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Intercâmbio geracional: vamos mudar o mindset?

“Alterar a forma de pensar, comunicar e de agir é o primeiro passo no sentido de evoluir na busca de sinergias”, afirma Mauro Wainstock

Devemos falar de conflitos ou de harmonia geracional? (Djelics/Getty Images)

Devemos falar de conflitos ou de harmonia geracional? (Djelics/Getty Images)

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Publicado em 4 de março de 2024 às 13h00.

Por Mauro Wainstock*

Diariamente me perguntam se nas minhas palestras sobre diversidade etária abordo o tema “conflitos geracionais”. A minha resposta é enfática: não! Vou explicar.

Se queremos mudar o mindset da sociedade e, particularmente do mundo corporativo, não devemos mencionar terminologias negativas. Falar de conflito é reforçar as divergências e as dificuldades.

Por outro lado, quando utilizo “harmonia” geracional ou “integração das mais variadas idades” trago um enfoque direcionado à solução de eventuais desafios.

Alterar a forma de pensar, de nos comunicar e de agir é o primeiro passo no sentido de evoluir na busca de sinergias – e não de controvérsias. Parece óbvio. E é mesmo. Mas, no dia a dia, esta conscientização raramente ocorre.

Por outro lado, antes de atuarmos no mundo corporativo, devemos olhar para dentro da nossa família: várias faixas etárias, interesses, histórias, diversidades, vivências, posturas e pensamentos convivem de forma natural, muitas vezes com discordâncias, mas sempre em busca do consenso – com respeito. Se o destino é o mesmo, mas os caminhos são variados, argumentos coerentes são a melhor rota. O atalho é válido ou a trajetória mais longa é a ideal? Elencar as vantagens e pontos negativos de ambas as opções é sempre a alternativa mais adequada, independente da vaidade de quem sugeriu.

Pensamento analítico, espírito colaborativo, inteligência emocional, capacidade de resolver problemas complexos e o poder de negociação fazem parte deste processo e, não por acaso, são características destacadas pelo Fórum Econômico Mundial. Mas estes comportamentos devem se estender para além do trabalho.

Exercitar essas habilidades no dia a dia requer a vontade genuína de sair da zona de conforto, a forte disposição para demonstrar empatia e a motivação real para progredir constantemente.

Vamos praticar?

Você não me pediu, mas vou dar uma sugestão: participe de “Hackatons”, de preferência presencialmente. Em 2024 haverá vários direcionados para o público 50+! Eles permitem usar a criatividade de forma objetiva, ampliar relacionamentos com profissionais diversos e multidisciplinares, aprimorar o poder de comunicação e de argumentação, aprender novos conceitos e tecnologias, aplicar conhecimentos técnicos de forma eficiente, desenvolver soft skills e, claro, aumentar a autoconfiança.

Eventos como este são animados, interessantes, possibilitam a integração geracional na veia e a valiosa troca de experiências.

Participe de programas de intercâmbio  

Recentemente tive a oportunidade de estar em Nova York durante algumas semanas me conectando com pessoas das mais diferentes idades e países, ouvindo idiomas diversos e estabelecendo contatos incríveis, que possibilitaram construir amizades internacionais.

Foi uma combinação de estudo, entretenimento, cultura e turismo, seja através de atividades como oficina de leitura em um café nova-iorquino, seja debatendo assuntos como preconceito e discriminação em rodas de conversa ou indo a passeios de networking em locais relevantes da cidade. A diversidade linguística, de crenças, costumes e valores, muito intensa em 800 estudantes dentro do campus, e fora dele, propiciou uma riqueza inestimável de conexões. Isto sem falar do encontro com a neve, algo raro no Brasil.

Foi fascinante perceber que, aos 55 anos, eu não era o mais velho. A EF Education First criou uma trilha para 50+, que interagiam em atividades exclusivas e, em outros momentos, conviviam com o restante dos alunos. Uma sacada genial! Para você ter uma ideia, apenas o meu grupo 50+ era formado por suíços, belgas, franceses, mexicanos, argentinos e chilenos. Isto sem contar uma professora chinesa e outra russa. Deu para imaginar?

USP 60+

Uma terceira dica é o “USP 60+”, um programa de extensão da Universidade de São Paulo que oferece cursos e atividades gratuitas para alunos com mais de 60 anos. São 8 mil por ano! O objetivo da iniciativa é contribuir com a saúde física e mental dos participantes, além da socialização.

Prestes a completar 94 anos, Neuza Guerreiro Carvalho se aposentou após 30 anos como professora de Biologia e decidiu se dedicar a tudo o que nunca tinha estudado até então: buscou o USP 60+ e realizou mais de 50 formações. Tornou-se professora do curso “Resgate de Memórias Autobiográficas”, que será ministrado este ano. Ela diz: O programa é ótimo para manter a cabeça ativa. Eu não tenho nem tempo de fazer tudo o que tenho vontade”.

Claro que ela não consegue... são mais de 200 opções, como excursões, palestras e aulas de ginástica, além de encontros sobre os mais variados temas.

O médico Egidio Dorea, coordenador do programa, explica: “A ideia é fornecer oportunidades para o aprendizado ao longo da vida, um dos pilares do envelhecimento ativo”. Sensacional!

A professora da Escola de Artes, Ciências e Humanidades, Beatriz Aparecida Ozello Gutierre, acrescenta: “Há uma rica troca entre os idosos e os jovens dentro e fora da sala de aula. Eles saem juntos, vão a restaurantes e fazem comemorações. Percebemos que muitos chegam com sintomas de depressão e ansiedade e, com o tempo, o convívio faz com que reduzam medicamentos. A partir do momento em que ajudamos o idoso a se valorizar mais e a usar sua autonomia, eles se sentem melhor”.

Portanto, a integração e a harmonia geracional devem estar presentes no nosso cotidiano de maneira leve, agregadora e servir de inspiração para que o ambiente corporativo seja de fato salutar, agradável e inclusivo.

Faça acontecer agora!

*Mauro Wainstock foi nomeado Linkedin TOP VOICE, é mentor de executivos, conselheiro de empresas, palestrante sobre diversidade etária/integração geracional e sócio-fundador da consultoria HUB 40+.

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