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Não atire a primeira pedra: chega de linchamento

Documentário mostra como o Brasil tem a prática instituída na sociedade

Filme de 2018 chega a 2022 ainda atual (Future Publishing/Getty Images)

Filme de 2018 chega a 2022 ainda atual (Future Publishing/Getty Images)

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Publicado em 26 de março de 2022 às 09h00.

Por Danilo Vicente*

Todo dia, em média, o Brasil tem registrado um linchamento. Todo dia! Essa realidade é demonstrada no documentário “A Primeira Pedra”, produzido pelo Canal Futura e pela Couro de Rato. Disponível na TV a cabo (pelo Now) e no Globoplay, o filme de 2018 chega a 2022 ainda atual. Ganhe uma hora da sua vida assistindo.

Quantas vezes você já recebeu no WhatsApp ou viu no Facebook mensagem apontando que “fulano da foto” é o bandido que roubou tal casa, sequestra criança, violenta mulheres? Foi esse o primeiro passo para Fabiane Maria de Jesus, confundida com uma suposta sequestradora de crianças, ser violentamente morta por dezenas de pessoas.

O tal retrato falado da sequestradora era fake news. Alguém achou Fabiane parecida com a imagem distribuída e resolveu atacá-la, iniciando o linchamento. Por horas ela foi violentada na cidade do Guarujá, no litoral paulista. Algumas das cenas estarrecedoras são exibidas no documentário.

A produção mostra como a expressão “bandido bom é bandido morto” corre solta e motiva linchamentos a todo instante no Brasil. Cleidenilson Pereira da Silva era bandido. Não tinha passagens pela polícia e nunca havia respondido a processo na Justiça, mas resolveu assaltar um bar em São Luís, capital do Maranhão. Foi rendido no ato e, em vez de chamar a polícia, parte da população local resolveu amarrá-lo a um poste e agredi-lo continuamente. Chegou a receber uma garrafada na cabeça e teve o gargalo enfiado no rosto.

José de Souza Martins, autor do livro “Linchamentos: A Justiça Popular no Brasil”, é quem traz o dado aterrorizante de um linchamento por dia no país. E acrescenta que, diariamente, há tentativas não concretizadas. Cerca de um milhão de brasileiros participaram de linchamentos nos últimos 60 anos, segundo a conta do sociólogo.

A justiça pelas próprias mãos, o “olho por olho, dente por dente”, geralmente chega em um ato desesperado da vítima. Mas o que o documentário mostra é que no Brasil há uma prática instituída na sociedade. São “cidadãos de bem” que, em grupo, acreditam que estão sendo justos. Ganham “poder”, instituem naquele momento uma sociedade à parte, com leis próprias.

Atentar para este assunto é obrigação de quem deseja conviver em sociedade.  Um bom começo é assistir ao “A Primeira Pedra”.

*Danilo Vicente é sócio-diretor da Loures Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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