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Marcelo Lacerda: o brasileiro que aposta na invenção de um novo ser humano

Em artigo, Luis Claudio Allan fala da trajetória do empreendedor que foi apelidado de “Bill Gates Brasileiro”

Relembre a história e saiba o que anda fazendo Marcelo Lacerda, fundador do Terra (Marcelo Lacerda/Acervo pessoal)

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Publicado em 10 de outubro de 2023 às 08h00.

Por Luis Claudio Allan*

Assim como grandes industriais foram símbolo do progresso humano do século 20, a era das Big Techs deu à luz histórias de visionários como Steve Jobs, Jeff Bezos e Mark Zuckerberg.

Por aqui há uma trupe de personagens do mercado de tecnologia que também ajudaram a fincar as primeiras estacas da Web na América Latina lá atrás, quando tudo era mato. Você sabe apontar, se lembra quais foram alguns destes pioneiros da internet no Brasil? E quem são os brasileiros que estão construindo o futuro?

Quem, assim como eu, quando cuidava da comunicação da StarMedia, viveu de perto a primeira fase da Web brasileira, lá nos anos 1990, irá recordar um nome que reúne todos esses feitos enquanto planeja outros tantos: o empreendedor (e agora investidor) gaúcho Marcelo Lacerda.

Lacerda é, e sempre foi, um inquieto visionário 

Ele concebeu uma plataforma de computação com uma interface gráfica que quase se tornou tão influente para os usuários da internet quanto o Windows da Microsoft, motivo que lhe rendeu o apelido de “Bill Gates Brasileiro”.

Fundou um dos primeiros provedores de acesso à web no Brasil, a Nutecnet, que foi vendido para o Grupo RBS e se tornou ZAZ, que, por sua vez, acabou sendo adquirido pelo Grupo Telefônica dando origem ao Terra, empresa que anos mais tarde o levou a apertar o famoso “botãozinho” de abertura de capital na Nasdaq e na bolsa de Madrid.

Em resumo, vendeu a mesma empresa que criou duas vezes e abriu o capital em duas bolsas internacionais.

Hoje, está como investidor mão na massa à frente de vários negócios de tecnologia, entre eles a Magnopus, sediada em Los Angeles, que atende clientes do porte de Disney, Google, Meta, Amazon e a NASA. O produto final da sua empresa não poderia ser mais atual: algoritmos.

Tecer o fio da realidade, prever comportamentos e com ele criar universos, como o do Homem Aranha e do carismático “Baby Yoda” de Mandalorian, para citar apenas alguns exemplos, são, por assim dizer, parte da sua rotina.

Poliglota, curioso e com uma simplicidade incomum para alguém com tal currículo, Lacerda é um manancial de boas histórias. Já trabalhou com o cineasta Martin Scorsese. Já tentou comprar o Google.

A pior decisão de (não) investimento

Antes mesmo do século 20 acabar, Lacerda já tinha entendido que a internet não era um imenso portal horizontal. O verdadeiro conteúdo era gerado nas pontas, os comentários em notícias, salas de bate-papo, jogos… Ou seja, a essência das redes sociais atuais.

Naquele momento, passou a liderar um esforço quase obsessivo para aquisição de um site de busca. Altavista, Yahoo! e Lycos eram os principais nomes e o empresário acabou comprando 100% do Lycos, não sem antes dar de cara com dois jovens nerds que, poucos anos depois, iriam dominar o mundo.

“Tinha um quinto site de buscas de uns meninos novinhos, lá de Mountain View, que estava crescendo rápido. Fui até eles junto com a McKinsey e falei com um rapaz chamado Sergei [Brin, que ao lado de Larry Page fundou o Google]”, relembra.

O alvo de Lacerda era o controle total de um desses sites e brinca: “o dia que eu quiser me exibir para os meus filhos vou falar que essa deve ter sido a pior decisão de investimento da história do capitalismo. Eles ofereceram 5% da companhia para o Grupo Telefónica”, me contou, sorrindo. 

A bolha da internet estourou, as ações despencaram e Lacerda deixou o Terra bem de vida o bastante para se aposentar, aos 42 anos. A decisão virou um sabático, mas, claro, passado 4 anos ele queria mais.

Exaltação à ‘loucura’

Marcelo Lacerda tem predileção pelos “loucos”, como aqueles “que filmaram todas as ruas do planeta” ou aqueles que se debruçam sobre pensamentos não lineares e matemáticos, uma capacidade que ficará ainda mais relevante.

Outro de seus investimentos recentes é a Uncover, empresa de três jovens matemáticos focada em previsibilidade de audiência, inclusive em canais off-line, para fazer alocação de verbas em diferentes canais de mídia, desde influencers até a TV aberta, permitindo ao time ver as curvas de saturação por canal.

Quando viu a apresentação dos “moleques” ficou em choque. “Às vezes você está no fim do dia, sem paciência, mas ao ver o trabalho deles fiquei sem palavras”.

Atualmente, se diverte com um portfolio de 7 empresas que atuam no desenvolvimento de tecnologias do futuro, como realidade virtual, inteligência artificial e deep tech, e faz uma previsão: a humanidade está para criar "um novo ser humano". 

O que virá depois do Homo Sapiens?

Marcelo Lacerda aposta que estamos em meio a uma evolução tecnológica que nos levará aos super-humanos.

Se essas descobertas se confirmarem, ele acredita que poderemos potencialmente acelerar nosso metabolismo e, quem sabe, até mesmo retardar o envelhecimento.

Nossa capacidade cognitiva seria ampliada, liberta da memória individual, pois estaríamos permanentemente conectados à "nuvem".

Seria uma nova espécie humana moldada à medida que avança uma fusão cada vez mais profunda entre biologia e eletrônica, antevê. 

Estaríamos para transformar em realidade a ficção de Ridley Scott em Blade Runner? 

Se os androides saírem das telas, uma coisa é certa: Lacerda estará lá, pesquisando novas oportunidades no laboratório de biotecnologia. 

*Luis Claudio Allan é CEO da FirstCom Comunicação e da People2Biz

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