Muitas startups surgiram despreparadas para atuar nesses setores (Foto/AFP)
Bússola
Publicado em 1 de outubro de 2022 às 12h00.
Por Rafael Kenji Fonseca Hamada*
Os investimentos em startups são variáveis e oferecem a possibilidade de ganhos ilimitados, com ganhos em escala, a depender da tese abordada pela startup, tomados seus devidos riscos. Na teoria, não existe um limite de quanto a empresa em que você investiu pode crescer, levando em conta um prazo indefinido. Em inglês, dizemos que investimentos em startups têm “unlimited upside” – uma possibilidade de retornos ilimitados.
Em um Brasil marcado pela desigualdade e imensos gargalos nas áreas de saúde e educação, investir em startups é uma possibilidade de transformação para resolver dores latentes nesses segmentos, principalmente voltados à melhoria do acesso. Em parceria com investidores-anjo, conselheiros, fundos de investimento, executivos e especialistas de hospitais e centros educacionais, é possível desenvolver soluções que vão direto aos pontos críticos e ainda permitem criar soluções inovadoras.
Hoje, o principal desafio do segmento de investimentos em healtechs e edtechs é avaliar boas startups, que contam com equipe dedicada e comprometida com o crescimento do negócio, além de oferecer a solução que resolva as dores do mercado. Para isso é preciso muito conhecimento na área, equipe bem estruturada e integralmente dedicada à empresa.
Com a pandemia de covid-19 e os altos investimentos financeiros no setor, surgiram inúmeras startups querendo “surfar a onda do momento” e lucrar com soluções em saúde, com equipes desqualificadas, sem propósito ou comprometimento. Constantemente surgem healtechs criadas por engenheiros, advogados ou empresários que nunca atuaram na saúde, sem nenhum membro da equipe proveniente do setor, propondo soluções de telemedicina, inteligência artificial e, mais recentemente, saúde no metaverso. É o resultado dos altos rendimentos no setor, que crescem os olhos daqueles que querem multiplicar seus faturamentos.
Esse cenário é preocupante, porque, além da grande maioria dessas startups serem apegadas à solução, e não ao problema, por não terem experiência passada no setor, os empreendedores chegam com grandes vieses do mercado. Quando o tema é saúde, a situação é ainda mais crítica, porque envolve diagnósticos, atendimentos e tratamentos, com impacto direto na expectativa e qualidade de vida da população. Por esse motivo é importante ter especialistas das áreas, como médicos e demais profissionais da área, envolvidos no desenvolvimento das soluções.
A saída é apostar em parcerias que garantam que as startups que entram em processo de ativação passem por criteriosas análises de potencial e desempenho sobre abertura de mercado, barreira de entrada e preparação da equipe. Essa avaliação diminui o risco do investidor-anjo, garante a entrada de startups que se enquadram nas teses de investimento, além de resolver diretamente problemas de empresas do setor, já que têm seus produtos e serviços avaliados e desenvolvidos junto a parceiros experientes. Este é o principal motivo que cada vez mais as startups buscam o apoio das Venture Builders, focadas em escalar startups de forma estratégica.
Levando em conta esse potencial, consideramos que o cenário de investimentos na saúde e educação é ainda muito promissor no Brasil, apesar da crise e da situação social e política de incertezas até o momento. No primeiro semestre de 2022, foram anunciadas rodadas de investimento e M&As muito expressivas no país, como a fusão entre o Grupo Fleury e Hermes Pardini, e o investimento de R$ 200 milhões na startup de telemedicina Conexa.
Na área de educação médica, com a queda, teórica mas ainda com impedimento prático, da trava de criação de novas faculdades de Medicina no Brasil, grandes grupos educacionais e até mesmo hospitais estão se movimentando, alguns deles na instância judiciária, para a criação de novos cursos, ampliação de campus e aumento do número de vagas. A expectativa é que o número de médicos ativos no Brasil salte de 530 mil para 850 mil nos próximos oito anos. Esse cenário é preocupante, devido à necessidade de fiscalização da qualidade dos cursos, mas também gera expectativa na criação de soluções que melhorem a qualidade da educação médica e da saúde.
Dessa forma, cria-se, no Brasil, mais um cenário de oportunidades para as edtechs e healthechs, que têm como objetivos principais melhorar a qualidade dos serviços de saúde e educação, além de ampliar organicamente o acesso da população. A implantação da tecnologia 5G no Brasil, que ainda levará mais de dez anos para atingir 100% das cidades, oferece mais um estímulo para a criação de soluções que acessem áreas remotas, as quais passarão a ter cobertura de internet.
A inovação e a transformação digital na saúde acompanham a evolução dos próprios sistemas de saúde, com soluções que impactam diretamente o acesso e a qualidade dos serviços, diminuindo custos desnecessários. Com certos cuidados e apostando em experiências conjuntas, é possível unir definitivamente as áreas de educação e saúde com o que há de mais desenvolvido em tecnologia, garantindo retornos financeiros interessantes e democratizando a inovação.
*Rafael Kenji Hamada é médico e CEO da FHE Ventures
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