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Marcelo de Sá: Como a crise do clima pode afetar o bolso do brasileiro?

Crise do clima é o novo desafio que o Brasil precisa enfrentar para manter o seu cenário social bem estruturado

Brasil precisa urgentemente reduzir sua emissão de gases (Unclimatechange/Divulgação)

Brasil precisa urgentemente reduzir sua emissão de gases (Unclimatechange/Divulgação)

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Publicado em 19 de maio de 2023 às 14h00.

Última atualização em 19 de maio de 2023 às 15h33.

Por Marcelo de Sá*

Em meio a uma economia fragilizada, com altos índices de desconfiança por parte do consumidor e recuo de investimentos no país, a crise do clima é mais um desafio que o Brasil precisa enfrentar agora, para evitar um cenário social ainda mais caótico no futuro.

Especialistas que contribuíram para o mais recente Relatório Síntese sobre mudanças climáticas - que avalia os impactos, vulnerabilidades e adaptações dos países perante o aquecimento global - alertam que o Brasil precisa de ações urgentes para reduzir as emissões de poluentes e que é necessário envolver todos os setores da sociedade: governo, empresas e cidadãos, a fim de que as ações de fato gerem o efeito esperado.

De acordo com os dados levantados, se as emissões de gases de efeito estufa continuarem em alta, a renda média do brasileiro deve cair 83% até o final do século, índice muito além da renda média global, que deve diminuir 23% no mesmo período.

A situação é considerada preocupante para o Brasil, porque a soma dos prejuízos já observados atualmente com as projeções de longo prazo posicionam o país entre as economias mais afetadas pela crise do clima. Além dos males causados por eventos extremos, como as chuvas fortes, inundações e secas prolongadas, a crise do clima prejudicaria a recuperação de setores primordiais para a economia brasileira, como o agronegócio e a energia elétrica.

Se pensarmos que nosso país é um grande produtor de alimentos, o que esperar daqui a alguns anos, quando regiões consideradas adequadas para grandes produções não se adaptarem mais para as culturas que temos hoje? Ademais, o Brasil como dependente economicamente de outros países, também precisa estar atento sobre o que acontece em outras regiões do planeta, que também devem sofrer impactos com as mudanças climáticas, gerando um grande efeito cascata.

O relatório aponta ainda para o risco de falha generalizada das colheitas, o que pode levar à escassez global de alimentos e ao aumento de preços, com prejuízos maiores para populações mais pobres, com possibilidade de agitação social e conflitos civis. Ao que tudo indica, a crise do clima atingirá as cadeias de abastecimento, mercados, finanças e comércio, nacionais e internacionais, reduzindo a disponibilidade de bens e aumentando os preços, prejudicando as exportações.

Para termos uma ideia, estimativas preveem que, se as emissões globais continuarem subindo, a produção nacional de arroz deve cair 6%; a de trigo, 21% e a de milho, 10%. Em contrapartida, se as emissões começarem a diminuir imediatamente, as perdas podem ser controladas e as quedas passariam, respectivamente, para 3%, 5% e 6%.

A preservação do meio ambiente, seria outro fator fundamental para a situação não piorar, pois a combinação de emissões em alta com desmatamento poderia causar uma queda de 33% na produção de soja e pastagens na Amazônia.

A criação de animais também deve sofrer impactos significativos no cenário de emissões altas. Além do gado e das galinhas que devem sofrer com altas temperaturas, a produção de peixes no Brasil pode despencar 36% e a de crustáceos e moluscos, até 97% entre 2050 a 2070, em comparação com as projeções de 2030 a 2050.

As mudanças climáticas agravam problemas socioeconômicos no Brasil?

Hoje 3,3 bilhões de pessoas estão vulneráveis, cerca de 40% da população mundial, segundo dados do IPCC. Esse enorme contingente passa por problemas socioeconômicos que devem se intensificar com o aquecimento global, levando a mais processos migratórios.

