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Mulheres ocupam 1/6 dos assentos em Conselhos e 1/3 das novas indicações

Nesse ritmo, gap de gênero no board das companhias só será preenchido daqui uma pequena eternidade

"Numa análise acurada da numeralha do estudo dá para tatear no ar a gênese do preconceito." (Arte/Bússola)

"Numa análise acurada da numeralha do estudo dá para tatear no ar a gênese do preconceito." (Arte/Bússola)

Renato Krausz
Renato Krausz

Sócio-diretor da Loures Consultoria - Colunista Bússola

Publicado em 19 de outubro de 2023 às 11h28.

O mais recente estudo da Heidrick & Struggles sobre companhias abertas de vários países do mundo mostrou que, no Brasil, ainda estamos longe, muito longe, daquilo que a B3 propôs e a CVM (Comissão de Valores Mobiliários) chancelou em julho último: a partir de 2026, toda empresa listada no país deverá ter ao menos uma mulher e um membro de “comunidade sub-representada” em seu Conselho de Administração. Quem descumprir não sofrerá sanção, mas deverá se explicar publicamente por que não fez o que deveria. 

Temos 475 empresas listadas, e mais de um terço delas ainda não possui nenhuma mulher no Conselho. Do total de assentos, apenas 16% são ocupados por mulheres. E a indicação de novos integrantes para esses órgãos deliberativos está longe de chacoalhar as estruturas como deveria para reverter tanta desigualdade. De acordo com o “Board Monitor Brazil 2023”, de cada dez indicados em 2022, sete eram homens. Foram ao todo 93 indicações realizadas em 2022, em 32 empresas, contra 98 renovações feitas em 2021. 

Numa análise acurada da numeralha do estudo dá para tatear no ar a gênese do preconceito. A maioria dos novos conselheiros são CEOs (45%) ou CFOs (11%), o que torna mais difícil a nomeação de mulheres, pois, como todos sabemos, elas também são minoria nesses cargos. E dois terços dos indicados já tinham experiência anterior em conselhos – o que, de novo, tira muitas mulheres do páreo. Ana Paula Chagas, sócia da Heidrick & Struggles no Brasil, disse ao Valor: “Como recrutadores, sabemos que entre um homem que já participa de oito conselhos e uma mulher que iria exercer a função pela primeira vez, a escolha quase sempre será do homem, embora a executiva certamente iria se empenhar muito para dar resultado”.

De cinco setores analisados, o único que indicou mais mulheres como conselheiras no ano passado foi o de tecnologia e serviços. Elas ficaram com 56% das indicações. O setor industrial foi aquele em que predominância masculina se revelou mais gritante: do total de indicados, apenas 23% eram mulheres.

Bem, se elas ocupam apenas 1/6 dos cerca de 5 mil assentos e, a cada renovação de aproximadamente 100 postos, ficam com menos de 1/3 deles, não é preciso ser um gênio da matemática para saber que o tempo necessário para zerar essa brutal desigualdade encosta numa pequena eternidade – até porque, vejam, uma nova mulher que é indicada pode não estar necessariamente substituindo um homem, e sim outra mulher.

Assim não há ESG que dê cabo.

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