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Marketing no caso dos bebês reborn: vale mais apostar no absurdo ou em conexões reais? 

Uma análise sobre como as marcas podem navegar entre a necessidade de autenticidade e o poder do inesperado, aprendendo com as recentes polêmicas virais, como a dos bebês reborn

Bebês reborn (Dasril Roszandi/Anadolu Agency /Getty Images)

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Publicado em 28 de maio de 2025 às 13h00.

*Por Kelly Pinheiro

O cenário do marketing em 2025 vem se revelando um fascinante paradoxo. De um lado, uma busca incessante por conexões autênticas e experiências reais. Do outro, a ascensão do "marketing do absurdo", que usa o bizarro e o inesperado para furar a bolha da saturação de conteúdo. Como navegar nesse território?

Recentemente, vimos essa dualidade se manifestar de forma explícita em um fenômeno que tomou as redes sociais: o boom dos bebês reborn entre adultos. Bonecas hiper-realistas tratadas como filhos, gerando de fascínio a repulsa, em um espetáculo que mistura afeto, performance e, claro, muito engajamento.

A sedução do absurdo

O marketing do absurdo não é novidade, mas ganhou tração nos últimos tempos. Em um mundo onde a atenção é o ativo mais escasso, o "estranho" vende. Dados da consultoria Stakla indicam que 88% dos consumidores se conectam mais com marcas que ousam parecer "esquisitas", especialmente a Geração Z.

O caso dos bebês reborn ilustra isso. A simples imagem de um adulto em uma consulta médica simulada para uma boneca causa estranhamento imediato. Esse choque cognitivo gera comentários, compartilhamentos e viralização, mesmo que parte da reação seja negativa. É o absurdo como isca de atenção.

A busca incessante por conexão

Contudo, reduzir o fenômeno reborn apenas ao absurdo seria simplista. Ele também ecoa a profunda necessidade humana por conexão e cuidado. Em uma sociedade cada vez mais digital e, por vezes, solitária, esses objetos podem preencher lacunas emocionais, ainda que simbolicamente.

Essa busca por experiências genuínas é outra forte tendência de marketing. Vemos marcas investindo em eventos presenciais de nicho, valorizando o conteúdo gerado pelo usuário (UGC) e buscando propósitos claros. O consumidor anseia por autenticidade, por sentir que há algo real por trás da comunicação.

O espetáculo nas redes: emoção e autopromoção

Aqui reside o ponto nevrálgico: a performance. Nas redes, a linha entre a vivência autêntica e a encenação para engajamento é tênue. A exposição da rotina com bebês reborn, como vimos, gera um turbilhão emocional – curiosidade, empatia, indignação.

Essa intensidade emocional é o motor do algoritmo. A polêmica vira conteúdo. Influenciadores e até mesmo as artesãs (as "cegonhas") se beneficiam dessa visibilidade. Não se trata apenas de "brincar de boneca", mas de participar de um debate cultural que rende likes, seguidores e, potencialmente, vendas.

Lições para as marcas

O que as marcas podem aprender com isso? Primeiro, que a autenticidade continua sendo crucial, mas o "inesperado" pode ser uma ferramenta poderosa para se destacar. É preciso coragem para sair do lugar comum, mas sempre com estratégia e alinhamento ao propósito da marca.

Segundo, entender a complexidade das emoções do consumidor. Nem toda conexão precisa ser positiva para gerar resultado. O importante é gerar diálogo e relevância cultural, mesmo que isso envolva navegar por temas controversos com responsabilidade.

Terceiro, reconhecer o poder da performance na era digital. O conteúdo não é apenas o que se diz, mas como se apresenta. A estética, a narrativa e a capacidade de gerar conversa são tão importantes quanto a mensagem em si.

O desafio para o marketing é equilibrar esses pratos: ser autêntico sem ser monótono, ser surpreendente sem ser gratuito, e gerar conexão real em um mundo cada vez mais performático. O fenômeno reborn, com todas as suas camadas, nos oferece um rico material para reflexão.

*Kelly Pinheiro é jornalista e especialista em marketing e posicionamento de marcas. Fundadora e CEO da Mclair Comunicação.

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