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Marcelo de Sá: Incertezas na economia e a queda de confiança dos brasileiros

Com a crise econômica que o país vem enfrentando, consumidores e investidores perdem a confiança na economia brasileira

Índice de confiança do empresário é o menor desde fevereiro de 2022. (Getty Images/Getty Images)

Índice de confiança do empresário é o menor desde fevereiro de 2022. (Getty Images/Getty Images)

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Publicado em 29 de março de 2023 às 21h38.

A credibilidade da economia está em baixa entre os brasileiros, o que não é exatamente uma novidade desde que a crise vem se agravando no país. O índice de confiança do consumidor, que já tinha recuado 2,2 pontos em janeiro de 2023, continuou caindo em fevereiro, diminuindo mais 1,3 ponto e alcançando o menor índice dos últimos 20 meses.

A elevada taxa de juros e a alta da inflação, o endividamento das famílias e a ínfima projeção de crescimento, pelo menos no curto prazo, tem gerado preocupação tanto em especialistas quanto na população. O crescimento das atividades do ramo de serviços também perdeu fôlego em fevereiro, com a produção e os novos negócios registrando os aumentos mais fracos desde agosto de 2022.

Tradicionalmente, os segmentos de comércio e serviços são os mais sensíveis a qualquer sinal de desconfiança do consumidor. O índice de confiança do empresário do setor de serviços, que iniciou o recuo em outubro do ano passado, agora chegou ao menor nível desde fevereiro de 2022.

A cautela dos empresários é percebida nas projeções de curto prazo, com queda na demanda de produtos e nas poucas contratações projetadas para 2023. A má notícia é a baixa probabilidade de esse cenário ser facilmente revertido, já que as questões macroeconômicas envolvidas nessa desaceleração devem permanecer por algum tempo.

Queda mais forte na confiança dos consumidores ocorreu no comércio, setor em que o índice despencou 4,4 pontos em janeiro, alcançando em fevereiro o menor nível desde março de 2021. A piora na percepção das condições atuais e das expectativas foi tão significativa que está levando comerciantes a reavaliarem investimentos.

Um dos responsáveis por esse quadro, pode-se dizer problemático, são os juros. Apesar dos protestos do novo governo, eles devem permanecer elevados, pelo menos até o terceiro trimestre de 2023, o que prejudicaria ainda mais o comércio de bens mais dependentes do crédito, como o setor de varejo, que teve o crédito limitado por causa de empresas como as Lojas Americanas, em crise e inadimplência elevada. A matemática é simples: com os juros elevados e o crédito restrito, o resultado não tem como ser diferente: chance baixa de recuperação.

Expectativa de crescimento modesta no varejo

Apesar do varejo ser um dos segmentos que tradicionalmente mais contribui para o aumento do PIB brasileiro e a geração de empregos, movimentando a economia, em 2023 o setor deve crescer menos de 1%. O pouco otimismo é explicado pela perspectiva de baixo avanço econômico do país como um todo e a falta de incentivo fiscal para o setor varejista.

É o caso de empresas como a rede de moda feminina Marisa. que já declarou inconsistências contábeis Porém, um socorro direto para reestruturação das dívidas está descartado. Fala-se de “um plano do governo que irá irrigar fornecedores com capital de giro para garantir fluxo de caixa para essas companhias — sobretudo pequenas e médias”, mas ainda não anunciado de forma concreta.

De fato, 2023 realmente não começou bem para o varejo e, ao que tudo indica, seguirá assim. Em menos de dois anos, a Selic subiu de 2% para 13,75% ao ano, encarecendo o custo de crédito para consumidores e empresas.

Além disso, o rombo nas Americanas provocou grande desconfiança do setor financeiro com o varejo, limitando o crédito e as possibilidades de recuperação financeira. Para piorar, muitas redes de fornecedores passaram a enfrentar atrasos nos pagamentos, provocando quebra do fluxo de caixa, o que gerou aumento do preço e consequentemente menos vendas.

Diante desse contexto, alguns movimentos foram articulados por empresários do setor, que, desde a pandemia, foi um dos ramos de atividade mais afetados pela crise. Entre as iniciativas, a taxação dos e-commerces chineses, como Shein e Shopee, que invadiram o mercado mundial com suas plataformas e caíram no gosto dos consumidores brasileiros, deixando varejistas brasileiros indignados com a concorrência desleal.

Enquanto o número de visitas a marketplaces como Americanas caiu mais de 20%, a Shopee aumentou seu percentual em mais de 250%. Por isso, lojistas nacionais entendem que uma das soluções seria taxar os produtos dessas plataformas pelo próprio cartão de crédito em que as compras são efetuadas.

Medidas como essa poderiam ajudar as vendas de alguns varejistas, mas não teriam o poder de resolver o problema da maioria dos donos de estabelecimentos afetados em cheio pela falta de crescimento do país. No caso do comércio, é compreensível que o número de vendas caia, porque as pessoas, na crise, direcionam recursos para o essencial, que é comida, transporte e moradia.

Efeito dominó da economia brasileira

Em cinco anos, o número de inadimplentes no Brasil passou de pouco mais de 59 milhões em 2018 para mais de 70 milhões em janeiro de 2023. Além disso, o valor das dívidas também cresceu cerca de 19% no período.

Enquanto o valor da dívida e o número de brasileiros inadimplentes cresce, a expectativa de aumento do PIB brasileiro cai. O mercado financeiro projeta expansão do PIB de 1,8% e 2%, respectivamente, em 2025 e 2026.

Diante desses números, o que esperar em relação à confiança dos brasileiros na economia do país pelos próximos anos?

No geral há uma percepção de piora hoje, mais acentuada nas famílias de menor poder aquisitivo. No entanto, analisando o histórico da última década, o contexto econômico das famílias brasileiras se alterou pouco: endividamento com índices elevados, taxas de juros altas e desaceleração constante da atividade econômica.

Assim, a incerteza na economia brasileira deve permanecer por pelo menos dois anos, o que faz adiar sonhos e investimentos.

Como reverter a situação?

*Marcelo de Sá é CFO do Grupo Petrópolis

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