Bolsonaro chegará à ONU com um passivo acumulado no setor ambiental (Isac Nóbrega/PR/Flickr)
Bússola
Publicado em 17 de setembro de 2021 às 20h16.
Última atualização em 17 de setembro de 2021 às 20h22.
Por Márcio de Freitas*
As viagens presidenciais do primeiro mandatário nacional à Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas em Nova York são usadas geralmente para falar ao Brasil, com recados à política interna. O foco não deve mudar, mas o Brasil cada vez mais entra na mira das cobranças ambientais. E o clima seco no país neste ano, fator de aumento acentuado das queimadas, vai jogar mais fogo nessa fogueira.
O presidente Jair Bolsonaro já chegará com um passivo acumulado no setor nos últimos anos, quando os dados de desmatamento escalaram novos patamares. E com um cobrador de grande porte na recepção, o anfitrião Joe Biden, presidente dos Estados Unidos e grande aliado dos movimentos de mudança de postura em relação às mudanças climáticas no mundo. Biden tem anunciado intenção de crescer muito os investimentos em energia renovável em sua gestão, mudança significativa em relação ao último governo de Donald Trump.
Os dados ruins variam, com o Imazon a apontar alta de mais de 50% no desmatamento da Amazônia — palavra icônica quando se trata de meio ambiente em qualquer esquina do mundo. Os resultados desastrosos já provocaram até mesmo a queda de um ministro, Ricardo Salles, mas não mudaram o cenário. E as imagens do cerrado e da mata amazônica queimando ardem junto com a imagem do país no noticiário internacional.
Esta é uma pauta que perdeu um pouco de protagonismo em função da pandemia que ceifou milhões de vidas no mundo e impactou a economia mundial. Mas está latente, e voltando acelerada.
A ONU é só o primeiro teste. O Brasil ainda terá de passar pela provação da 26ª Conferência das Partes sobre Mudanças Climáticas da ONU, a ser realizada no começo de novembro em Glasgow, na Escócia. A implementação de acordos, como o de Paris e a preservação de nossas matas serão abordados.
O grande mistério é o que dizer. Falar que temos ainda o maior número de matas preservadas é apontar para o passado. O que o mundo quer saber é como será o futuro do país, e farão pressão política e econômica sobre o Brasil. Claro, fazem a pergunta porque demoraram eles mesmos a ter resposta e hoje vivem em países que muito contribuíram para o aumento da temperatura mundial. Mas como diria a canção, um erro não conserta o outro.
Nova York pode ser o primeiro teste para saber que mensagem é melhor para tentar ajudar o país a começar a recuperar lá fora a sua imagem, que atualmente está mais para o cinza do que o verde das nossas matas. E esta é uma questão fundamental que tem a ver com a vida prática dos negócios brasileiros, muitas vezes impactados no balcão da diplomacia por causas que parecem distantes das relações comerciais. Mas sempre podem ser usadas contra o país a pretexto de criar uma relação de força melhor para outras nações. E em prejuízo duplo para os brasileiros.
*Márcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação
Este é um conteúdo da Bússola, parceria entre a FSB Comunicação e a EXAME. O texto não reflete necessariamente a opinião da EXAME.