Bússola

Um conteúdo Bússola

Marco Tulio Carvalho: Pandemia deixou a saúde mental no limite

Estudo mostra aumento na prevalência de transtornos depressivos graves e transtornos de ansiedade em decorrência da pandemia de covid-19

Estudo aponta que a prevalência de doenças mentais acometeu mais os jovens do que os idosos (ThitareeSarmkasat/Getty Images)

Estudo aponta que a prevalência de doenças mentais acometeu mais os jovens do que os idosos (ThitareeSarmkasat/Getty Images)

B

Bússola

Publicado em 16 de novembro de 2021 às 15h26.

Por Marco Tulio Carvalho*

Estamos, finalmente, enxergando aquela famosa luz no final do túnel quando o assunto é a pandemia do coronavírus. No Brasil e no mundo já começamos a ver a economia se movimentar, pessoas se encontrando, bares e restaurantes abrindo, salas de emergências destinadas para pacientes com covid-19 sendo desativadas e muitos voltando ao tão esperado “normal”. Tudo leva a crer que a vacinação em curso vem demonstrando resultados significativos.

Entretanto uma coisa ainda vai perdurar por muito tempo: os efeitos do isolamento social e da covid na saúde mental das pessoas. Esta não é uma afirmativa só minha, mas de outros colegas especialistas e de estudos que estão sendo publicados. O fato é que muitas pessoas adoeceram mentalmente e precisamos dar atenção a isso com urgência.

Um artigo publicado no início de outubro no The Lancet por um grupo de cientistas em colaboração (covid-19 Mental Disorders Collaborators) traz um diagnóstico que já era previsível: a pandemia está causando aumento de depressão e ansiedade no mundo todo.

Este estudo é o primeiro a quantificar o ônus dos transtornos depressivos e de ansiedade por idade, sexo e região. Por meio de uma revisão sistemática dos dados em 204 países e territórios, publicados entre 1º de janeiro de 2020 e 29 de janeiro de 2021, o artigo mostra evidências científicas do aumento na prevalência de transtorno depressivos graves e transtornos de ansiedade por causa da pandemia de covid-19.

Dois indicadores estiveram associados diretamente ao aumento da prevalência de transtornos depressivos e de ansiedade graves: as taxas de infecção diária por SARS-CoV-2 e a redução na mobilidade humana (isolamento social). Ou seja, os locais mais atingidos pela pandemia em 2020 tiveram maior incidência dessas doenças mentais.

Além disso, houve maior aumento nas taxas de depressão em mulheres do que nos homens. Algumas coisas podem justificar talvez esse cenário, como as responsabilidades que são destinadas a elas, como o cuidado com a casa, filhos e família. Mundialmente, as mulheres também são mais desvalorizadas do que os homens financeiramente, o que agrava o quadro em uma situação de crise da qual estamos atravessando.

O estudo ainda aponta que a prevalência de doenças mentais acometeu mais os jovens do que os idosos. O fechamento de escolas, o rompimento com a sala de aula e a falta de convívio social podem ter levado a esse quadro grave e sem precedentes.

Aumento de ansiedade e depressão no mundo

Estima-se, segundo o artigo, que no último ano houve um aumento médio de 53,2 milhões de casos de depressão no mundo, um acréscimo de 27,6% causado pela pandemia. Esse número é tão preocupante que, no mundo, em cada cem mil habitantes, cerca de 3,2 mil estão sofrendo de depressão.

Os casos de ansiedade não ficam atrás. Ainda com base no estudo, houve um acréscimo de 76,2 milhões de novos diagnósticos globalmente, um acréscimo de 25,6%. Ou seja, a prevalência total foi de 4.802 para cada cem mil habitantes.

Não podemos ignorar que, além dos desafios causados pela covid-19 em diversas esferas da nossa sociedade, precisamos pensar em como tudo isso se reflete na saúde mental das pessoas.

Só no Brasil, o tratamento para pessoas com qualquer transtorno mental já era escasso em diversas regiões devido à falta de recursos. Vejo agora que a crise na saúde trouxe um alerta muito importante que não podemos ignorar: precisamos fortalecer o sistema de saúde mental.

Existem alguns caminhos para isso e eu me arrisco a dar algumas direções, como aumentar a promoção do bem-estar emocional, atuar nos fatores ambientais negativos (aqui há uma dica para as empresas) e realizar intervenções (mais precoces possíveis) para tratar aqueles com transtorno mental.

O que não podemos é esperar erradicar a covid-19 para fazer alguma coisa. Devemos começar já, antes que as coisas se agravem ainda mais.

*Marco Tulio Carvalho é CMO (Chief Medical Officer) da eCare

Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube

Veja também

Acompanhe tudo sobre:ComportamentoMedicinaPandemiasaude-mental

Mais de Bússola

Instituição de pagamentos para ‘bets’ movimenta R$ 2,6 bilhões e se volta para regulamentação

Gamificação: como engajar equipes e melhorar a produtividade?

3 dicas de como o potencializar as estratégias na Black Friday utilizando marketing de influência 

Inteligência artificial e segurança cibernética na nova fase das relações EUA-China e Brasil