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MindFlow: por que pessoas confiáveis nem sempre inspiram nossa confiança?

Cumprir promessas não basta. A verdadeira confiança, que cria conexões e relações genuínas, pede equilíbrio entre confiar e ser confiável. A mentoria pode ser um laboratório seguro para desenvolvê-la.

Confiança de verdade pede coragem (Nisian Hughes/Getty Images)

Confiança de verdade pede coragem (Nisian Hughes/Getty Images)

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Publicado em 8 de outubro de 2025 às 10h00.

Por Cecilia Ivanisk, fundadora da Learn to Fly.

A confiança é uma das bases para criar conexões genuínas e relações que realmente importam. Funciona como via de mão dupla: saber confiar e ser confiável. Poucos equilibram os dois.

O que faz você confiar em alguém? Não estou falando apenas da confiança profissional, de saber que a pessoa vai entregar o projeto bem feito e no prazo. 

Estou falando daquele laço de confiança mais profundo que permite você ligar às 11 da noite para alguém e dizer "preciso de ajuda". Aquela que te deixa admitir "não sei o que fazer" sem medo de ser julgado.

Confiança é um dos alicerces para a construção e manutenção de relacionamentos sólidos e funciona como uma via de mão dupla que precisa estar em equilíbrio. Você precisa ser alguém em quem as pessoas confiam, mas também precisa conseguir confiar nas pessoas.

O interessante é que podemos ter um lado mais desenvolvido que o outro, e isso explica situações aparentemente contraditórias: às vezes conseguimos ser vistos como confiáveis em certas situações, mas temos dificuldade para construir um laço de intimidade real. 

Ou, ao contrário, confiamos facilmente nos outros mas temos dificuldade para que confiem em nós. 

A ciência por trás da confiança

Estudos de neurociência sugerem que a confiança ativa regiões cerebrais ligadas à recompensa e à avaliação de risco. 

Quando alguém se abre conosco e respondemos com interesse genuíno, o cérebro dessa pessoa libera ocitocina, o neurotransmissor associado a vínculos sociais. Isso cria um ciclo de reforço positivo que facilita futuras interações autênticas.

O problema é que esse sistema também registra episódios de “traições" ou rejeições. Quando você se abre e recebe indiferença ou julgamento, seu cérebro assimila aquela situação como ameaça. Na próxima vez, ele vai pensar duas vezes antes de se arriscar novamente.

Podemos dizer que a confiança funciona como uma dança 

Alguém se arrisca e compartilha algo. A outra pessoa acolhe essa abertura com interesse. A primeira percebe o acolhimento e se sente segura. A segunda também se arrisca. Quando esse ciclo funciona, ambas se sentem livres para ser autênticas. Quando trava, a relação fica presa no superficial. E por que trava?

Quando nos sentimos ameaçados acabamos reproduzindo padrões para nos proteger, mas que na verdade nos sabotam e criam isolamento. Os três mais comuns são:

1. A defensividade, 

Que transforma qualquer comentário em ataque pessoal. Você sempre tem uma explicação pronta para se proteger, em vez de ouvir de verdade.

2. A evasão

Que mantém tudo na superfície. É mais fácil manter distância do que arriscar uma conexão real.

3. A crítica constante

Que aponta problemas toda vez que alguém se abre. Com o tempo, as pessoas param de compartilhar qualquer coisa com você.


Reprogramando padrões

Apesar de estudos da psicologia mostrarem que nosso termômetro  de confiabilidade seja resultado das experiências e aprendizados que acumulamos ao longo da vida, é possível desenvolver essa habilidade com ações pequenas. 

Admitir quando não sabe, em vez de fingir. Compartilhar um desafio que está enfrentando. Pedir ajuda sem transformar isso em sinal de fraqueza. Mostrar uma emoção genuína no momento certo. 

Deixar espaço para que outros também se abram, fazendo perguntas de verdade e escutando as respostas.

Essas práticas funcionam ainda melhor quando alguém observa de fora nossos padrões. É aí que processos de mentoria podem acelerar e muito nosso desenvolvimento. Um bom mentor oferece justamente esse espaço seguro para praticar a vulnerabilidade e receber feedback honesto sobre como você se mostra nas relações. 

É alguém que já navegou por desafios parecidos e pode apontar padrões que você não enxerga sozinho. Ali você experimenta se abrir, recebe acolhimento, aprende a confiar e a ser confiável antes de aplicar isso em contextos mais arriscados.

Os ganhos que as relações de confiança trazem são mais do que concretos. Aquele líder que admite que não sabe e precisa pensar mais sobre um ponto ganha mais confiança do time do que aquele que sempre tem respostas prontas. 

Equipes se engajam mais quando sentem que podem ser honestas sem sofrer retaliação. Parcerias ficam mais sólidas quando você pode dizer "estraguei tudo, preciso de ajuda" sem medo de julgamento. Ambientes onde se pode ser autêntico produzem mais porque ninguém gasta energia fingindo que está tudo bem quando não está.

Confiança de verdade pede coragem 

Coragem para cumprir nossa palavra, mesmo quando ninguém está olhando. E coragem para se mostrar humano quando faz sentido, admitindo dúvidas e imperfeições. Não é escolher um ou outro. É equilibrar os dois.

Qual lado você acha que domina melhor? Em que situações você trava na hora de se abrir? E se você escolhesse uma pequena ação para praticar esta semana, qual seria?

 

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