Em momentos de crise, NPLs pode contribuir positivamente (Xavier Lorenzo/Getty Images)
Bússola
Publicado em 23 de agosto de 2022 às 15h45.
Última atualização em 23 de agosto de 2022 às 18h37.
Por Ulisses Rodrigues*
As crises econômicas são uma das questões mais imediatas e importantes para o setor bancário, independentemente do país. De forma geral, elas são marcadas pelo aumento dos empréstimos inadimplentes, o que pode impactar os balanços das instituições. A falta de pagamentos tende a afetar as reservas necessárias para sustentar a originação de novos créditos, desencadear problemas no setor bancário e rapidamente contagiar outras áreas da economia, alterando as perspectivas relacionadas aos níveis de emprego e crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Por essa razão, os níveis de inadimplência estão sempre sob os olhos dos bancos centrais e das instituições financeiras.
Mais do que um indicador de incapacidade de pagamento, o empréstimo inadimplente é um fardo tanto para o tomador quanto para o credor. Dívidas em atraso podem exigir a apresentação de bens como garantia, ou converter-se em negativação do nome de quem obteve o empréstimo. Quando não resolvidas, dificultam a obtenção de novos financiamentos.
Para o credor – papel majoritariamente exercido por bancos –, a piora da inadimplência pode comprometer a rentabilidade da instituição, contrair a oferta de crédito e distorcer a alocação de recursos. Nesse contexto, ganham atenção os empréstimos cuja expectativa de pagamento é significativamente menor ou já não é mais previsível. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), estão nessa categoria casos cuja amortização do principal e dos juros não ocorre por 90 dias, pelo menos. No jargão do mercado, esses empréstimos ganham o nome de créditos podres ou NPLs (sigla em inglês de empréstimos não performados).
Contudo, o aumento de NPLs nos resultados dos bancos não é provocado apenas pela falta de pagamentos. Em alguns casos, pode decorrer de falhas na supervisão e na governança, da adoção de estratégias agressivas de empréstimos e aquisições, além de excessiva exposição a setores que foram mais impactados pela crise econômica.
Diante desses altos estoques, as instituições provavelmente se concentrarão na reorganização interna, no aprimoramento dos seus processos e na melhoria da qualidade dos ativos vencidos, em vez de fornecer novos créditos. As estratégias adotadas para resolver o problema com NPLs costumam estar associadas a custos de curto prazo e passam por uma capitalização suficiente para suportar os provisionamentos. Aqui, a venda das carteiras com descontos significativos é uma solução rápida e eficiente.
Existem compradores com capital e apetite de risco para esse tipo de transação, oferecendo liquidez aos bancos. Ao assumirem as carteiras de NPLs, as empresas especializadas contribuem para a formação de um mercado secundário desses ativos, ambiente que promove as negociações e cria um valor justo, definido com base na oferta e na demanda.
Por serem especializadas na compra de NPLs, empreendem diversos esforços para renegociar dívidas atrasadas, recuperando a solvência de pessoas físicas e de empresas endividadas. Nesse sentido, muitas dessas empresas encontram as respostas em soluções digitais. Adotam processos de cobrança compatíveis com todas as etapas da jornada do cliente, digitalizados e personalizados, que resultam em mais agilidade. Com sistemas que integram diferentes ferramentas e baseados em dados, muitas aplicam inteligência artificial e machine learning para segmentar o atendimento aos clientes e atribuir um tratamento adequado aos respectivos perfis e necessidades.
Os ganhos de eficiência operacional advindos da combinação das diferentes estratégias são exatamente o que permite, estimula e viabiliza a formação do mercado secundário de NPLs. Ao mesmo tempo, possibilitam que os compradores das carteiras realizem o retorno sobre o capital investido, conforme projetado nos modelos de precificação.
Além de prover liquidez aos NPLs, essa gestão profissionalizada e especializada em recuperação de crédito é uma alternativa a um dos maiores desafios com que os bancos se deparam quando optam por manter e lidar com essas carteiras. Ainda que exista amplo leque de tecnologias, a maioria das instituições financeiras acaba se restringindo à automatização do processo de cobrança, modelo que não oferece muitas flexibilidades nas estratégias de negociação.
Esse processo, que dificilmente reconhece padrões de comportamento do cliente, é insensível à necessidade de personalização, podendo ser definido como “centrado no cliente”, e não “centrado no consumidor”, cuja premissa é compreender o usuário para oferecer soluções que atendam suas expectativas.
Crises econômicas têm sido recorrentes, e os mercados secundários de NPLs – dos quais participam empresas especializadas e com altos níveis de eficiência – se mostram fundamentais, nesses momentos de incertezas, para reabilitar a saúde financeira de pessoas físicas e jurídicas. Também contribuem para que os bancos estejam preparados para o pós-crise. Liberadas do peso desses ativos, as instituições financeiras poderão retomar o protagonismo na concessão de créditos, apoiando indivíduos e empresas na retomada de projetos e investimentos, para impulsionar a geração de riqueza e criação de novos empregos.
*Ulisses Rodrigues é CEO da Intrum Brasil
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