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New England Journal of Medicine destaca modelo de startup brasileira

Modelo aplicado pela startup da Hospital Care reduziu desperdícios para a operadora e aumentou a satisfação dos pacientes

Novo modelo desenvolvido pela startup permitiu uma redução de 24,7% no custo total com a oftalmologia (Ferrantraite/Getty Images)

Novo modelo desenvolvido pela startup permitiu uma redução de 24,7% no custo total com a oftalmologia (Ferrantraite/Getty Images)

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Publicado em 16 de março de 2022 às 15h40.

Última atualização em 16 de março de 2022 às 15h51.

Um novo modelo de atendimento a pacientes oftalmológicos, idealizado pela Excella, startup da Hospital Care, é um dos destaques da revista New England Journal of Medicine (NEJM), uma das mais influentes na área da medicina. A iniciativa foi aplicada na Clínica Vera Cruz Oftalmologia — unidade da holding Hospital Care baseada na agenda de valor (Value Based Healthcare, VBHC) —, proporcionando redução no custo total do cuidado para a operadora de planos de saúde e diminuição no número de visitas e exames dos pacientes.

A Clínica Vera Cruz Oftalmologia, localizada em Campinas, começou a funcionar em abril de 2020. Os resultados decorrentes do novo modelo de atendimento aplicado mostram um impacto positivo tanto por parte da perspectiva do pagador como por parte dos pacientes.

A redução do custo total do cuidado com a oftalmologia foi de 24,7%. A concentração de todos os cuidados com os olhos em um único local resultou em uma diminuição do número de visitas (17,2%) e do número de exames (17,6%). Quanto ao retorno dos pacientes com os novos procedimentos, o NPS global foi de 94 com base na resposta de 2.509 pacientes.

Novo modelo de atendimento

Ao avaliar os custos da prestação de cuidados ao longo de dois anos, a Hospital Care observou que a oftalmologia representava um alto gasto para o Vera Cruz Plano de Saúde. Os cuidados oftalmológicos eram prestados por fornecedores credenciados e contratualizados no sistema de remuneração baseado em volume, dificultando o controle de custos.

Esse modelo não estava baseado em diretrizes clínicas, medidas de resultados clínicos e indicadores da percepção do paciente sobre a qualidade do cuidado.

Havia grande variabilidade entre os prestadores no número de exames e cirurgias em relação às consultas dos pacientes, apesar do perfil semelhante da população que procurava atendimento oftalmológico entre todos os provedores credenciados.

Foi realizado um estudo para definir as oportunidades sob a perspectiva da variação não justificada do cuidado, com base no perfil de utilização, por exemplo, no uso de determinados procedimentos de alto valor agregado.

Além disso, foram definidas três linhas de cuidado com base em condições médicas oftalmológicas que representavam 70% dos gastos com os cuidados com os olhos no Vera Cruz Plano de Saúde. Também foi contratualizado um novo modelo baseado em valor, onde as partes definiram, com base em estudos e análises, o potencial de redução dos desperdícios segundo evidências científicas disponíveis na época.

“Isso foi possível a partir da parceria com um grupo de oftalmologistas, que originou a Clínica Vera Cruz Oftalmologia, pautada em um relacionamento transparente, em um alinhamento de mindset empreendedor e um desejo de transformar a lógica da prestação de serviços de saúde”, afirma Fábio Gonçalves, diretor-executivo de valor e acesso da Hospital Care e CEO da Excella.

A parceria com o Vera Cruz Plano de Saúde, operadora de saúde também pertencente à holding, possibilitou o desenvolvimento de um modelo de contrato baseado em compartilhamento de riscos inspirado na filosofia das Accountable Care Organizations (ACOs) dos Estados Unidos.

“Uso de protocolos e linhas de cuidado que permitiram a redução dos índices em comparação com o período antes do lançamento, alcançando resultados clínicos superiores a benchmarks internacionais”, diz Pedro Vanalle Ferrari, diretor clínico da Clínica Vera Cruz Oftalmologia.

A Clínica Vera Cruz Oftalmologia compreende seis salas de exame, um centro de diagnóstico (para diagnóstico e tratamento de doenças dos olhos), três salas de cirurgia, um centro de laser e um centro de lentes de contato. O pessoal de apoio foi treinado para operar equipamentos e testes de diagnóstico, permitindo que a equipe médica se concentrasse exclusivamente nos pacientes atendidos.

Valor e acesso

A Excella é uma startup de saúde e tecnologia que desenvolve estratégias de valor e acesso. Hoje, um dos grandes problemas da saúde no Brasil é o crescimento descontrolado da inflação médica (VCMH cresce dois dígitos), muito acima do índice de inflação normal, uma discrepância que gera uma série de impactos na cadeia de valor da saúde, como no custo dos planos de saúde, dificultando a manutenção do benefício pelas pequenas e médias empresas e pelas pessoas físicas, por exemplo.

Quase R$ 28 bilhões dos gastos das operadoras de planos de saúde do Brasil (19,1% das despesas assistenciais), em 2017, com contas hospitalares e exames foram consumidos indevidamente por fraudes e desperdícios com procedimentos desnecessários, segundo o Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS). Esse consumo indevido compromete fortemente a qualidade da assistência, as finanças do setor e onera os contratantes de planos de saúde e seus beneficiários.

Atenta a este cenário, a Excella se dedica a equalizar os incentivos entre operadoras e prestadores de serviço de saúde, com o objetivo de reduzir o desperdício e a falta de transparência que prejudicam a contabilidade e as relações comerciais entre os players.

O desenvolvimento do novo modelo de atendimento aplicado à Clínica Vera Cruz Oftalmologia reflete a atuação da startup da Hospital Care.

“O ponto de partida foi encontrar oportunidades para reduzir variações não justificadas do cuidado com o objetivo de melhorar os resultados de saúde, aprimorar a experiência do paciente e reduzir o custo total do atendimento”, afirma Gonçalves.

Para ele, a startup encontrou um caminho para alinhar os incentivos entre o prestador do serviço assistencial e a fonte pagadora inserindo os pacientes no centro do cuidado. “Agora precisamos escalar o modelo para outras condições médicas e regiões, com o propósito de criar mais valor para nosso ecossistema de saúde”, declara.

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