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Gestão Sustentável: sigla ESG pode ficar no passado, mas tese continua a pautar o futuro

Talvez deixemos de escrever a sigla, mas o seu conteúdo é mais necessário do que nunca

Antes de afirmar que o ESG “ficou para trás” ou “morreu”, convém lembrar que a sigla não é uma coisa só, mas um conjunto de ferramentas (Khaosai Wongnatthakan/Getty Images)

Antes de afirmar que o ESG “ficou para trás” ou “morreu”, convém lembrar que a sigla não é uma coisa só, mas um conjunto de ferramentas (Khaosai Wongnatthakan/Getty Images)

Danilo Maeda
Danilo Maeda

Head da Beon - Colunista Bússola

Publicado em 24 de julho de 2024 às 07h00.

Nas últimas semanas, o noticiário “anti-ESG” foi novamente aquecido, com apontamentos indicando que parcela relevante do mercado financeiro, em especial nos EUA, apresenta objeções mais contundentes à agenda. O movimento é resultado de uma série de fatores: manipulação política do debate, casos de greenwashing, entendimentos equivocados do mercado no tema e imaturidade das próprias ferramentas de aplicação e avaliação de práticas ESG.

Trata-se de um momento interessante para os investimentos sustentáveis e responsáveis. É inegável que o movimento anti-esg  ganha força ao menos desde o ano passado. Por outro lado, regulações pró ESG tem avançado, no Brasil e em outros mercados - destacadamente na Europa. No aspecto que mais importa para o mercado, apesar de alguns casos de insucesso, a performance dos investimentos sustentáveis continua superior no médio/longo prazo, especialmente em períodos de crise e maior volatilidade.

De qualquer forma, manchetes e tweets sensacionalistas podem levar a conclusões equivocadas, ainda mais considerando o baixo grau de atenção e capacidade crítica de nossa sociedade - que inclusive faz o tema das informações falsas e desinformação serem o principal risco global mapeado pelo Fórum Econômico Mundial. 

Antes de afirmar que o ESG “ficou para trás” ou “morreu”, convém lembrar que a sigla não é uma coisa só, mas um conjunto de ferramentas em constante atualização que buscam elevar a capacidade de organizações entregarem valor no longo prazo em cenários (ou ecossistemas) em profunda transformação e repletos de riscos ambientais, sociais, econômicos e de governança.

Ao aplicar estas ferramentas de acordo com os principais riscos e impactos de cada negócio, é esperado que as empresas aumentem a sua resiliência – que aliás é o termo que vem sendo usado pela BlackRock em substituição ao ESG, numa aparente tentativa de escapar das críticas ideológicas feitas ao tema nos EUA e retomar o ponto central da tese: práticas de sustentabilidade corporativa são relevantes porque mitigam riscos que em primeiro momento seriam classificados como não financeiros, mas que podem impactar os negócios no médio ou longo prazo.

O tema não é novo. Neste espaço, temos tratado deste movimento contrário às práticas ESG há pelo menos um ano, em mais de cinco artigos diferentes. A conclusão se mantém: conforme o mercado compreende os mecanismos pelos quais estratégias de sustentabilidade adicionam valor e protegem ativos, é esperado que investidores integrem esses aspectos em seus mecanismos de avaliação, em um processo que tende a tornar a agenda parte do “pacote básico” do mercado financeiro. Sou otimista para apostar que em alguns anos deveremos chegar a esse futuro com “ESG em todo lugar”, tão comum que sequer pensaremos na sigla, mas sim nos componentes que ela traz para gestão de riscos. 

Talvez deixemos de escrever a sigla, mas o seu conteúdo é mais necessário do que nunca.

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