Bússola

Um conteúdo Bússola

Iona Szkurnik: O que você aprendeu que mais te impactou na vida?

Existem outros importantes fatores que influenciam na aprendizagem, por exemplo a metacognição, a prática deliberada e o feedback

Livros, artigos e notícias nos oferecem conteúdo de forma visual e são consumidos de forma individual (Carol Yepes/Getty Images)

Livros, artigos e notícias nos oferecem conteúdo de forma visual e são consumidos de forma individual (Carol Yepes/Getty Images)

B

Bússola

Publicado em 29 de julho de 2022 às 10h00.

Em uma sala do Plug&Play, hub de startups em Sunnyvale, na Califórnia, 52 brasileiros de indústrias, idades, interesses e objetivos diferentes passaram o dia numa Learning Experience promovida pela StartSe. Com o convite para dar a aula sobre educação, eu me perguntei o que faria sentido num contexto em que, sem nenhum conhecimento prévio dos "alunos", eu pudesse oferecer daquela experiência que cada um deles fosse levar adiante.

Vamos do começo, educação só existe com aprendizagem. Parece óbvio mas não é: ensinar é uma coisa, aprender é outra. Aprender traz transformação, e isso acontece de forma diferente para cada um. Porém, a maneira menos eficaz de se aprender são aulas expositivas, em que o suposto detentor do saber, aquele que ocupa a frente da turma, fala ininterruptamente como se fosse possível passar o conhecimento por osmose. Isso eu certamente não estava disposta a fazer.

Livros, artigos e notícias nos oferecem conteúdo de forma visual e são consumidos de forma individual. Audiolivros e podcasts, por outro lado, trazem conteúdo de forma auditiva, mas ainda individual. Já as metodologias ativas, muito faladas hoje em dia, como aprendizagem baseada em projetos ou problemas, levantam questões reais para a discussão e são, na sua melhor aplicação, colaborativa, seja em pares ou em grupos.

Já a forma de aprender com estudo de caso – o método de ensino disseminado pela Universidade de Harvard e hoje adotado em praticamente todas as instituições e empresas de excelência – oferece leitura individual na preparação, seguida de discussão em pares ou em grupo. A aprendizagem acontece em duas ou mais etapas, primeiro leitura e reflexão, depois discussão guiada pelo facilitador, professor, ou líder da equipe. Nessa fase, há interação e cada um expõe seu ponto de vista, argumentando seu racional. Quem passa pela experiência utiliza tanto hard skills, como análise e conhecimento técnico da situação, quanto soft skills ao colocar em ação os 4 Cs: comunicação, criatividade, colaboração e pensamento crítico (critical thinking em inglês).

Existem outros importantes fatores que influenciam na aprendizagem, por exemplo, a metacognição, a prática deliberada e o feedback. A metacognição é pensar naquilo que você vai aprender antes de começar a aprender. Ou seja, passa pela reflexão sobre qual o seu objetivo com aquilo que vai aprender até se conhecer para saber como você aprende melhor.

A prática deliberada é aquela intencional, na qual  você está focado em fazer cada vez melhor o que você está desenvolvendo. Afinal, sem intenção, a prática se desassocia da aprendizagem e você, por exemplo, pode dirigir um táxi por 12 horas por dia e não ser um bom motorista.

Não é nenhum segredo que o feedback é um componente importante da aprendizagem eficaz. O feedback melhora a confiança, a motivação para aprender e, finalmente, a autorrealização do aluno. Essa parte da engrenagem é tão relevante que 65% dos funcionários dizem que querem mais eficiência de feedback, de acordo com o relatório da McKinsey (2021). Essa atividade vem em muitas formas e formas igualmente importantes; o feedback positivo, o crítico, o imediato e o elaborado.

A cereja do bolo, no entanto, não está em metodologias ou atividades. Está no porquê. O nosso porquê está diretamente ligado ao nosso propósito. Verdade que essa palavra está sendo usada por vezes de forma demasiada, mas quando se trata de aprendizagem, não tem como fugir do propósito. Responda a pergunta do título: “O que você aprendeu que mais te impactou na vida?”. Agora pense em qual contexto você estava e qual componente emocional estava presente. Medo, ansiedade, o desconhecido, alegria, surpresa? A primeira vez que você viajou sozinho, seu primeiro emprego, primeira batida de carro? Pesquisas em neuroplastia provaram a relação entre retenção e profundidade do conhecimento com as emoções. Quanto mais atrelado ao que te move – o seu porquê – e quanto mais esforço você coloca na situação, mais sinapses são criadas e mais marcante é a aprendizagem.

Com todas as reflexões, como então promover transformação e entregar valor em 90 minutos? Como você pode provocar mais eficiência na aprendizagem na sua empresa, na sua equipe e com você mesmo? Certamente será entendendo os pilares de como as pessoas aprendem, conectando a situações reais, e ainda, atrelando ao porquê e ao emocional. Com intenção, tenho certeza de que vai haver transformação.

*Iona Szkurnik é fundadora da Education Journey, plataforma focada em desenvolver o ecossistema de inovação na educação, e co-fundadora e membro do Conselho da Brazil at Silicon Valley

Siga a Bússola nas redes: Instagram | Linkedin | Twitter | Facebook | Youtube

Veja também

Pesquisa de comportamento precisa ser humanizada para traduzir realidade

Mais mulheres na política: um jogo de soma zero

Tendência em TI, segurança da informação deve privilegiar olhar social

Acompanhe tudo sobre:Educação

Mais de Bússola

Bússola & Cia: receita recorrente da Nstech chega a R$ 1 bi

Prêmio internacional dará 40 mil euros e consultoria gratuita para iniciativas de impacto social

Onde estão as eleitas do Brasil? A lenta caminhada em prol da igualdade de gênero na política

Arquitetura da reconstrução: liderança e estratégia em tempos de crise