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Merkel: o anjo de ferro da política mundial

Coluna semanal do analista Márcio de Freitas comenta os temas mais debatidos entre os poderes em Brasília

 (Sean Gallup / Equipe/Getty Images)

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Isabela Rovaroto

Isabela Rovaroto

Publicado em 17 de dezembro de 2020 às 17h39.

A primeira-ministra da Alemanha, Angela Merkel, foi eleita a mulher mais poderosa do mundo diversas vezes. É um fenômeno de longevidade na chancelaria, com 15 anos à frente do governo, alterando parceiros entre os partidos de coalizão parlamentar, mas mantendo a hegemonia e a forte liderança dentro do país e na União Europeia.

Merkel tem uma face dura do ponto de vista econômico. É fiscalista e levou as determinações de controle orçamentário não só a seu povo, mas enquadrou até mesmo gregos e troianos na crise de 2008.  Quando da ruína da economia da Grécia, endureceu com o governo de Atenas e não abriu mão de um receituário ortodoxo mesmo sob os protestos nas ruas de Atenas, que balançaram a Acrópole.

A Alemanha foi criticada por vários países em desajuste. Ela se manteve inflexível para todos países da Comunidade Europeia. Não chegou a ser uma dama de ferro, como Margareth Thatcher, mas se aproximou muito. Curiosidade desse período:  a ex-presidente Dilma Rousseff fez forte crítica à Merkel por sua postura fiscal rígida, em discurso digno de entrar para a galeria dos momentos em que o silêncio é uma mercadoria cara e rara, muitas vezes desperdiçada por falta total de bom senso.

Dilma tentou ensinar economia à Merkel, que ainda está no poder e mantém o controle da economia. A presidente brasileira quebrou seu país e saiu pela porta do impeachment. Merkel continua impávido colosso.

O comportamento de Merkel em relação à emigração exigiu que andasse na corda bamba dos equilibristas, entre fechar e abrir o país às ondas de flagelados da guerra da Síria e da África que invadiram a Europa em anos recentes. Enfrentou desgastes, pareceu perder o brilho momentâneo, mas conseguiu escapar ilesa e se manter no poder. Sinalizou o fim da carreira, mas não apareceu até agora um nome de sua estatura para ocupar seu lugar. Merkel tem 1,65 metro.

Em 2013, participei de uma reunião de trabalho com a chanceler alemã, que recebeu o então vice-presidente brasileiro, Michel Temer. Encontro objetivo, pautas preparadas pela diplomacia, conversa amigável e, lá pelas tantas, Merkel achou que, como todo brasileiro, Temer também era conhecedor profundo de futebol – o que não é nem próximo da realidade.

E ela começou a descrever um gol do sueco Zlatan Ibrahimovic marcado na véspera. Um golaço de bicicleta, narrado pela alemã usando canetas para demarcar a disposição de jogadores e da linha da área para dar noção da grandiosidade e da beleza da jogada. Recomendou a Temer que assistisse assim que possível no youtube, indicação jamais seguida. E, para terminar a reunião, o então vice-presidente desejou que a Alemanha tivesse todo o sucesso no campeonato mundial que viria a disputar em solo brasileiro no ano seguinte. Merkel adorou a manifestação, mas jamais imaginou que sua seleção pudesse ganhar de 7 a 1 do time canarinho.

A dimensão política da chanceler, entretanto, só se percebe no momento em que ela determina o lockdown de seu país mais uma vez, após o aumento de mortes pela pandemia da Covid19. Entre a vida e o preço da queda da atividade econômica, Merkel fez uma opção clara pela sanidade do povo. Atitude dura, em discurso emocionado, mas firme como ferro. Merkel materializou seu primeiro nome como um anjo de ferro na defesa da vida e de seu governo. Ninguém poderá dizer que ela não tem preocupação com a economia, mas primeiro cuida das coisas mais importantes. E a vida de cada cidadão não tem preço. O resto se recupera depois.

* Analista Político da FSB

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