciente. E, que um dia, aquilo que você recalcou volta cobrando que você assuma a sua autenticidade.
Sendo transparente com vocês, ainda tenho medo do Felipe que vou encontrar do outro lado, assumindo cada vez mais meu orgulho e a minha autenticidade. Mas também me sinto confiante pela família que formei no caminho, por ter encontrado acolhimento pessoal e profissional. E fico feliz por ter chegado onde cheguei, e por poder, como copresidente de uma empresa no T.group sendo LGBTQIA+, com todo o privilégio e por ocupar um espaço de exceção, trabalhar para que cada vez mais pessoas diversas se sintam acolhidas e não precisem invisibilizar seu orgulho.
E você não precisa ser LGBTQIA+ para ter invisibilizado sua autenticidade, e eu acredito, do fundo do meu coração, que você também pode assumir aquilo que te faz diverso. Porque quando tornamos o nosso orgulho visível, criamos espaço para que pessoas diversas sintam que elas podem fazer o mesmo.
"Um novo tempo há de vencer, pra que a gente possa florescer e, baby, amar, amar sem temer." (Flutua, Johnny Hooker)
*Andrea Fernandes é CEO do T.Group e Felipe Piris é um dos CEOs do Vipy e do Movimento Compre & Confie
"Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame."
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