A maioria dos países têm reagido de forma lenta, contratando um provável quadro de secas mais intensas, elevação do nível dos oceanos e maior agressividade dos eventos meteorológicos de forma geral.

Um outro estudo do Banco Mundial sobre a grande onda de migração (Groundswell) aponta que 16 milhões de pessoas em seis regiões do mundo, incluindo a América Latina, correm o risco de saírem de seus países até 2050, em virtude da crise climática. Além de secas, chuvas e maior intensidade de tufões e ciclones, as pessoas terão que se mudar devido à elevação do nível do mar.

Apesar de não ser fácil calcular com precisão os efeitos do aquecimento global no Brasil, pela histórica precariedade do país em lidar com eventos climáticos, analistas preveem um estrago imenso. Além dos custos para o poder público, com obras de reconstrução, haverá o fechamento de estradas, desencadeando problemas para a cadeia de logística e os suprimentos de empresas, tendo como consequência direta desemprego e redução de renda, agravando a inadimplência no país.

Para tentar diminuir o impacto sobre as pessoas, o Sistema BNDES dispõe de um conjunto de instrumentos que colocam em prática diretrizes de sua Política Corporativa de Responsabilidade Socioambiental. Entre eles, os financiamentos de apoio para que as empresas melhorem seu desempenho ASG (sigla para Ambiental, Social e de Governança).

Atualmente, o Banco oferece condições financeiras mais atrativas, com taxas menores e prazos maiores, para investimentos em setores que influenciam positivamente o meio ambiente e aspectos sociais, tais como os de saneamento e energias renováveis, entre outros instrumentos.

Como evitar os efeitos da crise climática?

Quando o assunto é a crise do clima, encontramos desde as previsões mais alarmantes, afirmando que independente do que fizermos agora, o planeta estará inabitável em 70 anos, devido às altas temperaturas, e há previsões que ainda veem oportunidades de revertermos esse quadro.

Os prognósticos mais realistas indicam que temos 7 anos para reduzir pela metade as emissões de gases de efeito estufa no planeta se quisermos controlar o aumento da temperatura global e os impactos mais agudos das mudanças climáticas.

Para alguns especialistas, 5 ações devem ser priorizadas em centros urbanos, responsáveis por cerca de 60% das emissões globais e abrigam mais da metade da população:

  1. Incorporar metas climáticas em todas as decisões urbanas relativas a uso do solo, transportes e habitação.
  2. Tornar as construções mais resilientes, pensando em eficiência energética e reduzindo a demanda por eletricidade.
  3. Descarbonizar o transporte, criando sistemas de mobilidade de baixo carbono e incentivando a mobilidade ativa, como caminhada e bicicleta.
  4. Combater a desigualdade no acesso aos serviços urbanos, com condições seguras de moradia, saneamento, transporte e abastecimento de água e energia.
  5. Construir resiliência climática, com a água e a natureza como eixos, restaurando o entorno de cursos hídricos e ampliando os espaços verdes.

Há desafios? Muitos! Mas também há possibilidades de mudar de rota e tomar o caminho certo para amenizar o problema que é urgente e exige a tomada de medidas drásticas e imediatas, além do aporte volumoso de recursos no mundo todo.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em parceria com Fórum Econômico Mundial e outras entidades, realizou um estudo que mostra que serão necessários investimentos na ordem de US$ 4,1 trilhões até 2050 para salvar a biodiversidade e ajudar na preservação do planeta por parte dos países do G20. Para cumprir a meta, seria necessário aumentar em pelo menos 140% o que é gasto hoje. Será que ainda temos tempo?

*Marcelo de Sá é CFO do Grupo Petrópolis, fabricante das marcas de cerveja Itaipava, Petra, Black Princess, Cacildis, Crystal, Lokal e Weltenburger Kloster, do refrigerante it!, do energético TNT e da água mineral Petra

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