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No e-commerce, o agronegócio também precisa ser “tech”

A expansão digital do agronegócio cresceu mais no Brasil do que na Europa e nos Estados Unidos, porém ainda há barreiras para os produtores

Produtores ainda sentem insegurança em adotar meios digitais, além da falta de acesso à internet (Jaelson Lucas/AEN/Agência Senado)

Produtores ainda sentem insegurança em adotar meios digitais, além da falta de acesso à internet (Jaelson Lucas/AEN/Agência Senado)

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Publicado em 19 de setembro de 2021 às 14h00.

Por Erick Melo*

Uma campanha publicitária de grande circulação no país é taxativa ao afirmar que “agro é tech”. E não é propaganda enganosa. De fato, o uso de recursos tecnológicos no agronegócio brasileiro é de encher os olhos dos entusiastas pelo tema.

O Brasil tem sido referência em práticas modernas no setor, valendo-se da aplicação intensiva de tecnologia em atividades como as de previsão e resposta para variações climáticas. O resultado dessas iniciativas se verifica no aumento da eficiência produtiva nas fazendas e no desenvolvimento de um know-how que permeia startups e centros de excelência de estudiosos do segmento.

Números corroboram essa narrativa. Segundo a Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), nos últimos dez anos, a participação do Brasil no mercado mundial de alimentos cresceu de US$ 20,6 bi para US$ 100 bi. Entre 2000 e 2020, a produção brasileira de grãos aumentou 210%, bem mais que a alta global verificada nessa seara — 60%. Nos próximos cinco anos, a expectativa é que o país se torne o maior exportador de grãos do mundo, à frente dos Estados Unidos.

Quando se fala em o agro ser tech, os avanços não se restringem aos mecanismos de exploração eficaz da terra. A aplicação do e-commerce no agronegócio brasileiro igualmente tem dado seus frutos. Também nessa ponta do sistema nos destacamos na comparação com mercados como o americano.

Um estudo de 2021 da McKinsey & Company, “A mente do agricultor na era digital”, apontou que a adoção de plataformas e canais digitais para compras agrícolas cresceu mais no Brasil durante a pandemia do que na Europa e nos Estados Unidos. Aqui, essa preferência saltou dez pontos percentuais, de 36% para 46%, contra uma elevação de sete pontos percentuais em terras europeias e estadunidenses.

Mas nem tudo são flores nesse campo do comércio eletrônico do agro. Algumas questões ainda impedem uma safra de melhores resultados de negócio pelas vias virtuais. Um dos entraves é o próprio acesso à tecnologia. O último Censo Agropecuário do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), realizado em 2017, apontou que mais de 70% das propriedades rurais do país não tinham acesso à internet. Espera-se que o advento do 5G contribua para um cenário mais favorável nesse quesito.

Existem outros obstáculos além desse, como o cultural. Cerca de 40% dos produtores rurais ainda veem os canais digitais como pouco seguros para suas transações, o que breca a participação deles nesses ambientes. Apesar dessa resistência, a boa notícia é que muitos usam os meios virtuais para atividades de pesquisa por produtos e serviços e nos processos de cotação para compra e de recompra, atingindo nessas etapas uma adoção digital entre 60% e 70%. Nesse contexto, o WhatsApp é uma das ferramentas preferidas.

 Além disso, o crescimento das agrofintechs, startups de financiamento de safra e insumos online, também impulsiona a ida do produtor rural para o ambiente online.

De qualquer forma, os produtores que optam pela digitalização muitas vezes esbarram em sistemas que não atendem às suas necessidades. Por conta disso, acabam desistindo da empreitada.

Plataforma bem pensada

Chegamos, então, a um ponto fundamental para a rega da semeadura do e-commerce no agronegócio: ele precisa ser bem planejado.

Uma plataforma de compra e venda de produtos agropecuários precisa estar estruturada para proporcionar aos visitantes experiências de alto nível. Jornadas que os convençam de que o meio virtual existe para facilitar suas vidas e lhes conceder vantagens em vários sentidos — desde o sortimento na oferta até as condições de entrega e o pós-venda, passando por características como preços bem definidos e trâmites inteligentes para efetivar os pagamentos.

É preciso levar em conta, na estruturação da plataforma, que seus usuários constituem um público que em geral não está acostumado a fazer negócios virtualmente. Dessa maneira, a estratégia de UX e UI precisa tornar esse ambiente eletrônico o mais simples e intuitivo possível, algo só factível com o uso da tecnologia.

O momento é propício para considerar esses movimentos. O avanço no desenvolvimento de marketplaces agrícolas no Brasil já é uma realidade. Grandes nomes do comércio eletrônico no país, caso de Mercado Livre, Magalu, B2W e Via Varejo, já estabeleceram espaços bem definidos em suas plataformas para uma dedicação exclusiva ao agronegócio. Outras iniciativas, como o projeto Broto, do Banco do Brasil e da BB Seguros, têm se tornado verdadeiros hubs do setor.

A afirmativa de que agro é tech precisa ser expandida. E entendida não só no âmbito de inovações como as que mapeiam o solo e as condições atmosféricas em busca da produtividade ideal das lavouras e criações.

Entre a máquina que ara o solo e o drone que sobrevoa as plantações para fotografá-las, existe um ambiente sujeito a outros tipos de intempérie. E que requer cuidados constantes para que as sementes nele plantadas floresçam em plenitude. Esse ambiente, também conhecido como e-commerce do agronegócio, ainda tem muito o que crescer. As raízes já existem. Para que a colheita seja farta, o lema é: “tech é tudo”.

 *Erick Melo é CCO e cofundador da WEBJUMP

 

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