(Weekend Images Inc./Getty Images)
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Publicado em 14 de novembro de 2024 às 10h00.
*Gilson Faust, diretor e consultor sênior da GoNext
A governança corporativa é um pilar essencial para o desenvolvimento sustentável de empresas e economias, estabelecendo práticas que garantem ética, transparência e responsabilidade na condução dos negócios. Em países como Estados Unidos, Alemanha e Japão, a governança evoluiu de forma contínua, integrando-se à cultura empresarial e orientando as companhias a valorizarem não apenas os acionistas, mas todos os stakeholders, incluindo colaboradores, parceiros e a sociedade em geral. No Brasil, embora avanços significativos tenham ocorrido, ainda há uma jornada a ser percorrida para que as práticas de governança alcancem a maturidade observada em outros países.
Um dos principais desafios da governança local, especialmente em empresas familiares, é a descentralização do poder de decisão e a implementação de conselhos com integrantes que tenham perfis técnicos, que não dependam exclusivamente da participação direta dos fundadores ou familiares. Esse modelo centralizado contrasta com economias maduras, onde o poder é mais distribuído, permitindo que conselhos de administração independentes e atuantes promovam maior transparência e responsabilidade. Nos Estados Unidos, por exemplo, a Lei Sarbanes-Oxley, criada após grandes escândalos corporativos, impôs rigorosas exigências de auditoria e controle, transformando o ambiente corporativo com práticas focadas em transparência e conformidade.
Na Alemanha, o modelo de co-determinação requer que empresas com mais de 2.000 empregados possuam um conselho de supervisão com representação dos funcionários, que geralmente ocupam 50% dos assentos, junto com os acionistas. Neste tipo de estrutura, a governança colaborativa e balanceada busca não apenas o lucro, mas também a estabilidade e o bem-estar coletivo. Já no Japão, práticas de governança são baseadas em valores de lealdade e responsabilidade social, com estruturas como o keiretsu – um sistema de empresas interligadas que se apoiam mutuamente para garantir a longo prazo.
No Brasil, embora as empresas listadas sejam obrigadas a ter conselhos de administração, estes conselhos muitas vezes carecem de autonomia devido aos vínculos com acionistas majoritários, comprometendo a transparência e a independência necessárias para uma governança sólida. Em economias avançadas, conselhos independentes atuam como bússolas, orientando as empresas para manterem o curso certo, criando um ambiente corporativo seguro e atrativo para investidores. Essa prática não deve se limitar às empresas listadas, pois a adoção de conselhos em diversas estruturas empresariais também traz transparência, equidade e ética, corrigindo distorções internas e fortalecendo a confiança dos stakeholders para um desenvolvimento sustentável.
Muitos jovens empresários já perceberam a importância desse movimento. Para ilustrar, uma pesquisa da PWC Next Gen 2022 revelou que 67% dos empresários brasileiros da nova geração afirmam que suas empresas familiares têm um plano de sucessão em vigor, superando a média global de 61%. Esse dado mostra que, apesar das lacunas, as empresas brasileiras estão à frente nesse aspecto. Assim como uma empresa que investe em tecnologia e inovação para enfrentar os desafios do mercado moderno, a governança corporativa que prioriza sucessão e diversidade se prepara para um crescimento mais consciente.
Especialistas como Shann Turnbull e Adrian Cadbury ajudaram a moldar o conceito de governança corporativa como é conhecido hoje. Ambos destacam que, embora cada país precise adaptar suas práticas ao contexto local, certos princípios, como transparência e responsabilidade, são universais. Cadbury aponta que a governança vai além da conformidade formal, sendo fundamental para proteger o capital humano e social das empresas. Turnbull defende um modelo descentralizado e participativo, com conselhos verdadeiramente independentes, como chave para uma supervisão ética e constante.
Alcançar padrões semelhantes aos de países desenvolvidos exige, portanto, que a governança local vá além do cumprimento básico de normas, incorporando uma visão ética e transparente focada na criação de valor sustentável. Isso inclui conselhos mais independentes e diversificados, práticas claras e o engajamento dos stakeholders. Esses passos são fundamentais para estabelecer uma governança corporativa que promova confiança e solidez, beneficiando tanto as empresas quanto a economia.
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