“A estratégia de atender direitos humanos e promover bem estar vale a pena, pois reduz custos futuros com saúde, segurança e outras ações de compensação ou emergenciais” (Roberta Aline/Agência Brasil)
Head da Beon - Colunista Bússola
Publicado em 23 de abril de 2024 às 15h00.
Um dos grandes desafios da gestão sustentável é trazer o futuro para o tempo presente. Com alguma frequência, decisões que buscam gerar determinado impacto de forma imediata podem levar a resultados opostos ao desejado no longo prazo. O desafio é exatamente conciliar as necessidades atuais e futuras, como bem define o próprio conceito de desenvolvimento sustentável.
Esta semana, foi publicado um estudo feito por pesquisadores da UFBA (Universidade Federal da Bahia) e do Instituto de Saúde Global de Barcelona que demonstra bem essa relação.
Os resultados foram publicados pelo periódico JAMA Network Open, periódico da Associação Médica Americana e dão conta de que os programas Bolsa Família, BPC (Benefício de Prestação Continuada) e a ESF (Estratégia de Saúde da Família) evitaram a morte de mais de 1,4 milhão de brasileiros nas últimas duas décadas — entre 2004 e 2019.
A pesquisa considerou 2.548 municípios e descobriu que aqueles com maior cobertura do Bolsa Família tiveram redução da mortalidade geral em 5,1% e da mortalidade de crianças menores de 5 anos em 12,9%, graças a melhorias nas condições de saúde de mães e crianças. No caso do BPC, a cobertura maior foi associada a uma redução de 8,5% na taxa geral de óbitos, 16% na mortalidade de crianças e 7,7% na de idosos acima de 70 anos, além da segurança financeira e alimentar fornecida às famílias beneficiárias. Por fim, cidades com maior presença da Estratégia de Saúde da Família tiveram diminuição de 6,8% nas mortes gerais, 9,7% da mortalidade de crianças, e 6,7% nos idosos.
Os programas em questão focam em diferentes aspectos da seguridade social – assistência (Bolsa Família), previdência (BPC) e saúde (ESF) – e se complementam em uma lógica de defesa de direitos e promoção do bem estar, com vidas preservadas ao longo do caminho.
Esse argumento deveria ser suficiente para a manutenção e melhoria contínua dos programas, mas a conta precisa ser paga. A boa notícia é que investir em seguridade social vale a pena. A má é que o retorno tende a acontecer no longo prazo. Como o pesquisador Temidayo Aransiola explicou à Folha de S.Paulo, "as medidas de austeridade em relação à saúde e assistência social podem ter um efeito contrário a longo prazo, porque você economiza agora, mas depois, os gastos com o sistema de saúde podem acabar sendo maiores".
Por um lado, é impossível atribuir valor financeiro à vida, mesmo que sua preservação com qualidade seja o grande objetivo das políticas públicas. Por sua vez, estas dependem de recursos financeiros para serem estabelecidas e é preciso considerar a sustentabilidade econômica de tais políticas. Neste sentido, a estratégia de atender direitos humanos e promover bem estar vale a pena, pois reduz custos futuros com saúde, segurança e outras ações de compensação ou emergenciais. Uma lição da ciência para as políticas públicas que vale também para a gestão empresarial.
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