Edtechs representam o maior segmento de startups no Brasil, com mais de 500 empresas. (Divulgação/Divulgação)
Bússola
Publicado em 28 de abril de 2022 às 20h30.
Por Gabriela Bonotti*
Para falar sobre educação no Brasil, precisamos entender e enxergar o grande abismo existente na formação escolar, principalmente quando falamos do ensino nas escolas públicas. Um estudo da Todos pela Educação mostra que 40% das crianças brasileiras de 6 a 7 anos não sabiam ler ou escrever em 2021.
A pandemia agravou ainda mais esse cenário: com o fechamento das escolas, aulas online e outros fatores sociais — como os jovens precisando trabalhar para complementar a renda das famílias por conta da alta do desemprego —, o risco de abandono escolar triplicou e o índice de aprendizado caiu 72,2%, segundo estudo realizado pelo BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento) na rede estadual de ensino de São Paulo.
Esses dados refletem a realidade do Estado com maior índice de desenvolvimento econômico do país. Quando falamos de outras regiões, um estudo da Unicef mostra que 5,5 milhões de crianças e adolescentes não tiveram acesso à educação em 2020. Desse número, 69% são pretas e indígenas, e 46% vivem no Norte e Nordeste.
Diante de um problema tão complexo, como podemos implementar soluções que consigam sanar os abismos sociais e, ao mesmo tempo, sejam escaláveis e eficientes?
Com o Marco Legal das Startups sancionado em junho do ano passado, o país deu um salto gigantesco nas possibilidades de implementar inovação aberta no setor público para solucionar questões sociais e ambientais, como é o caso da educação.
As Edtechs representam o maior segmento de startups no Brasil, com mais de 500 empresas, segundo a Abstartups (Associação Brasileira de Startups). Grande parte delas possuem soluções prontas para apoiar na redução das defasagens de aprendizagem e no avanço do ensino público brasileiro.
Foi a partir dos desafios da Educação e das possibilidades abertas com o Marco Legal, que o Quintessa, ao lado de parceiros como Fundação Lemann, Imaginable Futures, BID Lab e Instituto Reúna, deram vida ao programa Impulsionar. O objetivo é conectar edtechs diretamente às escolas públicas, preparando os professores para receberem as tecnologias e respaldados por um modelo pedagógico que orienta todas as ações.
As secretarias de educação em Bonito (PE), Cabrobó (PE), Domingos Mourão (PI), Guaramiranga (CE), Igarassu (PE), Santa Maria (RS) e Volta Redonda (RJ) foram selecionadas para o projeto que marcou o primeiro caso de uso do Marco Legal das Startups na educação.
Por meio de editais públicos, foram selecionadas quatro edtechs que, nos próximos oito meses, atuarão junto às secretarias dessas cidades visando resolver desafios de gestão, avaliação e de defasagem em língua portuguesa e matemática de estudantes do ensino fundamental. Cada uma delas receberá R$ 100 mil para implementar pilotos das soluções nas escolas e receberão apoio estratégico e operacional.
O programa foca na dor de entrar, implementar e escalar soluções educacionais dentro do setor público. A estimativa é que dez mil alunos e 245 professores de português e matemática sejam impactados pelo programa neste primeiro piloto, que se der certo, além de perenizar nessas sete redes municipais, se tornam vitrines e referências para outras redes municipais.
Em um momento em que a agenda ESG se tornou pauta essencial para a recuperação do país no cenário pós-pandemia, o tripé educação, inovação e setor público pode ser um alicerce firme para mudanças positivas e ágeis perante desafios complexos.
Se o país continuar evoluindo em iniciativas como o Marco Legal das Startups, que promovem inovação aberta e conexão com as lideranças políticas, poderemos ter uma transformação positiva em escala e começaremos a ver, finalmente, mudanças significativas nos indicadores sociais dos nossos velhos desafios, como o da educação.
*Gabriela Bonotti é sócia-diretora do Quintessa
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