Bússola

Um conteúdo Bússola

No teatro, Sigmund Freud põe em dúvida convicções, até mesmo seu ateísmo

Peça em cartaz em São Paulo traz o pai da psicanálise em embate com um desconhecido, que pode ser Deus

Peça já foi exibida em mais de 40 países, e agora chega ao Brasil (Hans Casparius/Getty Images)

Peça já foi exibida em mais de 40 países, e agora chega ao Brasil (Hans Casparius/Getty Images)

Bússola
Bússola

Plataforma de conteúdo

Publicado em 22 de abril de 2023 às 11h00.

Por Danilo Vicente*

Que tal encontrar com Sigmund Freud na Áustria anexada pela Alemanha nazista, em uma conversa que pode até ser com Deus? Minha indicação de hoje é teatral, uma peça direta, sem rodeios, apesar do tema inicialmente indicar ser um tanto abstrato. Direta, sem rodeios, mas intensa e marcante.

Na noite em que a Gestapo, polícia secreta do regime nazista, leva sua filha Anna a um interrogatório, Freud, o criador da psicanálise e personalidade mais influente da história no campo da psicologia, coloca em dúvida suas crenças. Em seu consultório na capital austríaca Viena, recebe a visita inesperada de um desconhecido, com quem trava um embate de ideias.

Esse encontro fictício é o enredo de Freud e o Visitante, montagem do diretor Eduardo Tolentino de Araujo (Grupo Tapa) do texto do autor belga Éric-Emmanuel Schmitt, em cartaz no Teatro Aliança Francesa, em São Paulo, até 4 de junho.

O Aliança Francesa é um espaço pequeno, perfeito para a peça. São apenas quatro personagens que entram e saem de cena. O cenário é sempre o mesmo. O forte está nas discussões. Ainda que fictícia, a obra traz o fundo histórico real. O ano é 1938 e a Áustria está aterrorizada pelos nazistas. A Gestado age como quer, iniciando a perseguição aos judeus na Segunda Guerra Mundial, parte do Holocausto que resultaria em cerca de 6 milhões de mortes. Freud e sua filha (vivida por Anna Cecília Junqueira), judeus, têm a possibilidade de deixar o país, mas o psicólogo resiste à ideia de abandonar seus compatriotas.

Interpretado por Brian Penido Ross, Freud entra no debate com o homem (Bruno Barchesi) duvidando de quem seja o “oponente”. Seria um maluco, um sonho, Deus? Já idoso e lutando contra câncer na garganta, o personagem passa a questionar o que acreditava até ali, inclusive seu ateísmo.

“Freud tem frases fortes e provocantes. ‘Deus é uma hipótese inútil, se ele é onipotente, ele é mal’. Chega até a dizer que a religião é uma neurose coletiva. Ele era judeu, não no sentido religioso, mas no cultural. Também era um ateu convicto e expurga tudo no choque de ideias com o desconhecido”, diz o ator Ross.

Em contrapartida, o visitante culpa o orgulho dos homens pelas mazelas do mundo em função do livre arbítrio. “Ele diz que o homem se tornou o senhor absoluto, senhor da natureza, onde ele degrada; senhor da política, onde o autoritarismo prevalece”, pontua o diretor Eduardo Tolentino de Araujo.

Freud E O Visitante é a primeira peça de teatro do belga Éric-Emmanuel Schmitt, e é a mais traduzida do teatro contemporâneo francês, passando por cerca de 40 países. Agora, no Brasil, pedida obrigatória.

*Danilo Vicente é sócio-diretor da Loures Comunicação

Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube

Veja também

PLAY: O Brasil voltou a ser palco de turnês mundiais

São Paulo sediará o mais novo festival dedicado à Cultura Sneaker

Salário emocional: bom para o colaborador, excelente para os resultados

Acompanhe tudo sobre:EntretenimentoTeatroPeças de teatroCultura

Mais de Bússola

Opinião: estamos chegando no limite do desenvolvimento das tecnologias digitais

Brasileiros acima dos 60 anos são os que mais reciclam, aponta pesquisa

‘ECA Digital’ entrará em vigor em seis meses. Como as empresas podem se preparar?

Como empresas estão fortalecendo a luta contra o câncer de mama no Outubro Rosa