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Investimento em educação: reflexões sobre o contexto da América Latina

A educação está ganhando intersecção com outros setores, o que faz crescerem as oportunidades de investimento na área

Mudanças em curso na educação, aceleradas pela pandemia, vão perdurar (Germano Lüders/Exame)

Mudanças em curso na educação, aceleradas pela pandemia, vão perdurar (Germano Lüders/Exame)

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Da Redação

Publicado em 30 de abril de 2021 às 08h30.

Como o capital privado pode contribuir para ampliar o acesso à educação de qualidade ao longo da vida? Quais as principais oportunidades e os maiores desafios para quem quer investir no setor? Como garantir que os benefícios trazidos pelo desenvolvimento de novas tecnologias educacionais cheguem a todos, inclusive aos alunos mais vulneráveis?

Seguramente, essas são questões para as quais não existem respostas simples. Mas, justamente por isso, é preciso refletir detidamente sobre cada uma delas, trazendo para o debate pessoas com diferentes perspectivas.

Foi com esse espírito que aceitei o convite para participar, neste mês de abril, de um painel promovido pela Escola de Negócios da Universidade de Stanford, intitulado "Business + Education in LATAM: Private Equity and Venture Capital in Education" (Negócios + Educação na América Latina: capital privado e investimento de risco na educação).

O painel foi moderado por Federico Antoni, pioneiro no investimento de risco no México e co-fundador do Antoni Larrea Venture Partners, o primeiro fundo com foco em startups early-stage no país. Participaram também Martin Ferraro, Carlos Degas Filgueiras, Ximena Trespalacios e Daniel Uribe, todos alunos ou ex-alunos de negócios em Stanford e que hoje ocupam papéis de liderança em empreendedorismo e investimentos no setor de educação na LatAm. Eu me uni ao grupo como egressa da faculdade de Educação da mesma universidade e fundadora e CEO de uma edtech, a Education Journey.

O principal consenso entre nós foi de que as mudanças atualmente em curso na educação aceleradas em grande parte pela pandemia vão continuar. A presença da tecnologia será cada vez maior no cotidiano educacional, e a tendência é seguirmos para um modelo híbrido de ensino.

A velocidade e a qualidade da reação dos agentes do setor às dificuldades impostas pela pandemia, porém, trouxe à tona algumas visões mais pessimistas e outras mais otimistas.

Ximena, por exemplo, considerou que a adaptação à aprendizagem online no Peru e no México ocorreu de forma rápida e bem sucedida. Seu ponto de vista foi complementado por Martin, que lembrou que os professores normalmente eram vistos como barreiras para a inovação no setor, mas estavam reagindo de forma positiva às novas ferramentas introduzidas pela impossibilidade de seguir com aulas presenciais.

Apesar de concordar com essa percepção, ponderei que a adaptação completa ao ensino online não aconteceu no Brasil, principalmente por conta das imensas desigualdades de nosso país. De acordo com o Todos pela Educação, 95% dos estados brasileiros estão oferecendo aulas online, mas apenas 45% deles disponibilizam pacotes de dados para os estudantes. Além disso, a pesquisa TIC Domicílios mostra que 58% da população do país acessa a internet exclusivamente por celulares, o que dificulta muito essa aprendizagem remota.

Outra discussão interessante girou em torno da problemática qualidade versus acesso à educação no continente. Em muitos países, como no Brasil, a educação pública está disponível para todos. Esta, porém, no geral tem baixa qualidade, principalmente na etapa do Ensino Básico. Por outro lado, escolas privadas entregam altíssima qualidade a um elevado custo mensal, consequentemente com o acesso muito limitado.

Neste tópico, achei importante a perspectiva levantada por colegas de que existe muito espaço na América Latina para investimentos em escolas privadas de alta qualidade, mas com menores preços. Porém, como alertou o investidor brasileiro Carlos Degas, é difícil encontrar o equilíbrio nessa equação. Com experiência no ensino superior, ele destacou que diversas universidades privadas do Brasil tentaram aumentar ao máximo o acesso e acabaram tendo prejuízos na qualidade da formação.

Eu acredito que, ao olharmos para o universo das edtechs, podemos obter o melhor dos dois lados, democratizando o acesso e elevando a qualidade do ensino. Isso pode ser viabilizado com o uso de tecnologias de ponta e inteligência artificial, que têm alta precisão e são escaláveis a baixo custo. No Brasil, as edtechs Passei Direto e Descomplica fazem isso muito bem, levando ferramentas e conteúdos de qualidade para os celulares e computadores de milhões de alunos, e a Letrus e a AIO, que se utilizam de inteligência artificial para guiar, de forma escalável, os estudantes em sua jornada.

Por fim, encerramos o painel com visões positivas. Ximena enxerga uma grande possibilidade de investimento em tecnologias que ajudem a desenvolver as habilidades socioemocionais, tema que ganha cada vez mais importância no mundo atual. Já Martin destacou o crescimento acelerado na educação corporativa.

De forma geral, há um reconhecimento de que os governos estão percebendo a necessidade de facilitar a inovação na educação. Além disso, a educação está ganhando intersecção com outros setores e isso aumenta as oportunidades de investimento. Conforme disse Daniel, existe um aumento na qualidade do capital entrando no setor educacional. De minha parte, saí do debate com a crença renovada na importância de se ter um agente como a Education Journey para organizar e facilitar a adoção das melhores ferramentas para cada etapa do aprendizado, contribuindo assim para a ampliação do acesso à educação de qualidade para todos.

*Iona Szkurnik é fundadora da Education Journey, plataforma focada em desenvolver o ecossistema de inovação na educação, e presidente do Conselho da Brazil at Silicon Valley

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