Indústria, grande geradora de empregos: 20,4% das vagas de trabalho e 19,7% da massa salarial devem-se ao setor (Agência/Getty Images)
Poucas vezes a velha máxima foi tão verdadeira: uma economia forte precisa, necessariamente, de uma indústria forte. A pandemia do coronavírus não só trouxe imensos desafios para o Brasil como também realçou o papel vital do setor industrial. É ele que gera os empregos indispensáveis para a retomada — mas não apenas isso. Como ofertante e demandante de tecnologias, a indústria desempenha papel estratégico na dinamização de todo o setor produtivo, além de ser a principal geradora de inovação para os demais segmentos da economia.
É graças sobretudo à indústria que um país se torna mais rico e desenvolvido, e é ela que lidera as grandes nações nos períodos de dificuldades. “Há uma evidente necessidade de reindustrialização e aumento da capacidade industrial do país”, diz Robson Braga de Andrade, presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI). “Nós percebemos durante a pandemia a capacidade da indústria brasileira de inovar, assimilar tecnologias e desenvolver produtos. Nunca ela foi tão vital.”
Os números reforçam a relevância da indústria para a economia brasileira. Em 2019, segundo dados do IBGE e do Ministério da Economia, o setor respondeu por 21,4% do PIB nacional. Sua vocação para gerar crescimento é irrefutável. A cada R$ 1,00 produzido na indústria, são gerados R$ 2,40 para a economia brasileira. Nenhum outro setor é tão eficiente nesse aspecto. Na agricultura, o valor convertido equivale a R$ 1,66. No segmento de comércio e serviços, a R$ 1,49.
Não é só. De acordo com os mais recentes dados disponíveis, a indústria representa 70,1% das exportações brasileiras de bens e serviços, 69,2% do investimento empresarial em pesquisa e desenvolvimento, 33% da arrecadação de tributos federais (exceto receitais previdenciárias) e 31,2% da arrecadação previdenciária patronal. A indústria, portanto, produz riqueza e cria valor para a sociedade por meio de diversos mecanismos, na forma de investimentos, fabricação de bens e contribuições tributárias para as diversas esferas públicas.
O setor industrial é, acima de tudo, o maior gerador de empregos do Brasil. Atualmente, 20,4% das vagas de trabalho e 19,7% da massa salarial devem-se a ele. Tem também o mérito de pagar os melhores salários, uma qualidade ainda mais significativa em um país com renda per capita muito baixa. Aproximadamente 9,7 milhões de brasileiros dependem de um emprego industrial para sobreviver.
Entre os trabalhadores da indústria que têm ensino superior completo, o salário médio é de R$ 7.756. Para efeito de comparação, a média brasileira, considerando a mesma faixa educacional, é de R$ 5.887. Se o recorte considerar o salário dos trabalhadores com ensino médio completo, a diferença persiste. Na indústria, eles recebem em média R$ 2.434. Nas outras atividades, R$ 2.128. “Não faltam motivos para que o setor industrial seja valorizado”, diz Fernando Pimentel, presidente executivo da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). “Sob diversos aspectos, ela é o motor do desenvolvimento do país.”
É de se lamentar, portanto, a diminuição do tamanho da indústria no PIB brasileiro, ocorrida nos últimos anos. Em uma década, a participação do setor na riqueza nacional caiu de 25,6% para 21,4%. Na China, uma das nações mais inovadoras do mundo, o índice atual é de 39%. Na Coreia do Sul, que tem os níveis de qualidade de educação mais altos do mundo, de 33%.
Até alguns países emergentes com características parecidas com as brasileiras estão à frente. No México, a indústria responde por 30,1% do PIB. Na Rússia, por 32,2%. Atualmente, a indústria brasileira é a 16ª do mundo após figurar entre as dez maiores até 2014. Pior: o setor vem perdendo força. A participação do Brasil na produção industrial caiu de 1,24% em 2018 para 1,19% em 2019, atingindo o piso da série história iniciada em 1990.
Os dados evidenciam que, com a recessão econômica brasileira entre 2014 e 2016, o ritmo de perda de relevância do país no mundo se intensificou. Em 2014, o Brasil era o décimo maior produtor industrial do planeta, mas acabaria perdendo posições no decorrer dos anos. Entre 2015 e 2017, a indústria brasileira foi superada pelas indústrias do México, Indonésia, Rússia e Taiwan, caindo para a 14a posição global. Em 2018, a Turquia ultrapassou o Brasil. Em 2019, o país foi superado pelos espanhóis nessa área.
O que explica o movimento? De acordo com alguns especialistas, um dos principais motivos é o desenho inadequado de políticas públicas que não assimilaram as transformações ocorridas na economia global nas últimas décadas. Este fator, segundo os estudiosos do tema, contribuiu significativamente para a desindustrialização nacional. Nos países bem-sucedidos, foi priorizada a fabricação de produtos com alto valor agregado, ao mesmo tempo que se preservaram as atividades industriais mais sofisticadas.
Estudos da CNI demonstram, entretanto, que é possível recuperar parte do terreno perdido, desde que sejam realizadas reformas estruturantes, sobretudo a Tributária, entre outras medidas, como o aumento de investimentos em pesquisa e inovação. Em um desses estudos, denominado “Critérios Para uma Nova Agenda de Política Industrial”, a entidade defende que o aumento da produtividade é fator determinante para o setor voltar a ocupar o espaço que merece.
A importância de uma política industrial decorre do fato de que os ganhos de produtividade obtidos com a introdução de novas tecnologias se traduzem em maior renda e lucro para as empresas, além de empregos mais qualificados que, naturalmente, proporcionam maior remuneração.
Em outras palavras: no longo prazo, o crescimento sustentado depende de inovações indutoras de mudanças estruturais no setor produtivo. Além disso, é preciso considerar que uma política industrial consistente melhora a competitividade de toda a economia brasileira, inserindo o país em um cada vez mais desafiador mercado global.
Uma das frentes de trabalho da CNI é, exatamente, a elaboração de propostas, apresentadas aos governos e ao setor privado, que viabilizem um aumento da inserção das empresas brasileiras no exterior. A quinta edição da Agenda Internacional da Indústria, lançada em março de 2020, lista 109 ações indispensáveis para atingir este objetivo, distribuídas em quatro eixos de atuação: a defesa de interesses de políticas comerciais, a criação de serviços de apoio à internacionalização, o foco em mercados estratégicos e a cooperação internacional.
Na visão da CNI, iniciativas como essas ajudarão o país a reverter a perda de espaço no cenário global, permitindo que as empresas brasileiras concorram em condições de igualdade com concorrentes estrangeiros. “Precisamos criar as condições para o desenvolvimento sustentável do setor”, afirma Robson Braga de Andrade, presidente da CNI. “Para o bem do Brasil, a indústria precisa voltar a crescer”, acrescenta.