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Joice Lopes: existe caminho seguro para o futuro na educação digital das crianças?

Ao adotarmos uma abordagem equilibrada e consciente, podemos garantir que as crianças cresçam em um ambiente que favoreça seu desenvolvimento integral

"A tecnologia não é inerentemente boa ou ruim; seu impacto depende de como é utilizada" (Orbon Alija/Getty Images)

"A tecnologia não é inerentemente boa ou ruim; seu impacto depende de como é utilizada" (Orbon Alija/Getty Images)

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Publicado em 25 de junho de 2024 às 07h00.

Por Joice Lopes Leite*

Nos últimos anos, a tecnologia tem sido integrada de maneira profunda e irrevogável na vida das crianças. Tablets, smartphones, computadores e outros dispositivos digitais tornaram-se parte integrante de seu cotidiano, influenciando a forma como aprendem, brincam e se relacionam. No entanto, enquanto as vantagens dessa integração tecnológica são inegáveis, é importante considerar os desafios e os pontos de atenção que emergem desse cenário, especialmente do ponto de vista da educação. 

As novas gerações já nasceram em um mundo onde a internet e as novas tecnologias são amplamente difundidas e utilizadas por boa parte da sociedade conectada. Mas isso é o bastante para elas e para nós? Afinal, nascemos com pernas, mas precisamos aprender a andar. Por que com a tecnologia seria diferente? Estamos capacitados para ensinar nossas crianças a lidar corretamente com um repertório tecnológico cada vez maior e mais desenvolvido?

Os benefícios observados

Está comprovado que a tecnologia, quando utilizada de maneira adequada, pode ser uma ferramenta valiosa de promoção do desenvolvimento educacional e socioemocional das crianças. 

Recursos educativos digitais, aplicativos interativos e plataformas de aprendizagem on-line proporcionam oportunidades únicas de acesso a informações e conhecimento. Alguns aplicativos garantem ser capazes de personalizar a aprendizagem de acordo com o ritmo e o estilo de cada criança, possibilitando um ambiente mais inclusivo e diversificado. 

Além disso, existem tecnologias colaborativas que incentivam o trabalho em equipe e o desenvolvimento de habilidades de comunicação, cada vez mais necessárias em uma sociedade hiperconectada. Com base em minha experiência em sala de aula, destaco também a contribuição de jogos educativos e projetos on-line que ajudam a promover o aprimoramento de certas habilidades, como resolução de problemas, pensamento crítico e criatividade, competências essenciais para este século.

Os malefícios no uso excessivo

Apesar dos benefícios já comprovados por especialistas, o uso excessivo ou inadequado da tecnologia pode levar a consequências negativas. Uma preocupação crescente é a ansiedade e os impactos no desenvolvimento motor e cognitivo relacionados ao uso abusivo de dispositivos digitais. As notificações incessantes e o fluxo contínuo de informações também podem sobrecarregar as crianças, afetando sua capacidade de se concentrar e de manter um sono saudável. 

Outro ponto crítico é a desinformação e as fake news. A internet é um vasto repositório de informações, porém nem todas são verificadas ou verdadeiras. Crianças podem ser facilmente influenciadas por conteúdos enganosos ou inadequados, o que pode distorcer sua percepção da realidade e impactar negativamente seu desenvolvimento.

Como lidar com estes desafios?

Para mitigar esses desafios, é essencial que pais e educadores assumam um papel ativo na mediação do uso da tecnologia. Os pais precisam conhecer os mecanismos de controle e seguir as orientações da Sociedade Brasileira de Pediatria. E a parceria entre família e escola tem de ser integral, ativa e focada em proteger e orientar a criança quanto ao uso da tecnologia, e não em puni-la. 

Ensinar as crianças sobre os riscos e benefícios da internet, desenvolvendo seu pensamento crítico para que possam discernir entre informações confiáveis e enganosas, deve ser pauta recorrente nas famílias, assim como já se tornou na escola. 

Estabelecer limites claros para o tempo de tela, incentivando atividades off-line, como leitura, esportes, jogos analógicos e brincadeiras ao ar livre, é outra regra de ouro, assim como integrar práticas que promovam a inteligência socioemocional, como mindfulness, atividades de reflexão e diálogos abertos sobre sentimentos e emoções. 

É importante frisar que pais e educadores devem servir de modelos, demonstrando um uso saudável e equilibrado da tecnologia. Falar sem praticar é talvez a pior forma de incentivo e educação. E, claro, deve-se contar com a própria tecnologia a seu favor, utilizando ferramentas de controle parental e plataformas educativas seguras que garantam um ambiente on-line protegido para crianças e adolescentes.

A tecnologia não é inerentemente boa ou ruim; seu impacto depende de como é utilizada. Ao adotarmos uma abordagem equilibrada e consciente, podemos maximizar os benefícios tecnológicos enquanto minimizamos os riscos, garantindo que as crianças cresçam em um ambiente que favoreça seu desenvolvimento integral. Na escola e em casa, acredito que a parceria entre tecnologia e inteligência socioemocional é a chave para formar cidadãos preparados para os desafios e oportunidades desta era.

*Joice Lopes Leite é Mestre em Interdisciplinaridade e Diretora de Educação Digital do Colégio Visconde de Porto Seguro.

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