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Márcio de Freitas: O povo sabe o que o candidato fez no verão passado

O eleitor busca uma luz em tempos de escuridão, e a esperança é um fator considerável da conversão do voto em tempos difíceis

O tribunal de contas popular é uma instância informal no sistema democrático, mas decisória em períodos eleitorais. (Fábio Pozzebom/Agência Brasil)

O tribunal de contas popular é uma instância informal no sistema democrático, mas decisória em períodos eleitorais. (Fábio Pozzebom/Agência Brasil)

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Publicado em 31 de dezembro de 2021 às 14h36.

Por Márcio de Freitas*

O tribunal de contas popular é uma instância informal no sistema democrático, mas decisória em períodos eleitorais. Não cabe recurso a seus vereditos. Julga com base em passado e, principalmente, em expectativas futuras. O presente conta para quem ocupa cargos e será avaliado pelas entregas que fez durante o mandato, se coerente com as promessas na campanha anterior.

Houve casos interessantes na história, de vencedores históricos que perderam a sintonia com o momento eleitoral e foram derrotados. Winston Churchill comandou a Inglaterra contra Adolf Hitler. Ganhou a guerra, mas perdeu a batalha eleitoral logo a seguir. O eleitor inglês estava cansado do longo conflito e quis alguém que oferecesse um futuro diferente.

Churchill sinalizava a continuação da guerra na política. Ele estava certo, e a história demonstrou isso quando Stalin tornou o mundo mais autoritário diante da inação dos exaustos aliados. Mas o eleitor queria uma folga depois de tanta morte e destruição provocada pela Segunda Guerra Mundial e parou a briga.

Estar em sintonia com o seu tempo é uma arte política. Tempos sombrios necessitam de luz. Alguns oferecem apenas o túnel: um mergulho numa longa viagem em que se perde muito tempo sem enxergar nada à frente. Muitas vezes, o condutor fica perdido sem apontar a saída.

No final de 2019, o mundo entrou num longo período de escuridão, com o vírus da covid-19. As certezas foram todas erodidas pelas perguntas sem respostas. O distanciamento se impôs, mesmo a quem não o queria. Mortes se acumularam de forma devastadora. A vacina surgiu com rapidez extraordinária. Ainda não foi o suficiente para solucionar todo o problema, mas já serviu de boia de salvação para bilhões de pessoas. A vacina se traduziu em esperança, se tornou o frágil futuro luzindo no meio da noite longa.

O início da pandemia reforçou os traços de um mundo dividido, com sociedades ainda mais apartadas do que o distanciamento físico poderia revelar. A briga com a realidade, a negação dos valores da vida, o egoísmo de classes privilegiadas aflorou mostrando o lado ruim do ser humano. A África sem vacinas continua a ser o grande parque de diversão da mesquinharia humana a nos provar o quanto pigmeus todos ainda somos no assunto solidariedade. De outro lado, médicos e profissionais da saúde lutaram bravamente para salvar pacientes. Algumas vezes sem medicamentos, sem recursos mínimos, sem equipamentos. Pesquisadores buscaram tecnologias novas para imunizar a população. Empresas e governos dedicaram-se a oferecer alento.

Outros procuraram somente fugir do problema. Nos Estados Unidos, depois de ver Donald Trump correr do enfrentamento da pandemia, o eleitor caminhou em direção à nova solução encarnada por Joe Biden. O tribunal de contas popular não perdoou.

Em 2022, o tribunal estará aberto no Brasil. Vai dar seu veredito. Julgará o passado de Lula, seus acertos e erros. Avaliará se João Doria merece continuar acelerando na política, ou se aplicará multa e suspensão da carteira por excesso de velocidade. Poderá conceder um novo visto no passaporte de Ciro Gomes para Brasília… ou para Paris. Dará uma sentença popular sobre as ações e processos do ex-juiz Sérgio Moro. Passará em revista os atos e omissões de Jair Bolsonaro.

Todos serão julgados com critérios nem sempre objetivos, provas nem sempre palpáveis. Critérios algumas vezes mais emocionais do que racionais serão usados para a decisão. Essa característica de julgamentos eleitorais é um dos fatos que costuma assustar quem está no banco dos réus. Mesmo que não pareça, o povo sabe o que os candidatos fizeram no verão passado. E eles também… mesmo que não admitam.

Nem sempre adianta ter razão, como o exemplo de Churchill demonstrou. O fato é que o eleitor busca uma luz em tempos de escuridão. E a esperança é um fator considerável da conversão do voto em tempos duros e difíceis. Quem trouxer esperança em 2022, terá mais chances de brilhar na eleição. Que o Brasil saiba encontrar seu melhor caminho no ano de julgamento.

Feliz Ano Novo!

*Márcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação

Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a Exame. O texto não reflete necessariamente a opinião da Exame.

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