(andreswd/Getty Images)
Head da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 5 de junho de 2024 às 17h00.
Segundo a ONU, enfrentamos atualmente “uma preocupante intensificação da tripla crise planetária: a crise das mudanças climáticas, a crise da natureza e da perda de biodiversidade e a crise da poluição e dos resíduos”. São processos de impactos cumulativos que podem parecer longos para o olhar imediatista de quem pensa o mundo em trimestres, mas que na lógica dos ciclos naturais são incrivelmente acelerados e de escala literalmente planetária.
Nas mudanças climáticas, a recente catástrofe no Rio Grande do Sul parece ter aumentado a consciência de que seus efeitos não são previsões para o futuro, mas impactos concretos e graves que devem se tornar mais frequentes e graves conforme a geopolítica global falha em endereçar o assunto de maneira mais contundente.
No mais, para quem ainda chama correlação de coincidência, um estudo da WWA (World Weather Attribution), organização internacional que estuda mudanças no clima, indicou que os eventos climáticos no Sul do Brasil se tornaram duas vezes mais prováveis por conta das mudanças climáticas provocadas pela humanidade.
Em biodiversidade, nossa forma de explorar recursos naturais e produzir bens e serviços gera desequilíbrios com consequências potencialmente irreversíveis e danosas para a própria sociedade e economia: pela primeira vez na história da vida na Terra, um evento de extinção em massa de espécies é provocado por um conjunto de seres vivos.
No tema dos resíduos, a poluição dos oceanos e as montanhas de lixo nos desertos dão perspectiva ao tamanho do impacto. Todas as três crises têm consequências graves para a vida no planeta e para a sociedade. Estima-se que quase metade da população mundial e metade do PIB global estejam ameaçados pela degradação ambiental. As comunidades rurais, os pequenos agricultores e os extremamente pobres são os mais afetados.
Se a humanidade deixasse de existir como em filmes distópicos, a natureza poderia se recuperar sozinha, no tempo de seus próprios ciclos. Mas como pretendemos continuar por aqui, é urgente estabelecer políticas públicas (nos governos), estratégias empresariais (no setor privado) e projetos de impacto (na sociedade civil) que tenham a recuperação de áreas degradadas como objetivo. Sem a pretensão de regenerar a natureza, pois ela pode fazer isso sozinha, mas com o compromisso firme de ajudá-la sempre que possível. Além, é claro, de reduzir drástica e rapidamente os impactos negativos causados atualmente.
Não gosto de soar alarmista, mas neste caso não há como escapar: restauração e preservação ambiental são, juntamente com estratégias de adaptação, as únicas formas de reduzir o risco e o impacto de novas tragédias, que tendem a ser mais graves e frequentes.
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