Fuga de cérebros e capitais do Brasil está evidente (PM Images/Getty Images)
Bússola
Publicado em 31 de maio de 2022 às 17h00.
Última atualização em 31 de maio de 2022 às 17h08.
Por Hugo Tadeu*
Muitos executivos brasileiros têm vinculado a agenda da inovação ao ambiente da geração de ideias, startups e ao potencial das tecnologias de ruptura. Neste sentido, existe um sentimento relacionado ao contexto radical das mudanças, uma percepção do medo pelo novo e falta de preparação para o que supostamente vem por aí.
No entanto, é urgente resgatar o entendimento correto da inovação. Como ponto de partida, a inovação exige tempo e muita disciplina, ao contrário do que acontece com a ideia do gênio da lâmpada mágica. Grande parte das tecnologias adotadas no nosso dia a dia advém de anos de pesquisas em universidades de ponta, com produção de conhecimento aplicado e ampla conexão com o mercado produtivo. Por exemplo, analisar as inúmeras iniciativas de conexão entre problemas reais e pesquisas aplicadas das universidades americanas e israelenses, seria um bom caminho.
Estudando o contexto brasileiro, percebe-se que os mecanismos de incentivo para inovação demandam mudanças estruturais importantes. Ao pensar na geração de conhecimento nas universidades, tem-se um cenário extremamente focado em pesquisas e instrumentos de avaliação centrados em artigos e indicadores de pontuação pautados em uma lógica brasileira. Ou seja, produzimos muitos trabalhos acadêmicos, mas com pouca aplicação prática. Além disso, sugere-se um distanciamento entre pesquisadores e empresas, o que reduz consideravelmente a capacidade para solucionar demandas concretas de negócio. Os nossos melhores pesquisadores, inclusive, preferem a lógica do concurso público.
Quando o assunto são os investimentos públicos em inovação, o buraco ainda é mais profundo. Ao longo dos últimos anos, as inúmeras reduções de recursos públicos para a manutenção de bolsas de iniciação científica, mestrado e doutorado tem sido algo frequente, comprometendo a formação de inúmeros pesquisadores. Este fenômeno tem estimulado a fuga dos bons pesquisadores brasileiros para universidades de ponta em outros países, minimizando ainda mais o nosso futuro pela inovação.
Do lado das empresas, quando o assunto é o investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D), tem-se uma crescente concentração das melhores equipes nas suas matrizes com endereço no exterior. Ou seja, as melhores ideias, equipes e investimentos estão com passagem comprada, em especial, em áreas como ciência da computação, saúde e até mesmo em O&G.
Finalmente, a nossa formação de mão de obra qualificada para inovação demanda atenção, pois além da pesquisa básica e aplicada, sugere-se a busca por profissionais com entendimento dos mecanismos da gestão da inovação, conhecimento do ecossistema, novas tecnologias e de modelos de avaliação econômico-financeiro de projetos. De uma forma geral, o cenário é muito desafiador e para tanto, já passou da hora de um plano nacional para inovação, integrando toda a sua cadeia de valor e com visão de longo prazo. Do contrário, a nossa geração de riqueza continuará centrada em grandes bancos e empresas do setor de mineração.
*Hugo Tadeu é diretor do Núcleo de Inovação e Empreendedorismo da FDC e sênior edvisor da Deloitte
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