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Márcio de Freitas: Diário da República Dividida do Brasil

Temos hoje dois presidentes da República no país, fenômeno que se repete de quatro em quatro anos

Lula ganhou as eleições, e agora? (Danilo Martins Yoshioka/Anadolu Agency/Getty Images)

Lula ganhou as eleições, e agora? (Danilo Martins Yoshioka/Anadolu Agency/Getty Images)

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Publicado em 11 de novembro de 2022 às 12h30.

Querido diário, estamos em novembro e não houve golpe. Ufa. As Forças Armadas só encontram votos nas urnas eletrônicas. Nada mais. Foi uma surpresa colossal e, nas redes sociais (?), muita gente acusou os militares de serem comunistas. Poderiam ser reminiscências do movimento tenentista, mas há longa distância temporal dos idos do Cavaleiro da Esperança da década de 1920.

A máxima da moda é: se os fatos não concordam com sua opinião pessoal, mudem-se os fatos. Nunca o editor da Veja foi tão popular, um verdadeiro Joãozinho Trinta no carnaval político deste ano. Só que os caminhões não são alegóricos neste período estranho.

Temos hoje dois presidentes da República no país, fenômeno que se repete de quatro em quatro anos. É um tipo de eclipse de poder pós-eleição. Um ainda está no cargo, mas do qual quase não se sabe muita notícia desde a eleição. Nem live faz, e suas indicações ao judiciário foram encaminhadas para gaveta no Senado, num encerramento antecipado do mandato. Em rápida e fugaz aparição, disse que os jornalistas sentirão sua falta. O tempo é senhor da razão. Veremos.

Saudade de notícias não mata profissional da imprensa, que já trabalha com a transição de governo - evento criado para queimar nomes de políticos e deixar quase ministros pelo caminho antes do Natal. É uma espécie de Black Friday realmente conectada ao dia das bruxas para alguns. Outros já se anteciparam e conquistaram seus espaços com muito trabalho ao longo de meses, anos… suaves prestações garantem bons investimentos comprados em baixa.

Aliados de Jair Bolsonaro já anunciam sua volta em 2026, apostando no fracasso de Luiz Inácio Lula da Silva. Esse é o outro presidente, querido diário. Está em exercício atualmente, mas tomará posse de fato somente em janeiro de 2023. A verdade é que, no momento, tudo gira em torno dele.

Inclusive o dólar, que já girou para baixo com otimismo após o resultado e, agora, tenta ganhar alturas com muita especulação e mau humor, também puxando os juros futuros. Dois sinais ruins para todos que votaram em Bolsonaro e Lula. Economia ruim não faz distinção ideológica.

Sentem saudade, os mercados, da carta ao povo brasileiro, aquela missiva petista de 2002, com os compromissos fiscais e cortes de despesas psicografada de Milton Friedman. Naquele tempo, Lula abraçou o mercado e depois jogou dinheiro pela janela para os pobres. Agora, resolveu dar indicações que tem outra forma de fazer… veremos como o mundo mais complexo lá fora vai ajudar. Ou não.

Os mercados gritam hora sim, hora não. Querem o nome do próximo ministro da Economia imediatamente. Melhor, querem os nomes da Fazenda, do Planejamento e do Desenvolvimento. Preferencialmente alinhados ao mesmo credo liberal.Lula não entrega. As bolsas de valores caem mais que Neymar quando não são atendidas. Lula fala em gastos e investimentos, obras e farmácia popular. Os mercados já jogam no presente contra o futuro governo, sinalizando dias confusos pela frente.

Aposta é jogo complicado em começo de governo, que parece  na Mega da Virada para garantir o futuro. Lula está feliz no amor, já no jogo não se sabe exatamente. E o Corinthians não anda lá essas coisas…

O capital político que elegeu Lula foi de dois milhões de votos de diferença. Exemplo do aperto, é que o PT se encantou com Simone Tebet no segundo turno. Segundo alguns observadores, ela pode ter transferido parte dos seus quase cinco milhões de votos para Lula. Ou seja, pode ter viabilizado a vitória no segundo turno. Se ela não tivesse sido candidata, talvez Lula tivesse vencido no primeiro turno… mas essa é uma argumentação da ala do MDB que apoiava Lula já antes da eleição começar.

Além de jogar com o mercado, Lula também terá de jogar com os políticos. Ele parece gostar desse tipo de movimento, mas já errou no passado. O MDB da Simone escalou dois políticos com pouca experiência para negociar com o futuro governo, os estagiários Renan Calheiros e Jader Barbalho. Sinal que as conversas serão fáceis e superficiais, com gente flexível e pouco realista do outro lado da mesa.

Querido diário, haverá muita notícia nos próximos meses. Como dizia aquele cantor mineiro: todo mundo quer voar… mas nem tudo é só querer.

*Marcio de Freitas é analista político da FSB Comunicação

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