Priscilla Costa, CFO da Livelo Brasil (Livelo Brasil/Divulgação)
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Publicado em 8 de março de 2024 às 15h06.
Última atualização em 10 de junho de 2024 às 14h19.
Por Priscilla Costa
A cada ano que passa, o movimento pró-equidade entre homens e mulheres no cenário corporativo do Brasil ganha mais força e mostra que esse é o caminho a ser seguido. Um exemplo disso é que a liderança feminina alcançou 17% das organizações nacionais, de acordo com o estudo Panorama Mulheres 2023.
Estamos vencendo os estereótipos e redefinindo paradigmas quando conquistamos altos cargos nas empresas. Experienciei isso na prática. Quando comecei minha carreira profissional em 2002, a quantidade de mulheres em conselhos, diretorias e presidências das companhias não se compara com os números que temos hoje.
Porém, por mais que isso seja extremamente positivo, ainda temos muito a melhorar. Ainda de acordo com dados do estudo, as mulheres compõem somente 26% das diretorias das empresas. Quando comparamos com o número que foi levantado em 2019, essa porcentagem permanece a mesma.
A conquista de cargos de liderança é um marco que ainda precisamos progredir, valorizando habilidades, perspectivas únicas, redução de riscos com ampliação da visão, sustentabilidade e inovação que as mulheres trazem para os negócios. Prova disso é a pesquisa da Organização Internacional do Trabalho, que mostra que 71% das empresas brasileiras participantes afirmaram que iniciativas em prol da diversidade e da igualdade de gênero aumentaram seus resultados financeiros.
Na minha experiência, a liderança feminina no mundo corporativo é marcada por uma abordagem colaborativa, em prol da sustentabilidade, da redução de riscos, com liderança inspiradora e orientação para resultados. Além disso, essa diversidade de gênero traz uma multiplicidade de ideias e pontos de vista, estimulando a criatividade, a inovação e a tomada de decisões mais assertivas.
Nós também ajudamos a levantar pautas relacionadas aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e em ESG. Trago um exemplo real do que fazemos aqui na Livelo, onde realizamos o primeiro “Mês da Diversidade” da companhia em 2023, que contou com mais de 12 horas de conteúdos síncronos, ambientação de todo o escritório e a distribuição de um livro para toda a equipe. Mais de 75% dos colaboradores se conectaram em pelo menos um fórum síncrono e 60% deles em 4 ou mais.
Outra ação que trazemos para engajar essas causas reflete em um processo de letramento que envolve temas corporativos, como Vieses Inconscientes, e disponibiliza trilhas exclusivas para cada uma das nossas 5 frentes de atuação: Antimachismo, Antirracismo, AntiLGBTFobia, Anticapacitismo e Anti Etarismo.
Mesmo com tudo isso, algumas companhias ainda não confiam cargos de liderança a mulheres. O meu caso, inclusive, é uma exceção, já que apenas 13% dos CFOs de empresas com faturamento acima de R$ 1 bilhão são mulheres, de acordo com levantamento feito pela Assetz.
Isso expõe que, apesar dos avanços alcançados, ainda existem desafios a serem enfrentados, como preconceitos, desigualdades salariais, falta de visibilidade das profissionais mulheres pelas empresas e representatividade.
Visando uma mudança sistêmica, é fundamental que as empresas continuem promovendo políticas afirmativas e adotando metas de diversidade não só de gênero, mas também étnica e de raça, de idade e de orientação sexual. Além disso, é necessário implementar programas de desenvolvimento e mentorias para que os talentos femininos sejam identificados de uma maneira cada vez mais rápida e com escolhas mais inteligíveis.
A capacitação feminina, inclusive, é uma ferramenta poderosa na conquista de espaços de liderança. Se preparar não significa somente obter qualificações acadêmicas ou habilidades técnicas, mas também envolve o desenvolvimento de uma mentalidade forte e resiliente. E foi isso que tenho feito para chegar até aqui, além, é claro de promover o apoio mútuo entre as mulheres para que mais de nós avancem na hierarquia empresarial
Atualmente, para facilitar esse processo, as mulheres estão se unindo em redes de apoio para compartilhar experiências, conhecimentos e recursos. Esses espaços oferecem um ambiente seguro para discutirmos os desafios enfrentados como líderes e encontrarmos soluções colaborativas.
Buscar oportunidades de aprendizado contínuo, participando de cursos, workshops e programas de mentoria é algo que faz toda a diferença para assumir posições de liderança. Porém, mesmo com muito estudo, debates e movimentos fortes para impulsionar o avanço de mulheres, o desafio de atingir a equidade corporativa segue enorme. Segundo a Confederação Nacional da Indústria, as mulheres estudaram 12 anos, em média, enquanto os homens fizeram isso por 10,7 anos.
O principal ponto de adversidade não se trata da qualificação, mas sim da visibilidade de que temos condições de estarmos em funções de conselho, diretoria estatutária, diretoria, gerência e supervisão. Ocupamos menos de 40% desses cargos no país mesmo adquirindo conhecimento por mais tempo.
Independentemente de qualquer dificuldade, seguiremos resilientes. Afinal, o melhor jeito de desafiar os estereótipos de gênero e se destacar em áreas tradicionalmente dominadas por homens é demonstrando que somos igualmente capazes de liderar e inovar através das nossas entregas. E trazendo mais mulheres conosco.
A liderança feminina no mundo corporativo não existe apenas para cumprir cotas e requisitos de ESG. Trata-se, acima de tudo, de reconhecer e aproveitar todo o potencial humano disponível, independentemente do gênero.
À medida que mais mulheres ocupam posições de liderança, não estão apenas quebrando barreiras para si mesmas, mas também estão abrindo caminho para as gerações futuras, inspirando meninas e mulheres a sonharem alto e alcançarem seus objetivos, superando todos os obstáculos que encontrarem pelo caminho.
Meu sonho é que mais “Priscillas”, “Danielles”, como a nossa Diretora de Pessoas, Planejamento e Projetos, ou quem quer que seja, surjam no mundo corporativo e atinjam os cargos de liderança das empresas. Juntos, Eles por elas e Elas por Elas.
Priscilla Costa é CFO da Livelo Brasil.
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