(Wavebreakmedia/Getty Images)
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Publicado em 17 de junho de 2024 às 07h00.
Por Lucy Nunes*
Em maio, 65 mil crianças e adolescentes franceses foram desafiados a passar 10 dias sem eletrônicos (smartphones, videogames, tablets e TVs). A iniciativa, denominada "10 jours sans écrans" (10 dias sem telas), teve origem no Canadá, mas conquistou seguidores na França, incentivando jovens e adultos a deixarem os dispositivos de lado temporariamente e se dedicarem a outras atividades.
O uso de celulares por crianças e adolescentes é um tema amplamente debatido, com diversos estudos destacando os potenciais prejuízos ao desenvolvimento cognitivo. A tecnologia, embora possa ser uma aliada, rouba a atenção e apresenta desafios significativos, especialmente no que diz respeito à interação social desses jovens e à concentração.
Recentemente, um relatório divulgado na França por especialistas – incluindo neurologistas e psiquiatras – recomendou que crianças de até três anos não tenham acesso a telas. A partir dos seis anos de idade, a recomendação é de que o uso deve ser bastante limitado. Em relação aos adolescentes, o aconselhável é autorizar o uso do celular, mas sem acesso às redes sociais. Um desafio considerável para pais e educadores uma vez que as gerações atuais já nascem imersas no mundo digital.
No entanto, em um cenário em que celulares e tablets são entregues para crianças desde bem pequenas como forma de distração, o que se observa é a formação de uma geração ansiosa e menos conectada socialmente.
A interação presencial desses jovens – em parques, clubes, condomínios – tem sido substituída por chamadas de vídeo. Os que possuem acesso irrestrito ao celular e às redes sociais sentem que têm controle sobre tudo, e até comportamentos violentos, já que são diariamente expostos a uma enxurrada de informações sem qualquer filtro.
É como estar em uma via pública, como a Avenida Paulista, em São Paulo, se comunicando com diversas pessoas simultaneamente, mas sem saber exatamente quem são, sua índole, propósito ou até, se são pessoas.
Em nosso dia a dia, observamos as dificuldades enfrentadas pelos pais em controlar o uso excessivo de celulares. Para além de orientar sobre os riscos e os conteúdos inapropriados, a utilização exagerada pode desencadear inúmeros problemas de saúde mental como ansiedade, depressão, distúrbios alimentares e baixa auto estima.
Na Escola Eleva não permitimos o uso de celulares inclusive no Ensino Médio e isso nos traz benefícios muito positivos. Já podemos observar alunos antes considerados distraídos e pouco comunicativos, começarem a interagir e se concentrar mais no mundo real. Alunos nos relatam sentirem-se mais “leves” sem a expectativa de sempre responder mensagens e checar mídia social.
Mas o não uso de celulares no ambiente escolar não significa rejeitar avanços e disputar espaço com a tecnologia que é importante parte de nossa vida. Oferecemos ferramentas tecnológicas mais interessantes para os nossos alunos que apoiam o pensamento ao invés da distração. A escola pode ajudar oferecendo apoio aos pais com materiais de orientação e promover rodas de conversa que auxiliam a esclarecer dúvidas, criar estratégias para fazer o mesmo em casa. O importante é fornecer assistência constante às famílias nesse sentido.
O uso de celulares ou qualquer tela exige um equilíbrio cuidadoso entre os benefícios da tecnologia e os riscos potenciais ao desenvolvimento cognitivo e social. Devemos focar especificamente naquilo que está sendo acessado, pois é o conteúdo que define se tem ou não valor para nossas crianças e jovens.
As escolas desempenham um papel vital na educação digital, oferecendo orientação e criando ambientes que promovem a interação e o aprendizado profundo com conteúdo de qualidade que serve para estimular o pensamento crítico e criatividade.
O alinhamento entre pais e educadores e a comunidade como um todo em relação a isto é essencial para garantir que as novas gerações aproveitem o melhor da tecnologia sem comprometer seu desenvolvimento saudável.
*Lucy Nunes é diretora da Escola Eleva São Paulo.
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